Campo Grande (MS) – O teatro Aracy Balabanian ficou lotado na noite de segunda-feira (18/04) na abertura da Mostra de Teatro Sul-Mato-Grossense – Boca de Cena. Já antes de adentrar ao auditório, no foyer, uma exposição do Teatro Unicórnio que comemora 30 anos de existência e foi o homenageado da noite, mostrou um pouco do trabalho do grupo. O espetáculo “O Santo e a porca”, da companhia Fulano Di Tal agradou em cheio o público que foi assistir.
De repente, o Chapeleiro Maluco e a Rainha de Copas (Mauro Guimarães e Fernanda Kunzler) surgem em meio à plateia e interagem entre si com um texto que dá as boas vindas ao Boca de Cena, “Que tempos são esses, é quase um delito falar de coisas inocentes… ”O teatro é onde há mais generosidade”… ”A única recompensa que os atores podem ter é rir todos os risos e chorar todos os prantos”, foram algumas das frases proferidas pelos personagens, que subiram ao palco e assumiram o posto de mestre de cerimônias e convidaram para fazer parte da abertura do evento, Fernanda Teixeira, do Fórum Estadual de Cultura, Jair Damasceno, do Colegiado Setorial de Teatro, representando a classe artística do interior de MS, Alessandra Tavares, o secretário e a secretária adjunta da Secretaria de Cultura Turismo e Inovação de MS (Sectei), Athayde Nery e Andrea Freire.
Durante a abertura, o Grupo Teatral Unicórnio, recebeu homenagem por sua atuação há 30 anos no Estado, com a criação de peças voltadas para o público infantil, como a “Vassoura da Bruxa” que está em cartaz desde 1993, com mais de mil apresentações. “Trinta anos é muito novo, no teatro o tempo passa rápido”, disse Jair de Oliveira, diretor e fundador do grupo. Também falou da luta que enfrentou para poder se manter no teatro, que foi uma decisão que tomou quando veio de São Paulo com o firme propósito de viver somente do teatro e de naturalmente sua família ter sido incorporada às artes cênicas, “temos filhos que nasceram no teatro, Amélia chegou a amamentá-los na coxia”, relembrou Oliveira. “Muitas pessoas passaram pelo grupo e que enriqueceram nosso trabalho e Campo Grande é a nossa casa, isso nos motiva muito fazer teatro profissionalmente”. Porém, também disse que é preciso que haja uma melhoria enquanto classe artística e que haja mais espetáculos voltados para crianças.
Representando a classe artística do interior de MS, Alessandra Tavares disse acompanhar o teatro no Estado, “só tenho visto crescer em nosso Estado que é tão rico em cultura”. Já o diretor Jair Damasceno disse ser um prazer ver a casa cheia e lembrou de grandes atores que passaram pelo palco e que deram sua contribuição para a arte no Estado. “Que tenhamos uma semana profícua”.
Fernanda Teixeira, presidente do Fórum Estadual de Cultura, disse que esse é um momento ímpar para a classe, “Ampliar e democratizar a cultura, inserindo os vários segmentos como a cultura indígena, quilombola, cigana, de rua”, pontuou Teixeira. Já o secretário Athayde destacou que todo o processo de construção do Boca de Cena foi feito a partir do diálogo e da participação dos envolvidos e ressaltou, “estamos construindo uma política pública que tenha longevidade e solidez”. E ao se referir aos alunos e professores da Escola Estadual Riachuelo, falou da parceria entre a Secretaria de Educação e a Cultura, “Estamos querendo fazer esse congraçamento entre as secretarias, já que cultura e educação são intrínsecas”, enfatizou. Também falou que nesse ano haverá comemorações significativas no Estado, como os 40 anos de criação de MS, dos 150 anos da retirada da Laguna, dos 50 anos do grupo Acaba e de 100 anos de Manoel de Barros. Finalizou seu discurso como de praxe, com duas poesias de Manoel de Barros; “Sabiá” e “Fazedor de Amanhecer”. Para a secretária-adjunta da Sectei, Andrea Freire está sendo gratificante realizar o Boca de Cena, “É um momento muito especial, fizemos um Boca de Cena carinhoso e só tem sentido fazê-lo, se tiver eco na sociedade”, frisou Freire.
O Espetáculo O “Santo e a porca” durou cerca de duas horas que passaram quase sem notar, uma vez que conseguiu prender a atenção dos expectadores que se envolveram com a trama do começo ao fim. A peça, uma comédia adaptada da obra do genial Ariano Suassuna, tem como tema central a avareza, que de forma descontraída vai se emaranhando entre os personagens, gerando muita confusão e claro, gargalhadas do público. Com um cenário rústico, remetendo ao nordeste, bem como com uma prosódia e figurinos daquela região, e ainda uma trilha sonora e iluminação que foram pontuais durante o espetáculo levaram o público a um envolvimento marcado também por elementos da atualidade, como algumas expressões retiradas na internet.
O professor de artes visuais Joelson levou seus alunos para o teatro e disse que a arte tem que ser mostrada, “é muito enriquecedor para todos nós, é necessário, portanto que haja uma divulgação maior a ponto de os alunos participarem também, esses alunos vão ser multiplicadores dessa cultura”. Joelson também comentou que os alunos ficaram entusiasmados com o que viram durante o espetáculo e querem fazer teatro na escola, utilizando como referência a peça que assistiram. O estudante Willian Vinícius disse nunca ter ido a um espetáculo e achou muito interessante o que viu, pretende voltar outras vezes. Maria Rosa, estudante de direito também curtiu o espetáculo, “é muito bom para os adolescentes, crianças, é uma coisa muito boa”. Já a estudante Gabriela Taís, ficou encantada com o cenário, “muito bem montado”, também falou que o Boca de Cena é uma oportunidade a mais de lazer e entretenimento, “a cidade não costuma ter muita coisa e quando isso acontece é muito bom”.
Para Carlos Laredo diretor espanhol do espetáculo “Geometria dos Sonhos” que prestigiou a peça, disse que as impressões que tivera foi de que esta foi feita com “muito amor e ingenuidade”. Já Clarice Cardell protagonista de “Geometria dos Sonhos” achou o espetáculo muito interessante ”gostei de ver a montagem de Ariano Suassuna com o sabor de MS”. Também comentou sobre a iniciativa do Boca de Cena, “Acho fundamental, fantástico e essencial. Os festivais são feitos com um trabalho em nível de política pública, em que possibilita o fazer teatral para as pessoas que moram cidade ir de encontro com a população. Ainda acrescentou, “os festivais são essas ocasiões singulares que uma cidade precisa para se renovar, para as pessoas se repensarem, para elas se encontrarem e se encontrarem com companhias de outros lugares para serem provocadas”, ressaltou Cardell.
No final do espetáculo houve um debate com a participação da crítica de Teatro do Rio de Janeiro, Daniele Avila Small.
O Festival Boca de Cena continua com uma programação repleta de atividades e apresentações cênicas até o próximo sábado (23/04) com entrada franca. Hoje terá a apresentação de “Diário de Madalena”, às 20h no Teatro Aracy Balabanian.