A Dacon dominou o cenário de personalização até os anos 80. O edifício que leva o nome da companhia na capital paulista fica na Avenida Cidade Jardim, nos Jardins, onde ainda serve de marco da rica região. Além de ser representante da Porsche no Brasil e customizadora, a Dacon ficou famosa por criar alguns projetos próprios. Um dos mais curiosos foi o Nick, feito entre 1988 e 1991. Foi justamente um exemplar do primeiro ano que encontramos no Mercado Livre, anunciado pelo preço de R$ 35 mil por um vendedor de Barueri, grande São Paulo.
O simpático nome combinava com o projeto feito pelo mestre Anísio Campos, que já havia projetado para o fabricante o ainda menor Mini Dacon 828. Anísio criou um subcompacto na medida para os ricos, maior que o 828 e com mecânica VW mais moderna que os antigos motores refrigerados a ar. Feito com base na plataforma bem encurtada da Saveiro, o modelo tem cerca de três metros de comprimento, praticamente 1 metro a menos do que um compacto tradicional e cerca de 30 cm a mais que um smart fortwo. Da picape, ficou apenas o para-brisa, as portas com calha e o vidro traseiro corrediço – o porta-malas tem abertura mínima, apenas o painel entre as laternas escamoteia.
Dado o motor longitudinal típico dos Gol BX e seus derivados, o capô teve que receber um pequeno “galo” para acomodar o conjunto. Não é a única curiosidade. Embora o modelo anunciado tenha grade com entradas em ambos os lados, originalmente o Nick possuía entrada à esquerda, justamente onde fica o radiador do carro. Dê uma olhada no perfil. De tão curta, a distância entre-eixos é escrita no singular, apenas 1,91 metro, 68 centímetros a menos do que a Saveiro e seus 2,59 metros. A traseira não tem balanço, a carroceria praticamente é cortada com um machado rente às rodas – foram 20 cm de corte ali. Para-lamas, teto, para-choques e colunas são em fibra de vidro.
O modelo foi uma encomenda pessoal do empresário e entusiasta Paulo de Aguiar Goulart, dono da Dacon. Inclusive, os modelos levavam o nome PAG, sigla que replicava as iniciais do proprietário, mas que significa Project D’Avant Gard. Realmente, o subcompacto para executivos era vanguardista mesmo. Seu preço chegava a ser quase 40% do que o cobrado por um Santana Executive, com injeção eletrônica, bancos de couro e outras traquitanas que o tornavam o VW mais caro da época.
A herança dos projetos VW fica clara também pelos faróis de Gol e pelas lanternas de Santana Quantum. O toque mais curioso é o uso de colunas vazadas atrás. Depois seria criada uma versão com vidros traseiros e quatro lugares, mas o modelo original é mais valioso e ficou conhecido como “alcinha” por conta das colunas. Esse é o mais raro de todos. Segundo o fã clube Nick PAG Dacon e Mini Dacon 828, foram apenas 36 exemplares construídos nessa fornada.
Em relação ao modelo original, o carro anunciado passou por algumas modificações. Afora a grade, as rodas aro 15, vidros espelhados e os retrovisores ao estilo do BMW M3 E36 saltam aos olhos. Por dentro, sem descaracterizações gritantes. O painel segue o mesmo padrão do Gol GTS e GTI de então, com direito aos bancos Recaro característicos. O estado parece bom e a quilometragem acumulada é de 88 mil km.
Embora alterações de motor sejam lugar comum nesse modelo, esse Nick em questão não passou a usar o motor 2.0 do Santana como nos Nick Pag com vidrinho basculante
de quatro lugares ou o 2.0 injetado do Gol GTI, tomado como base para os novos modelos de dois lugares. É fácil achar algum destes com turbo e preparação para ultrapassar os 300 cv. Haja braço com um entre-eixos tão curto.
Estes últimos Nicks se valeram de base de Voyage, enquanto o modelo anunciado é um original com o AP 1.8 do Gol GTS, capaz de render algo em torno de 100 cv, sempre com a conhecida caixa Volkswagen de engates precisos e cinco marchas. A própria Dacon não havia abandonado o seu espírito de preparadora e oferecia uma versão ampliada desse motor com 2,1 litros. Nem precisa de tanto. Com apenas 760 kg, ia até os 100 km/h em cerca de 10 segundos.
Sem dúvida, R$ 35 mil é um valor que pode garantir um exemplar dos mais conservados do Gol GTI ou GTS dos anos 80. Mas eles não terão o mesmo charme do Nick. E se raridade é um dos quesitos para tornar um carro valorizado, o Dacon leva a vantagem.
Fonte: Auto Esporte