A Essência da Acessibilidade: a força de “Ir e Vir” na obra de Jary de Carvalho e Castro

VIAS DO INFINITO SER

sem a ordem do dia

do sobrenatural

não haveria

a natural ordem

das coisas da noite…

da noite para o dia

silentes instantes

tornam-se eternos…

do dia para a noite

palavras saltam muralhas

e viram estrelas…

instantes e estrelas

conhecem os refúgios do tempo

mas desentendem

a quietude das pedras

e a saga dos pássaros

translúcidos

do sétimo céu…

por via das dúvidas

há vias de certezas

que nos desafiam a percorrer

in/conscientemente

e em perfeita claridade

a via láctea e o infinito

do nosso ser…

(Rubenio Marcelo, VIAS DO INFINITO SER, 2017, p. 40)

À guisa do poema “Vias do Infinito Ser” do poeta, compositor, músico, crítico literário e secretário geral da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL), Rubenio Marcelo, com sua fidalga imersão nas dimensões do tempo e do ser, faz eco – com simbolismos assertivos – se concatenando à proposta de reflexão presente na obra “Ir e Vir” do engenheiro e escritor Jary de Carvalho e Castro. Ambos os textos, embora em performances diferentes, convidam o(a) leitor(a) a percorrer vias muitas vezes inexploradas – ora pela ética, ora pela civilidade e moralidade, ora pela essência humana –, e que desafiam as fronteiras do físico e do simbólico. No poema, a transição entre o dia e a noite, o passageiro e o eterno, abre portas para uma meditação sobre a fluidez da existência, da qual as vias do ser, ora claras, ora nebulosas, exigem a consciência do que nos limita e do que nos permite transcender. Nesse prisma da consciência para com o outro ser, em “Ir e Vir”, Jary de Carvalho e Castro se apropria da ideia de movimento pelo espaço-coerente e a transformação pela empatia, levando o(a) leitor(a) a refletir sobre as barreiras físicas e sociais que ainda impedem muitas pessoas de transitar livremente, tanto no espaço público quanto no cotidiano de suas vidas.

Ambos os textos propõem uma jornada de descobertas e desafios. Enquanto Rubenio Marcelo nos oferece uma visão poética das (in)certezas e do movimento interior que nos habita, Jary de Carvalho e Castro apresenta um olhar técnico e humano sobre a mobilidade e a acessibilidade. O caminho que o autor traça em sua obra se faz paralelo ao movimento cósmico e simbolista do poema, sugerindo que as barreiras enfrentadas no mundo físico podem ser superadas por uma consciência coletiva e mútua. Ao refletir sobre a acessibilidade, Jary convida todos(as) a percorrerem, conscientemente, essas vias de (in)certezas que, assim como no poema, nos desafiam a olhar para o outro e transformar o espaço que habitamos em um local de inclusão, dignidade e equidade.

Nesses meandros de conexão e expansão-temática, a criticidade sobre a obra “IR e VIR”, emerge como um marco cívico, literário e social de inestimável relevância para a sociedade brasileira, estendendo seus braços-literários e legais aos contornos da acessibilidade na contemporaneidade. O título, de uma simplicidade aparente, transcende a mera conjugação verbal e se apresenta como um grito de conscientização, que reverbera nas entrelinhas da legislação nacional, especialmente ancorado na Lei nº 10.098/2000, que consagra as normas gerais para a promoção da acessibilidade. Com essa obra, o autor se insere de maneira distinta no debate, propondo reflexões de profundidade singular, sustentadas não só em sua formação técnica, mas também em uma visão humanista que vislumbra a igualdade de direitos como condição sine qua non para a plena cidadania.

Ao lançar luz sobre a temática da acessibilidade, Jary de Carvalho e Castro se coloca e atua em uma posição de vanguarda. O autor não se limita a descrever a problemática das barreiras físicas, mas a torna um ponto de inflexão para o(a) leitor(a), levando-o(a) a refletir sobre os aspectos éticos, sociais e legais da questão. A escolha do título “IR e VIR” não é por acaso: ele é um convite ao movimento, à transição entre mundos que muitas vezes se encontram segregados por inacessibilidades diversas, mas também é um espelho das dificuldades que tantos enfrentam no cotidiano para simplesmente se locomover, seja no espaço público ou privado.

