Companhia de Dourados encena “A Cartomante” em espaço alternativo de Campo Grande

Campo Grande (MS) – A Cia. Maria Mole, de Corumbá (MS), encenou na noite deste sábado (23) a peça “A Cartomante”, baseada em conto homônimo de Machado de Assis. O espetáculo, um dos que encerraram a Boca de Cena – Mostra Sul-Mato-Grossense de Teatro e Circo 2016, foi encenada na antiga Escola Oswaldo Cruz.

A encenação começou no pátio interior da escola. Depois, o público era convidado a entrar em diversos cômodos para acompanhar a trama de amor, traição, suspense e ódio dos três personagens. Músicos acompanharam toda a peça com instrumentos tradicionais e alternativos, e também fizeram o papel de narradores acompanhando a história.

A Companhia é composta por Carol Dibere (cartomante), Bianca Machado (que fez o papel de Rita e também é a diretora da peça), Felipe Barreche (Vilela), Dilson Souza (Camilo), Leonardo Castro, Matheus Luco e Aline Rah Conte (atores narradores e músicos), Carlo Serrat (produção e contrarregragem, Nicoli Dichoff, Issel Chaia e Leonardo Reinaltt (técnica de apoio) e Mariana de Castro (leitura).

No debate ao final da peça, a crítica de teatro Daniele Ávila Small, que tem acompanhado as atividades da Boca de Cena, agradeceu a oportunidade e assistir ao espetáculo e também agradeceu aos criadores da peça. “É um alívio assistir peças em espaço não convencional. É outra experiência, proporciona uma abertura. E pude sentir a força do texto do Machado, uma clareza da narrativa. É muito bom ler o Machado com outros olhos, com os olhos de vocês. A gente está fechando este ciclo de debates com chave de ouro”.

A diretora Bianca Machado disse que a Companhia é de uma cidade do interior que tem muitas edificações históricas [Corumbá]. “Já montamos uma série de autores. Machado não precisa de adaptação. A gente tem limitação de público por conta do espaço, mas estamos sempre prontos para nos adaptar a novos locais. A gente tem um êxodo muito grande no teatro, é difícil fazer teatro, principalmente no interior. A Companhia está sempre trabalhando com quem nunca fez teatro, como é o caso do Felipe, que é cozinheiro [fez o papel do Vilela]”.

O ator Dilson Souza disse que a Companhia muitas vezes utiliza espaços não convencionais para teatro. “Deu problema na luz dessa vez, isso acontece. É gostosa essa troca de olhares com o público, contracenar diretamente no meio das pessoas”.

Carol Dibere, que fez o papel da cartomante, disse que quando o espaço é alternativo, a sensação é que o público está incluso na narrativa. “A conversa é diretamente com eles. Toda vez que a gente muda de lugar, muda toda a cena”.

Leonardo de Castro contou um pouco da sua história. “Sou da primeira turma de Artes Cênicas da UEMS. Fui para Corumbá e entrei na Companhia Maria Mole, que tem uma trajetória de amor e compreensão. Redescobri-me”. Sua mãe, Antonia, que estava na plateia, confirma. “Só tenho a agradecer à Bianca, que acolheu meu filho com muito amor e carinho”.

Aline Rah Conte começou no teatro no ano passado. “Sou mais do meio da música. Foi um desafio romper barreiras. Estou me descobrindo cada vez mais. Matheus Luco também é novato no teatro. Fez o Sesc Dramaturgia ano passado. Estudou música oito anos no Instituto Moinho Cultural, depois começou a usar o texto no teatro. “É uma outra experiência. É gratificante para mim. Gostei bastante do teatro”.

Felipe Barreche conhece o trabalho da diretora Bianca há muito tempo, já trabalhou com teatro na parte técnica e essa é sua primeira experiência nos palcos. “Na verdade, eu sou cozinheiro e fui convidado pela Bianca para atuar”.

Carlo Serrat está há 16 anos na Companhia. “ É uma honra fazer mais um espetáculo ao lado desse povo todo, foi menos de um mês para montagem e o resultado deu certo”. Já Mariana começou no teatro na própria Companhia Maria Mole e também fez o Sesc Dramaturgia. “Todo o sonho começou aqui”, diz ela, emocionada.

Issel Chaia estudou na UEMS com o Leonardo. “Faço teatro faz tempo, você tem que estar ligada em tudo. Tem essa correria toda. Hoje foi uma experiência muito boa. Nicole é jornalista, já fez teatro há algum tempo e agora está começando a voltar novamente aos palcos. “A edificação, nesse caso, vira um personagem. É diferente assistir em Corumbá e em outro local”.

A crítica Daniele chama a atenção da união da narrativa com a música. “O texto do Machado com a música tem o efeito de abrir, estimular a escuta”.

A secretária adjunta de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação, Andréa Freire, assistiu ao espetáculo e disse estar emocionada de ver um grupo do interior com a trajetória da Companhia Maria Mole. “Houve amadurecimento do trabalho. É elementar, na montagem, a paixão, a responsabilidade. Vocês têm foco, é envolvente. Isso é o que cria essa relação entre vocês e o público”.

Para encerrar, Andréa falasobre a Boca de Cena – Mostra Sul-Mato-Grossense de Teatro e Circo 2016. “A Boca de Cena representa a vontade de fazer, de acertar. É isso que move a gente. Nós encerramos a Mostra com espírito de avanço. Estamos caminhando, indo pra frente”.

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