Campo Grande (MS) – Na tarde deste domingo, 7 de agosto, foram realizadas quatro oficinas no Memorial da Cultura e da Cidadania: Contação de Histórias, Cinema/Cineclubes, Cultura Popular e Cultura Digital. As oficinas fazem parte da programação do 1°Seminário Estadual Cultura e Educação – Território da arte na Escola, promovido pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação (Sectei) e Secretaria de Educação.
A Oficina de Contação de Histórias foi ministrada por Ciro Ferreira, graduado em Artes Cênicas pela UEMS com pós-graduação em Educação Especial. Ciro é professor da Pestalozzi e da rede pública de ensino, assumiu recentemente uma cadeira na Academia Brasileira de Contadores de Histórias e viaja pelo Estado ministrando oficinas. Ele explica que a contação de histórias parte da vivência e da experiência de cada um, não é técnica, vai se construindo. “Aqui neste evento temos tempo para viver, experimentar e mostrar o resultado para vermos como é feita”.
Ele diz que a contação de histórias está formando hoje sua identidade. “Hoje acontece de uma forma mais profissional, a gente busca isso nos festivais nacionais e vai buscar e levar ideias e saber o que está acontecendo. O contador é a leitura, e ele não ler não tem o que contar. Nós temos que buscar leitura”.
Ao contrário do que muita gente pensa, a contação não é só para crianças, é também para adultos. “Não é teatrinho, um teatro pobre como muita gente acha. Agrega valores e tem sua identidade”, explica.
A acadêmica de Artes Visuais Andrelina Ferreira dos Santos diz achar interessante a contação de histórias porque faz parte da vivência da criança. “Ela fica mais calma, fica mais na cabeça [a história], estimula a criança a aprender, entretém a criança. É uma forma de aprender, inspirar, já era usada por nossos avós, nossos tios”. Para Andrelina, todo aprendizado é bem vindo. “Ontem fiz a oficina de brinquedos. Tudo tem que estimular as crianças”, diz.
Adriana Febraro de Oliveira é pedagoga e acadêmica de Artes Visuais e se diz encantada com a contação de histórias. “É um recurso incrível que dá para trabalhar com crianças. Fiz um curso pela Semed e fiz na creche da Omep do bairro Tiradentes. Facilita não só a linguagem, mas o visual também, a criatividade, pode-se trabalhar não só a língua portuguesa, mas história, geografia… É muito legal”.
A oficina de Cultura Digital foi ministrada pelo arquiteto Gilfranco Alves, professor da UFMS e participante do grupo de pesquisa Algoritmo. Este grupo vem se dedicando desde o começo de 2013 ao estudo dos processos digitais de projeto e na verificação de suas diversas possibilidades de aplicação, especialmente em sala de aula e no ensino de projeto de arquitetura.
Gilfranco diz que já existe uma geração de nativos da tecnologia. “Meu filho se alfabetizou usando programas, quando foi para a escola já sabia ler, de maneira precoce”. Ele diz também que numa conferência por Skype pode-se potencializar uma aula. “Já participei de bancas em que um dos componentes estava ‘presente’ por Skype. Essa capacidade ainda é pouco explorada”.
Ele está com uma exposição na Morada dos Baís com objetos utilizando técnicas de última geração, como impressora 3D, exercícios de anamorfose (que desconstrói imagens em pixels de forma que só seja reconhecida num determinado ponto) e vídeo mapping com animações de obras de Lídia Baís. “Todos estamos em contato num planeta que ficou pequeno. A internet nos possibilita isso. A grande questão é saber filtrar a informação valiosa da que não tem procedência”.
A primeira parte da oficina ofereceu uma introdução à cultura digital, com breve histórico, possibilidade e aplicações da mediação digital e ensino da cultura digital. Depois foi passado o pensamento cibernético (relações entre seres humanos e máquinas). A terceira parte apresentou a sociedade contemporânea, seus novos modos de vida, atores em rede e processos colaborativos, e encerrou com exemplos, estudos de caso e as experimentações do grupo Algoritmo.
A participante Marly Fátima Rondon de Andrade, professora de Artes da Rede Estadual de Ensino do sexto ao nono ano, decidiu fazer a oficina para aprimorar seus conhecimentos e prática pedagógica, “que está inserida num sistema moderno e atual. Busco oferecer uma aula mais dinâmica, que condiz com o aluno hoje, ligação com a vida on-line. A aprendizagem acontece mais rapidamente pelo interesse que esse aluno vai ter”.
