Os incidentes com cães não são incomuns no país. Na última semana, em São Paulo, ao menos 3 ataques foram registrados envolvendo cães da raça pitbull; duas crianças, de 11 e 12 anos, foram atacadas enquanto brincavam em um parquinho (terça 12), um pedreiro foi atacado na casa onde trabalhava em Ribeirão Pires e morreu no local (quinta-feira 14) e uma menina de 5 anos ficou gravemente ferida em um ataque na Zona Norte (sábado 18). Dados do Ministério da Saúde somam cerca de 30 mil atendimentos por ano em unidades de saúde relacionados a mordidas de cães, que causam lacerações e cortes profundos, contusões e, em casos extremos, amputações com danos a músculos e ossos.
De acordo com o DATASUS, em 2022, foram contabilizados 35.290 atendimentos ambulatoriais envolvendo acidentes com cães. No ano seguinte, os números chegaram a 49.377 e, até agosto deste ano, somam 39.147 atendimentos. Já em 2022, as internações hospitalares por acidentes com cães, totalizaram 1.216 registros. Em 2023, alcançaram 1.438 e, até agosto deste ano, somam 960.
Um caso recente de grande repercussão exemplifica a dimensão da violência que pode conter uma ocorrência com cães. Em abril deste ano, a escritora Roseana Murray, de 73 anos, foi atacada por três animais da raça pitbull, enquanto caminhava na praia de Saquarema, no Rio de Janeiro. Arrastada por pelo menos 5 metros, ela teve o braço direito dilacerado, que passou por amputação, além de uma orelha arrancada. O braço esquerdo e o lábio precisaram ser reconstruídos.
“As mordidas de cachorro, seja de um animal de estimação ou um animal estranho, muitas vezes pode ter consequências terríveis para o indivíduo. Todo cachorro pode provocar lesões, mas, obviamente, quanto mais forte a mordida e quanto mais tempo o cachorro mantém a parte do corpo entre os dentes, os danos serão maiores”, fala o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM), Antonio Carlos da Costa. “Os cães pitbulls, além da força de mordida de aproximadamente 200 kgf (quilogramas-força), mantém o objeto, ou parte do corpo da vítima presa por tempo prolongado. As partes do corpo mais acometidas são as mãos, o antebraço, braço e pernas. Nas crianças, o rosto também é comumente acometido, já que ficam em altura mais acessível aos cachorros. Esse tipo de acidente vitimiza mais homens jovens”, acrescenta.
Nas mãos, os ferimentos mais comuns são as lacerações, lesões tendíneas, de nervos e fraturas. Pode, ainda, haver amputação. “A mão do homem é uma estrutura complexa que nos permite executar tarefas finas e com sensibilidade epicríticas, o que nos diferencia das outras espécies. Quando há lesões de nervos, de tendões, ligamentos e/ou fraturas, ocorre quebra da harmonia dos tecidos e, consequentemente, déficit funcional”, explica o especialista da SBCM. “A médio prazo, é comum haver infecção devido à inoculação de bactérias presentes na boca do animal nos tecidos mais profundos. Os imunossuprimidos e os pacientes com alteração na microcirculação (fumantes e diabéticos) apresentam maior probabilidade de ter infecção”, completa.
Em caso de acidentes do tipo, o médico ressalta que é importante procurar serviço especializado o mais rápido possível. “Nos acidentes de mão, procure um cirurgião da mão. No local, lave com água corrente e cubra com tecido limpo. Não coloque pomadas ou remédios caseiros. Em caso de amputação, lave a parte amputada com água corrente, envolva em tecido limpo e coloque em geladeira de isopor com gelo, evitando o contato direto de dedo com o gelo”, conclui, reforçando que a atuação rápida e adequada é essencial para minimizar os danos.