Eleito líder da Igreja Católica em março de 2013, o papa Francisco teve o Brasil como seu primeiro destino internacional, na única vez em que ele visitou o maior país da América Latina como pontífice.

Papa Francisco veste adereços indígenas durante evento no Rio de Janeiro, em 27 de julho de 2013 | Ansaflash
Pouco mais de quatro meses após tomar posse do trono de Pedro, Jorge Mario Bergoglio, primeiro papa latino-americano, embarcou com direção ao Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), realizada em julho daquele ano, um compromisso marcado por seu antecessor, Bento XVI.
Logo após descer na capital fluminense, uma cena causou apreensão, mas deu um pouco o tom da postura de Francisco: uma multidão cercou o carro do pontífice, preso no trânsito na Avenida Presidente Vargas devido a um erro na organização do trajeto, e o argentino chegou a abrir o vidro para cumprimentar os fiéis, ignorando qualquer recomendação de segurança.
“Nesta hora, os braços do Papa se alargam para abraçar a inteira nação brasileira, na sua complexa riqueza humana, cultural e religiosa. Desde a Amazônia até os pampas, dos sertões até o Pantanal, dos vilarejos até as metrópoles, ninguém se sinta excluído do afeto do Papa”, disse ele em um discurso de boas-vindas no Palácio da Guanabara em 22 de julho.
Em tempos pré-Copa do Mundo de 2014 e pré-Olimpíadas de 2016, a JMJ, evento promovido pela Igreja para se conectar com uma juventude cada vez mais distante do catolicismo, era o evento internacional com maior público no Brasil até então, com mais de meio milhão de peregrinos, incluindo cerca de 350 mil estrangeiros.
Durante a semana que passou no Brasil, Bergoglio celebrou uma missa para 3,5 milhões de pessoas em Copacabana (segundo a organização da JMJ), maior público já registrado na praia mais famosa do país, foi à favela da Varginha, na zona norte da cidade, e visitou Aparecida do Norte, lar de um dos principais santuários marianos do mundo.

Praia de Copacabana lotada para missa do papa Francisco | Ansaflash
“Desde o primeiro instante em que toquei as terras brasileiras e também aqui junto de vocês, me sinto acolhido. E é importante saber acolher; é algo mais bonito que qualquer enfeite ou decoração. Sei bem que quando alguém que precisa comer e bate na sua porta, vocês sempre dão um jeito de compartilhar a comida: como diz o ditado, sempre se pode ‘colocar mais água no feijão’! E vocês fazem isto com amor, mostrando que a verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração!”, disse o Papa na comunidade da Varginha.
Suas homilias no Brasil abordaram temas que marcariam o seu pontificado, como a condenação do fascínio pelo dinheiro e a defesa da solidariedade com marginalizados, como moradores de rua. O argentino também mencionou os protestos das Jornadas de Junho de 2013 contra a corrupção e o massacre de 242 pessoas na boate Kiss, em Santa Maria (RS), ocorrido em janeiro daquele ano.
Francisco deixou o Rio em 29 de julho e não voltou mais ao Brasil, porém não se esqueceria do país ao longo dos anos seguintes.
Além de mensagens habituais no Dia de Nossa Senhora Aparecida, Francisco dedicou um Sínodo à Amazônia em outubro de 2019 e fez repetidos apelos contra as divisões na sociedade durante as turbulências políticas vividas pelo Brasil desde 2013.
Sem contar as brincadeiras sempre bem-humoradas, transparecendo o afeto de um irmão latino-americano. “Vocês não têm salvação. É muita cachaça e pouca oração”, disse o pontífice em 2021, ao falar com um padre que havia pedido que ele rezasse pelo Brasil.
Além disso, desenvolveu uma relação de proximidade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e chegou a enviar pelo menos duas cartas ao petista na prisão. Não houve tempo, no entanto, de aceitar o convite para participar da cúpula climática COP30, em Belém (PA), na Amazônia, floresta que Francisco não conseguiu visitar.