O revezamento 4×400 metros feminino é uma das esperanças de medalha do Brasil no atletismo dos Jogos Olímpicos do Rio. Na equipe, a experiente Joelma das Neves Souza (Unimes) chegando a sua segunda olimpíada e com uma história de superação pelo esporte. A velocista não esconde a ansiedade de competir em seu país e acredita num possível pódio. “Temos chance de ser finalistas e daí, pode haver medalha. Nada é impossível”, afirma.
“Temos seis meninas, todas seis com os tempos bons para brigar por medalha”, anuncia a atleta de 32 anos, corpo esguio, com a fala calma, sorriso tímido, contrastando com sua atuação na pista, sempre em busca do limite. Natural de Timon, no Maranhão, onde iniciou nas corridas, de pés descalços, hoje mora em Praia Grande, estuda Educação Física na FEFIS, defende o EC Pinheiros, da capital, e se prepara em Jundiaí, com o técnico Clodoaldo Lopes do Carmo.
A confirmação olímpica é mais uma história de superação de Joelma. Nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, em grande fase e cotada à medalha, sofreu um estiramento no adutor da coxa esquerda. Ficou caída na pista e quatro meses parada. A equipe sentiu sua inesperada ausência e, improvisada, nem garantiu vaga à final. “Eu vinha de uma temporada cansativa, de muitas competições. É aquela coisa. Se não para um pouquinho, para descansar, o corpo para por você”, diz.
“Esse descanso foi bom, para voltar e estar na Olimpíada. Talvez não estivesse, se não tivesse parado”, afirma a atleta. “No Pan, eu era a mais forte. Acontece. Me deu mais força. Recuperei, sempre focada que estaria no Rio”, admite Joelma, que pela parada inesperada, não se considera titular no time olímpico, mostrando humildade. Mas sabe que sua experiência será fundamental, dentro e fora da pista.
“Hoje estou sendo a quinta mulher do revezamento, mas estou me preparando porque a qualquer momento o Brasil pode precisar de mim e tenho de estar pronta. Caso eu entre, vou tentar fazer o melhor, levar o grupo, para a final. Caso não aconteça, tento passar minha experiência para as novas, que estão chegando”, comenta a atleta da seleção brasileira e que também tem patrocínios da Marinha do Brasil e do Bolsa Atleta.
A vaga do revezamento 4x400m foi garantida no Mundial de Equipes, em Nassau, nas Bahamas, há pouco mais de um ano. O time foi finalista, com Joelma como titular, e de lá para cá, o pensamento sempre foi para os Jogos do Rio. “Eu sempre falava. Eu consegui esse resultado, preciso estar nessa Olimpíada. Ralei bastante e estou muito feliz por ter batalhado. Teve a lesão, me curei a tempo, me dediquei nos treinos. E agora fico pensando. Já estive em outro país e agora é no Brasil. Não vejo a hora de ouvir os gritos da torcida brasileira”, revela.
Ela faz uma relação com estádios em jogos de futebol e sabe que o apoio das arquibancadas pode ajudar muito. “Trazendo para o futebol, porque estamos no país do futebol, os jogadores ficam empolgados. Passa energia. Creio que no atletismo vai ser assim. Quando estive no Mundial da Coreia foi a primeira vez que vi um estádio lotado e torciam por todos. Ficava imaginando isso no Brasil”, fala a velocista, sabendo que a disputa por uma medalha será dura, com equipes tradicionais como Estados Unidos e Jamaica. “Também tem a Nigéria, que vem crescendo bastante”, lembra.
História – Joelma iniciou no atletismo aos 12 anos, incentivada pela irmã, Joseline, na escolinha de atletismo de sua cidade natal. “Era um campo de futebol, não tinha pista adequada. Era quadrado, não redondo como pista e nos tiros, tinha de saltar o alambrado para fazer as curvas. Comecei descalça, não tinha tênis”, lembra.
O técnico – até hoje à frente do trabalho – Antônio Nilson de Souza viu na menina um talento e desde o início a motivou com o sonho de chegar à olimpíada. “Ele falou que seria difícil no início, mas se realmente fosse meu sonho, eu teria tudo para ser atleta olímpica. Ele sempre colocou nisso na minha cabeça. Eu pensei: Será que ele está certo mesmo? Vou acreditar e buscar”, conta. “E comecei a sonhar. Às vezes, estava no treino, passava um avião e imaginava viajando. Colocava na cabeça que iria conseguir”.
A preparação de Antonio Nilson deu resultado, Joelma se destacou, ganhou bolsa de estudo, foi vencendo todas as provas e chamou a atenção do técnico Katsuhico Nakaia, da BM&F. Mas antes dos convites para sair do Maranhão e brilhar em nível nacional, mais uma história de superação. Um câncer no ovário, aos 22 anos, interrompeu sua ascensão, mas o atletismo foi uma das armas para se reerguer.
“Minha história dá um livro grosso”, brinca Joelma, explicando que jamais desanimou. “Fiquei com medo, mas eu tinha fé. Era mais um teste da vida, para dar valor a tudo. Foi muito rápido, mas naquele momento parecia uma eternidade. Tentei treinar até o limite, mas fiquei debilitada. Voltei bem melhor. Penso que se você tem pensamentos positivos, acontecem coisas boas. O dia mais feliz da minha vida foi quando o médico falou que estava curada e era para seguir minha vida, meu sonho. Vai ser atleta olímpica”, recorda.
Joelma mudou para Praia Grande, quando treinava com o santista Sanderlei Parrela (quarto colocado nos 400 metros na Olimpíada de Sydney/2000). “A gente sempre acompanha o treinador”, destaca. E morando na Baixada Santista, decidiu investir na carreira, cursando Educação Física na Universidade Metropolitana de Santos. “Quero seguir no esporte. Este semestre eu tranquei a faculdade, para me dedicar à preparação aos Jogos, mas em agosto estou de volta aos estudos em Santos”, ressalta.
“O treinador mesmo me apoiou e falou que tenho de voltar. Já fiz três anos e não quero perder. A FEFIS abriu as portas para mim, me apoiou e espero voltar com a medalha. Encontrei com a Sirlene (Pinho, também corredora e aluna da faculdade) e ela me disse que todos estão torcendo por mim”, relata. “Abri mão de algumas coisas, para conseguir outras. Estou confiante, seguindo meus treinos. O atletismo é minha vida”, conclui.
Acompanhe entrevista em vídeo no canal da FMA Notícias no YouTube: http://youtu.be/VaMPThfIrYA