Espetáculos “Rivotril”, de Dourados, e “Entrenós” de Campo Grande encerram Semana Pra Dança 2016

Cena do Espetáculo ‘Rivotril’ – Foto: Divulgação

Cena do Espetáculo ‘Rivotril’ – Foto: Divulgação

Campo Grande (MS) – A noite desta segunda-feira foi de encerramento regida pelo sentimento da saudade. Rilvan Barbosa, de Dourados, e a Cia Verso, de Campo Grande, encerraram a Semana Pra Dança 2016 com os espetáculos “Rivotril” e “Entrenós”, às 2 horas, no Teatro Prosa do Sesc Horto.

“Rivotril” é um protesto em forma de dança. O espetáculo aborda questões relacionadas à atual situação do país, expondo os “lixos” que produzimos em nosso dia-a-dia e suas relações na sociedade. O artista independente e intérprete bailarino Rilvan Barbosa, com 25 anos de carreira, apresenta neste espetáculo de estilo livre, um retrato das mazelas do Brasil. “O Brasil é lindo, mas por debaixo da beleza tem o lixo, a história dos índios, a escravidão do negro, eu retrato a revolução de 64, tudo isso puxando o lixo. Abordo também questões religiosas, construí uma releitura da Santa Ceia. Foi feita esta releitura junto com o Chico Neller”.

Cena do Espetáculo ‘Rivotril’ – Foto: Divulgação

Cena do Espetáculo ‘Rivotril’ – Foto: Divulgação

O espetáculo solo foi aprovado pelo FIC em 2014 e para a montagem, Rilvan veio de Dourados para a Capital nos fins de semana durante quatro meses, para a coreografia montada com Chico Neller. Depois de pronto, circulou por Dourados e região. “Eu conversava com o Chico para ver sobre o que íamos falar. Buscávamos algo que chocasse de forma cultural e não queríamos agredir nem deixar tudo mastigado”.

Ele explica que o nome Rivotril surgiu pela ansiedade do povo brasileiro. “É o tarja preta que todos os brasileiros estão tomando. É uma forma de fuga, mas a ansiedade acaba com a pessoas, tem outras reações, gera a síndrome do pânico. É um conflito com você mesmo. Eu jogo minha ansiedade para a arte”.

O artista classifica o espetáculo como improvisação direcionada em estilo livre, com mesclas da dança contemporânea, moderna e o butoh oriental, estilo que ele conhece bem e já utilizou em outras montagens. É seu primeiro espetáculo solo na Semana Pra Dança. “Fui muito bem atendido, estou agradecido pela oportunidade, que pode abrir mais caminhos para a participação de outros grupos do interior”.

Cena do Espetáculo ‘Entrenós’ – Foto: Divulgação

Cena do Espetáculo ‘Entrenós’ – Foto: Divulgação

Ele participou ativamente das discussões das Câmaras Setoriais contribuindo com sugestões para melhorar a área da dança no Estado. “Em Dourados a prefeitura tem um projeto nas academias, mas nós não temos grupos independentes, e os que existem não participam como deveriam. As discussões durante esta Semana vão abrir mais portas para mais visibilidade para a dança”.

Após um pequeno intervalo foi a vez de entrar em cena a Cia Verso com o espetáculo “Entrenós”, montado com bailarinas já veteranas, a maioria com mais de 30 anos. “Essas meninas dançaram há um tempo atrás e ficaram um tempo sem dançar. Resolveram reinserir a dança em suas vidas e começaram a surgir no processo confusões internas. Mas dançar é muito bom, nesta volta coreografamos esses contrapontos”, explica Silvia Razuk, uma das diretoras e preparadoras corporais do grupo, com Selma Azambuja.

“Entrenós” aborda a dupla imagem contida neste título, que tanto pode ser entre pessoas como no meio de nós atados durante a vida. É uma obra que olha para o ser humano nas suas relações consigo mesmo e com o outro, passando pelo afeto, pelo cuidado, pelo encontro e desencontro. “[As bailarinas] são mulheres que já têm histórias de vida e resolveram trazer à cena as questões delas”, diz Silvia.

Cena do Espetáculo ‘Entrenós’ – Foto: Divulgação

Cena do Espetáculo ‘Entrenós’ – Foto: Divulgação

Sobre o processo de criação, ela explica que o processo não foi linear. “As cenas foram surgindo, a gente não partiu da dramaturgia construída, íamos criando essa narrativa de forma bem processual. Cada cena foi criada de um jeito. Tem cenas que foram bem coreografadas por mim e pela Selma, em outras a pesquisa foi delas [das bailarinas], foram criadas cenas para a música, tem um pouco de tudo”.

O espetáculo, de tom bem intimista e sensível, buscou mostrar os sentimentos envolvidos nesta volta a dançar, vivenciado pelas intérpretes. “Buscamos observar o que a criação estava provocando nelas, teve esse movimento interno, de como a pesquisa estava mobilizando-as internamente”.

A Cia Verso foi criada recentemente e este é o primeiro espetáculo da Companhia apresentado ao público. “Para a gente foi ótima a estreia [na Semana Pra Dança]. Estávamos criando este espetáculo para o FIC, mas o edital demorou para sair. O trabalho ainda não está pronto, pois a ideia era criar algo maior, com cinquenta minutos. Esta foi a estreia da Companhia, a primeira vez que estamos juntos. Foi muito bom, foi a estreia de um monte de coisas”, finaliza.

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