É importante salientar que a obra reflete de maneira assertiva o espírito da Lei nº 10.098/2000, que, em sua essência, visa garantir a acessibilidade das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, não apenas no campo físico, mas também no simbólico e no jurídico. Assim, ao abordar as questões de mobilidade urbana e os direitos dos cidadãos a um ambiente acessível, Jary proporciona uma contribuição vigorosa ao entendimento e à aplicação da lei, desafiando a sociedade a não apenas ler o que está a rigor da legislação, mas a vivê-la no dia a dia, por meio de práticas acessíveis e inclusivas.

Foto: Divulgação

Disponível em: https://www.lifeeditora.com.br/loja/produto/ir-e-vir-acessibilidade-compromisso-de-cada-um/

O engenheiro, cuja carreira e trajetória de vida se entrelaçam com o compromisso de melhorar as condições sociais e sanitárias onde atua, deixa transparecer em cada página a preocupação com o bem-estar coletivo. Ao destacar os desafios da acessibilidade, ele tece com maestria um discurso de crítica construtiva, chamando a atenção para os calcanhares deficitários que ainda persistem nas cidades brasileiras, onde as calçadas irregulares, os ônibus inacessíveis e os espaços públicos se tornam obstáculos a serem superados. Seu livro, portanto, não se limita à crítica, mas oferece um caminho, ou seja, vias para a transformação, através da educação, da conscientização e da ação concreta.

A obra também dialoga com a história da cidade de Campo Grande/MS e diversos lugares do Brasil bem como temáticas sobre a psicologia, autismo e outras especialidades ocultas para muitos cidadãos(ãs) brasileiros(as), perpassando para-além de ruas e avenidas que, por vezes, parecem negligenciar as necessidades de uma população diversa. O autor, ao construir este espaço de reflexão, não apenas expõe os problemas, mas também instiga os(as) leitores(as) a se tornarem protagonistas de um movimento que exige soluções práticas e urgentes. Dessa maneira, “IR e VIR” se insere como um farol, iluminando o caminho da inclusão e da acessibilidade, áreas muitas vezes marginalizadas na construção das políticas urbanas e sociais.

O livro postula, de maneira sutil, reforçando que a questão da acessibilidade é, sobremaneira, uma questão de dignidade humana. A máxima em latim “Vinculum humanitatis” poderia ser uma epígrafe apropriada para sintetizar o pensamento do autor: a acessibilidade é um elo que une, que torna os(as) cidadãos(ãs) verdadeiramente iguais perante a sociedade. Ao tratar com desvelo e profundidade das dificuldades enfrentadas por pessoas com deficiência(s), Jary vai além do plano teórico da urbanidade, abordando suas implicações práticas no cotidiano, como a incorrência em garantir que todos possam “ir e vir” sem limitações físicas, psicológicas e, tão sensivelmente, emocionais.

Em suas páginas, o engenheiro nos leva a uma viagem não só pelo contexto técnico da acessibilidade, mas também por uma jornada emocional e ética, onde o(a) leitor(a) se vê compelido a (re)considerar seu próprio papel na construção de uma sociedade mais justa e acessível. Jary ergue, com suas palavras, um edifício de debates fluentes e nos convida a uma revisão profunda das normas sociais e da maneira como elas impactam as vidas dos cidadãos.

Além disso, o autor nos conduz, com sensibilidade, a um entendimento mais amplo do que significa “ir e vir” dentro do contexto da deficiência, da mobilidade reduzida e da inclusão social. Ele nos desafia a ver essas questões não apenas sob o prisma jurídico ou urbanístico, mas também sob o ponto de vista de um cidadão consciente de suas responsabilidades cívicas e sociais. Ao fazer isso, o autor promove uma mudança de paradigma, onde a acessibilidade se torna uma prioridade e não um mero adendo a ser considerado quando conveniente.

