A Estrela Dalva

Não me bastam os cinco sentidos para viver com totalidade o mistério profundo das mulheres. Ser mulher traduz o indecifrável. A mulher tem o Dom Divino de estender a mão a quem não pediu e doar aquilo que nem foi solicitado. Não poderia ser diferente e por isso estabeleceu-se um dia especial para homenageá-las. Em 8 de março de 1857, tecelãs de Nova York realizaram uma marcha por melhores condições de trabalho, diminuição da carga horária e igualdade de direitos. Na época, a jornada de trabalho feminino chegava a 16 horas diárias, com salários até 60% menores que os dos homens. Além disso, muitas sofriam agressões físicas e sexuais. Uma das versões do desfecho da marcha é a de que as manifestantes teriam sido trancadas na fábrica pelos patrões, que atearam fogo no local, matando cerca de 130 mulheres.

Foto: Divulgação

A versão do incêndio é, provavelmente, uma confusão com a tragédia da fábrica Triangle Shirtwaist Company, em 25 de março de 1911. O fogo matou mais de 150 mulheres, com idades entre 13 e 25 anos, na maioria imigrantes italianas e judias. A falta de medidas de segurança do local – as portas teriam sido trancadas para evitar a saída das empregadas – foi apontada como o motivo do alto número de mortes. Em 1910, na Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, na Dinamarca, a alemã Clara Zetkin propôs que a data fosse usada para comemorar as greves americanas e homenagear mulheres de todo o mundo. A greve das trabalhadoras de Petrogrado (atual São Petersburgo), na Rússia, em 23 de fevereiro de 1917 (8 de março no calendário ocidental), também foi um marco da data. Hoje, ela é símbolo da luta pelos direitos da mulher, e foi oficializada pela Unesco em 1977.

No Brasil o que não faltaram foram declarações de amor, desde clássicos da MPB, como “Laura – Altemar Dutra”, ou o pop-rock “Carla” do LS Jack. Incontáveis músicas que simplesmente falavam da mulher, sua rotina, seus hábitos, “Cristina – Roupa Nova” e Fernanda da Banda Semáforo. E as eternas, como: “Pastorinhas de Noel Rosa”, que dá título a este artigo; são bons exemplos disso. Mas realmente há pessoas que exercem nossas homenagens, como   Valdirene Pires da Silva Macena, da cruz vermelha e hemosul, que como ela mesma diz “A arte da costura sempre foi uma das minhas paixões…   Para mim… Costurar é: ter criatividade no corte, saber pregar com sabedoria e ter paciência para recomeçar a costura depois de desmanchar o ponto”. E assim ela vai costurando situações e vidas assim como Chaiane Dalazen e a inesquecível Ivone Dolabani.

Outrossim, avanços aconteceram desde então, e chegaram, da história até a questão jurídica, e nos dias atuais aonde a Lei Maria da Penha promove o aumento no rigor das punições das agressões contra a mulher quando ocorridas no âmbito domestico ou familiar. A lei entrou em vigor no dia 22 de setembro de 2006. No dia seguinte o primeiro agressor foi preso, no Rio de Janeiro, após tentar estrangular a ex-esposa. O nome da lei faz justa homenagem a Maria da Penha Maia Eu a conheci em Corumbá/MS e ela e contava, que foi agredida pelo marido durante seis anos. Em 1983, por duas vezes, ele tentou assassiná-la. Na primeira com arma de fogo deixando-a paraplégica e na segunda por eletrocussão e afogamento. O esposo de Maria da Penha só foi punido depois de 19 anos de julgamento e ficou dois anos em regime fechado.

Mas de tudo isso a mulher sempre vai remeter-nos para o que encarna o verdadeiro entendimento da palavra e a que mais amplo conceito tem que é a mulher – mãe e por coincidência do destino, normalmente nossas mães cruzam os portais do infinito antes de nós, e assim, aprendamos a transferir, todo o significado para outras mulheres, que são mães de nossos filhos, e para nossas filhas, que serão mães dos nossos netos. Este é o sublime milagre da vida. Este é o sentido de nossa existência e se o homem encarna a força do Criador, a mulher encarna sua beleza e amor. O homem e a mulher, são sim complemento um do outro, são a coroação da criação. Esta é uma realidade poética intransponível e indiscutível. A minha mãe, que me ensinou as primeiras letras; enobrecer-nos-emos com sua apoteótica epopeia de vida e o título do milésimo quingentésimo quinquagésimo oitavo, artigo de seu rebento.

*Articulista

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