Importantes indústrias como a naval, construção civil, elevação e transporte pesado, em que os cabos de aço são fundamentais para a movimentação de carga, têm cada vez mais recorrido à inspeção eletromagnética para assegurar a longevidade dos equipamentos e a segurança do patrimônio e da vida humana.
Dos três tipos de inspeção existentes, a eletromagnética, em especial, é a mais precisa, pois é a única que faz uma avaliação profunda nos cabos de aço, externa e interna, determinando com exatidão sua vida útil, o que evita desperdícios e transtornos para o negócio, justificando seu custo mais elevado. A única exceção são os cabos finos que, por serem baratos, não compensa efetuar este tipo de vistoria e sim sua troca, a não ser que lidem com vidas humanas. Esta técnica também permite planejamento na manutenção e troca, afastando impactos negativos nas atividades. Ela é feita por profissionais qualificados por meio de aparelhos e hoje existem poucas empresas detentoras desse know-how no Brasil.
Inspeção interna e externa nos cabos de aço
As inspeções visuais e dimensionais, que são as outras duas formas de inspecionar os cabos, são exteriores, superficiais e não tão eficientes e completas, dando margem a imprecisões. Por outro lado, a inspeção eletromagnética é mais rigorosa por ser feita por um equipamento operado com imãs que gera um campo magnético no cabo de aço, mesmo em trechos de difícil acesso, que identifica qualquer tipo de defeito tanto na parte de fora como naqueles arames escondidos dentro dele que são chamados de alma.
Por exemplo, ao inspecionar os cabos de aço, esta técnica consegue localizar desgastes, corrosões, descontinuidades e outros defeitos que podem afetar a resistência e a durabilidade do material. Sua avaliação é minuciosa e não invasiva, ou seja, não necessita que desmonte os cabos, economizando tempo e recursos.
Indicada para grande movimentação de cargas
A capacidade de detectar anomalias externas e internas é valiosa em setores nos quais os cabos de aço são ostensivamente usados em operações de içamento. Por meio dessa técnica, é possível localizar pontos de falha nos cabos de qualquer equipamento em que estejam instalados, seja um guindaste, um descarregador de navios, um elevador, uma tirolesa ou um teleférico. Ela fornece informações sobre a condição do material, garantindo que defeitos potenciais sejam detectados antes de se agravarem e provocarem acidentes e danos.
Trata-se de uma técnica avançada reconhecida mundialmente, padronizada por normas e essencial para diversas indústrias como a naval. Isso porque os portos operam com uma enorme quantidade de equipamentos críticos, que são aqueles que apresentam riscos de acidente tanto às pessoas como aos ativos. Além disso, há multas elevadíssimas neste setor para atrasos no carregamento e descarregamento de navios, o que deixa as empresas mais atentas à eficiência da inspeção dos cabos de aço, pois, se falharem, causam grandes inconvenientes e prejuízos.
A movimentação portuária brasileira é imensa e justifica o investimento na inspeção eletromagnética. Ela alcançou 764,7 milhões de toneladas de cargas no acumulado dos sete primeiros meses do ano, representando um crescimento de 3,96% sobre o mesmo período de 2023, segundo levantamento do Estatístico Aquaviário da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Só em julho, o movimento foi de 118,96 milhões de toneladas de cargas, um aumento de 1,38% comparado ao mesmo mês do ano passado.
Normas para inspeção, manutenção e descarte de cabos de aço
Para garantir a segurança das operações com cabos de aço, é de praxe a inspeção respeitar duas normas ABNT essenciais: a NBR ISO 4309, que estabelece princípios de manutenção, inspeção (diária, periódica e especial) e descarte de cabos de aço e a NBR 16073, que indica requisitos mínimos à inspeção eletromagnética como a detecção de corrosão externa e interna, arames rompidos e variações na seção reta metálica dos cabos de aço.
Por ser rigorosa, esta técnica possibilita, por exemplo, uma manutenção preditiva e determina o ponto exato de troca, com o total aproveitamento da vida útil do cabo. Ao contrário da inspeção visual, de pouco alcance, que indica a substituição do cabo conforme seu histórico de uso, independentemente de seu estado de conservação, gerando custos e desperdícios. Apesar de ser de valor mais elevado que as outras, a inspeção eletromagnética proporciona um bom custo-benefício, pois faz uma vistoria precisa no cabo de aço em um tempo bastante rápido (em torno de 1 hora), salvaguardando o negócio e as pessoas.
Quando a inspeção eletromagnética não compensa
Se a inspeção eletromagnética parece ser uma unanimidade, há, porém, uma exceção a esta regra. Para os cabos finos, em torno de 6 ou 10 milímetros de diâmetro, por exemplo, não compensa efetuar este tipo de vistoria por conta do custo, optando-se normalmente pela troca. A não ser que este cabo fino transporte pessoas como é o caso da tirolesa e teleférico, em que, qualquer avaria pode resultar num acidente fatal, não sendo recomendado prescindir desta inspeção mais segura. Contudo, para outros cabos, acima de 13mm de diâmetro, por exemplo, como aqueles usados em certos guindastes, a inspeção eletromagnética proporciona economia por eles serem muito caros e qualquer substituição desnecessária resultar num enorme desembolso.
*Leandro Bieco, engenheiro civil e especialista em içamento de cargas pós graduado em máquinas e integridade estrutural da Acro Cabos