A obra, de forma perspicaz e ponderada, expõe as falhas sistêmicas que, muitas vezes, dificultam a concretização da verdadeira acessibilidade. Jary identifica as lacunas existentes, mas também propõe sugestões, fomentando o debate sobre como podemos construir um futuro mais acessível, não apenas no cerne físico, mas em termos de inclusão plena, em que todas as pessoas, independentemente de suas condições, possam exercer seus direitos com liberdade e dignidade.

O engenheiro e escritor, ao abordar essa temática com a precisão de um técnico e a sensibilidade de um humanista, nos apresenta – por meio de entrevistas também – que transcendem os limites do papel e da tinta, incitando a ação. Ao adentrarmos nesse universo de “IR e VIR”, somos chamados(as) a questionar, a mudar, a construir uma sociedade onde todos(as), sem exceção, possam ocupar os espaços público e sociais de forma plena e sem barreiras em seus espaços inerentes.

Dentre os aspectos mais valiosos da obra, destaca-se o modo como Jary utiliza a literatura para educar, conscientizar e inspirar seus(suas) leitores(as). A obra, longe de se limitar ao universo acadêmico ou técnico, é uma verdadeira ode à empatia, uma proposta de transformação que ultrapassa a página do livro e se reflete na vida cotidiana de todos que dela tomam conhecimento. A acessibilidade, em suas palavras, se torna não um direito imposto, mas uma responsabilidade compartilhada por todos os cidadãos.

A importância dessa obra é indiscutível! Ela se configura não apenas como um estudo sobre acessibilidade, mas como um manifesto contra as exclusões que permeiam a sociedade, especialmente no Brasil, onde ainda enfrentamos desafios imensos no que diz respeito à inclusão. A obra de Jary nos faz perceber e reacender que a verdadeira acessibilidade não é apenas uma questão de loci-habitáveis, mas também de moralidade e atitude. Ela exige que cada um de nós, como cidadãos, desempenhe seu papel na construção de um futuro em que a inclusão seja a norma, e não a exceção.

A produção técnico-literária de Jary de Carvalho e Castro é, assim, uma obra de grande mister, não apenas no contexto hodierno, mas também no campo social e humano de tudo o que fora executado de maneira equívoca. A representativa voz de um autor que compreende as complexidades da vida e, com conhecimento de causa, nos desafia a refletir sobre elas. Seu livro, ao trazer à tona as questões da acessibilidade, se torna uma ferramenta indispensável para todos(as) aqueles(as) que buscam construir um Brasil mais justo e acessível para com as regularidades altruístas.

Nesses vieses somativos, é inválido não reconhecer a importância da obra IR e VIR não apenas para a cidade de Campo Grande (MS), mas para todo o restante do país. Jary de Carvalho e Castro, como vice-presidente da Santa Casa de Campo Grande e filho do saudoso professor Arassuay Gomes de Castro, membro efetivo – in memoriam – e ex-presidente da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL), nos (des)regula audaciosamente com um legado literário-informativo e social que não apenas reflete as suas – nossas – convicções, mas também o legado de sua família. Sua obra é um candelabro-aceso para as gerações futuras, um símbolo de comprometimento e responsabilidade social, e um convite à reflexão sobre o papel de cada um de nós na construção de um mundo mais acessível e equânime. Incluir e executar políticas para as acessibilidades diversas na pauta nacional é para-além de uma decisão, mas uma obrigação substancial!

**Doutor e Pós-doutor em Estudos de Linguagens (UFMS), pós-doutorado (USP) e (UFSC), docente e pesquisador-visitante (UFMS/FUNDECT), escritor, professor e poeta. Membro efetivo da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL). Docente nos colégios Classe A e Colégio Bionatus, Coordenador de Pesquisa e Iniciação Científica da Faculdade Insted e Coordenador do Curso de Pedagogia da mesma instituição

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Topo