A professora do ensino fundamental, Andréia Ângela de Oliveira, de 25 anos de idade, pesquisa para sua dissertação de Mestrado, há 18 meses, sobre a maneira de jovens e adultos assentados se expressarem verbalmente no dia a dia. Ela viveu até os 14 anos, morando com os pais no Projeto de Assentamento Jibóia – situado no município de Sidrolândia, distante 70 quilômetros da capital Campo Grande (MS). Andréia deixou o local para concluir o Ensino Médio e a faculdade. Atualmente é formada em Letras e dá aula para 150 alunos no Projeto de Assentamento Eldorado, vizinho ao Jibóia.
Desde criança, segundo ela, observou o vocabulário errado dos coleguinhas de escolas e vizinhos ainda na fase de criança. São exemplo destas maneiras “erradas” de falar: “tomemos café e fumo” (ou seja – tomamos café e fomos/saímos), “brinjela” (beringela), “mortandela” (mortadela). “Certa vez, já na faculdade, fui vítima de bullying, porque durante uma prática oral, errei na pronúncia da palavra acerola. Eu disse acelora, com o “L” e não com o “R”, afirmou.
Foi neste ponto de sua vida escolar que resolveu fazer mestrado e utilizar esse tema para a dissertação. O mestrado já dura um ano e meio. Quando terminar, fará o mesmo estudo para doutorado. “No caminho das pesquisas, descobri muitos preconceitos sobre o que defendem grandes pesquisadores do “falar errado está certo”. Entre eles posso citar o livro adotado pelo Ministério da Cultura “Por uma Vida Melhor” que afirma inclusive “não existir o certo ou errado em nossa língua”.
Andréia ressalta que esse tipo de comportamento citado no livro tem reforçado o preconceito e a discriminação. “Hoje, principalmente nas escolas do interior do Brasil, no meio rural, quem fala errado é chamado de glebeiro (quem vive em uma gleba de terra), no mau sentido, em tom de humilhação e não raramente desprezado pelos colegas de escola, trabalho, amigos, vizinhos que se julgam estarem em nível social mais alto que o da vítima”.
A professora está a um semestre da conclusão de sua dissertação para mestrado, cujo título é “Variação Linguística em Livros Didáticos”, que pode ser vista como uma abordagem sócio linguística, destacando o preconceito com quem fala errado. “Quero realizar um trabalho nessa dissertação, deixando bem claro a minha disposição de desmistificar o preconceito e diminuir o bullying. Há pouco tempo, uma das minhas alunas, com 20 anos de idade, que sempre viveu na vida rural, abandonou os estudos por causa da série debullying que sofreu dos colegas”, afirmou.