A professora de Artes, História e Letras do município de Vicentina, Aparecida Rodrigues de Carvalho, buscou na oficina algo que possa aplicar com o aluno. A escola em que leciona, Escola Estadual Padre José Daniel, é muito equipada. “Eu busco que o aluno não só aprenda no sentido de olhar para mim, mas que apreenda e entenda o que eu falo. A escola tem sala multimeios, multimídia, lousa digital, os alunos têm celulares. Eu já uso essas ferramentas na aula, mas quero achar algo de novo que possa levar, mais meios de usar os recursos para levar o conhecimento”.
A oficina de Cultura Popular foi ministrada por Marlei Cunha, nascido em Costa Rica, graduado em Artes Cênicas em São Paulo e com 30 livros publicados sobre teatro, cultura popular, poesia e história. Ele explica que a cultura popular é tudo aquilo que é passado de geração a geração. “Podem ser objetos que se usam em casa, ornamentos, linguagem e literatura, como ditados, trava-línguas, ‘causos’, adivinhações, cirandas, brinquedos”.
Ele participa ministrando oficinas pois tem interesse em outras cidades, para coletar material para seus livros. “A cultura tem força de transformação da sociedade. Temos que buscar a identidade cultural do Estado, buscar os problemas dos alunos para resolver, como estar em uma comunidade [por exemplo]”.
O músico e professor de música da Escola Municipal Ana Lúcia de Oliveira Batista, Paulo Gaúna, gosta muito de trabalhar com a identidade dentro da música. “A cultura popular é um viés riquíssimo, trabalho com tradições, símbolos, significados de forma muito forte, com tudo que ela traz. Isso para a criança é enriquecedor, quais são seus costumes, como são as pessoas daqui, como se encontram nesse caldeirão que é o Brasil”.
Ele usa elementos da cultura popular no ensino de música, com instrumentos e canto. “Acho muito valoroso, quero buscar o máximo de conhecimento, é mais significativo no aprendizado da criança”.
A oficina de Cinema/Cineclubes, ministrada por Carolina Sartomen e Eduardo Paes Aguiar, aconteceu no auditório do MIS. Carolina é formada em Letras, tem mestrado em Estudo de Linguagens, é doutoranda em Letras e diretora de formação e projetos do Conselho Nacional de Cineclubes. Eduardo é presidente do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros.
Carolina diz que o objetivo da oficina é incentivar a criação de cineclubes nas escolas, despertar, sensibilizar diante da estética do cinema, despertar o senso crítico e o exercício da cidadania por meio do cinema, despertar o protagonismo estudantil e a emancipação cultural.
A oficina apresentou conceitos de cineclubes, a história do movimento no Brasil, estratégias de leituras de cinema, formação de equipes de cineclube e foram exibidos curtas de cineclubes do Brasil.
O primeiro registro de atividades cineclubistas foram em 1921, na França, com o Clube dos Amigos da Sétima Arte; em 1928, com Os Amigos de Spartacus, do Partido Comunista Francês; Chaplin Club, no Rio de Janeiro; Cineclub em Buenos Aires e em 1931, com o Cineclub Mexicano.
Eduardo Paes afirma que o movimento cineclubista no país está ativo, porém, não tão organizado. “Existem cineclubes em todos os Estados da Federação e 400 deles são filiados ao Conselho. Os objetivos de um cineclube é dar acesso ao público brasileiro ao cinema produzido no país, dar acesso para se apropriar da linguagem audiovisual, e, para que através do audiovisual, consiga exercer mais e melhor a sua cidadania. Os professores [participantes da oficina] são bastante falantes, participativos, muito interessados. Como comunidade, as escolas podem pensar e produzir filmes. Pela lei 13.006, é obrigatório que todas as escolas do país exibam pelo menos duas horas de filme nacional por mês”.
Ester Saray Macedo Ramires é professora de Artes do quinto ano do ensino fundamental ao EJAe afirma gostar dessa linguagem do audiovisual. “Venho me inteirando sobre trabalhar filmes em sala de aula, como funciona o cineclube, pois pretendo implantar na minha escola [Estadual Orsírio Tiago de Oliveira]. No terceiro ano do ensino médio está sendo ministrada a história do cinema. Pretendemos trazer os alunos para visitar o MIS. Eles gostam muito, estão acostumados em assistir nas salas de cinema os filmes comerciais. Estamos na tentativa de mostrar o outro lado, que existem bons filmes nacionais e regionais que eles desconhecem”.
A jornalista Caroline Maldonado, que atualmente trabalha em uma pesquisa sobre populações indígenas, afirmou ser o Seminário um evento muito abrangente. “Não sou educadora, mas o evento foi muito proveitoso, todas as oficinas são interessantes. Minha área é comunicação e se aproxima muito da oficina de Cinema. Ontem fiz a de Cultura Digital. É um evento multidisciplinar. Pessoas de muitas áreas estão podendo participar. Por ser o primeiro seminário, superou as expectativas”.