Campo Grande (MS) – As pessoas foram chegando devagar, aos poucos, e ocupando a arquibancada da Concha Acústica Helena Meirelles na noite fria deste domingo (4), para curtir o som bem brasileiro do músico Simão Gandhy, de Dourados, e o rock do grupo Haiwanna, que vai completar 20 anos de estrada no ano que vem.
Tem gente que foi pela primeira vez curtir o Som da Concha, como o professor de Arquitetura da UFMS Filipe Oliveira, que levou a esposa e o filho. “A gente sempre vem ao parque e minha esposa viu na internet e resolvemos passar para ver. Ela queria prestigiar a feira de economia criativa”. Filipe não conhecia os artistas. Disse que já tinha vindo na Concha num evento de dança, mas no Som da Concha é a primeira vez. Ele curte todo tipo de música, desde que seja boa.
A família formada por Quelps (pai), Roseane (mãe), Vítor e Laíssa (filhos) e José Gabriel (sobrinho) também vieram pela primeira vez para ouvir a música. “Ontem eu vi no jornal online, viemos passear hoje e ficamos”. Quelps disse que é necessária uma maior divulgação dos shows. “Não atinge o público em geral, quem vem é quem já conhece”. José Gabriel gosta de Michael Jackson, Vítor curte rock de músicos internacionais, como Linkin Park, ACDC, Imagine Dragons. Laíssa é quem mais gosta de cantar as músicas. Ela aprecia mais o sertanejo e paródias.
O professor de História Diogo Emanuel Araújo Costa já acompanha o projeto. “Já vim aqui algumas vezes. Conheço o som do Haiwanna e curto. Sou bem eclético, tirando o ritmo do povão, o resto vai. Aqui é um pouco diferente, é a cultura num sentido amplo, é muito mais profundo que essa arte mastigada. O nível do pessoal que frequenta é mais cult, isso me atrai. Fora o espaço, o verde, essa harmonia que rola”.
Sua amiga Jéssica Camargo, estudante de publicidade, foi porque gosta do espaço, aberto. “Fiquei sabendo do show pelas redes sociais e amigos. Gosto de reggae, MPV e de rock também. Nós comentamos com a galera, domingo vai rolar a Concha, aí a gente foi se reunindo e se encontrado”.
Os amigos Luigi Rotuidaro, Luís Oliveira, Renata Giancursi e Joseli Gomes foram juntos ouvir o som dos artistas da terra. Eles viram a divulgação pela internet e sempre frequentam o projeto. O italiano que mora em Paris, Luigi Rotuidaro, trabalha como comissário de bordo e pela primeira vez visita Mato Grosso do Sul. “As pessoas são muito quentes, gostei da cidade, da natureza. Este parque, por exemplo, adorei muito, tem muita tranquilidade”. A psicóloga jurídica Renata Giancursi acha ótimo o projeto. “É aberta para as pessoas, isso é essencial. Esse espaço eu acho mágico, a mistura de arquitetura com a natureza é maravilhosa”.
O músico de Dourados formado no Conservatório Souza Lima, em São Paulo, agradou o público com sua música instrumental. Ele interpretou clássicos da MPB, como músicas de Pixinguinha. Nos momentos da participação especial de Begèt de Lucena e da cantora Giani Torres, o público conferiu Cartola, Vinícius de Moraes e Noel Rosa.
Gandhy disse que começou a conhecer MPB com sua parceira Giani Torres. “Pôxa, sou brasileiro e não conheço a música”. Sua influência é da música americana e inglesa, como Eric Clapton. “Tem uns caras de Campo Grande que eu escuto, Urben. Não faço esse tipo de música, mas gosto pra caramba. Já toquei com Jerry [Espíndola], Guga Borba. O legal é que você teve a inglu~encia e depois está tocando com o cara. O Mato Grosso do Sul é muito rico, tenho observado depois que fui para fora. Estou olhando cada vez mais para nosso Estado”.
Para ele, música depende de investimento, estratégia e estudo, e não de cerveja. “Comecei a carreira em São Paulo e voltei por questões de família. Aqui é difícil, as cidades são isoladas, você não consegue fazer um tour. Como a gente tem poucas cidades e pequenas, não consegue fazer uma rota para conseguir tocar. Para viver de música tem que se organizar”.
Gandhy acha que os músicos do Estado têm que sair, tocar fora de MS. A gente é conhecido pelo sertanejo lá fora. Mas tem um monte de gente que faz outro som. Precisamos exportar outro tipo de música. Nós temos os Filhos dos Livres, Almir Sater, que temos aqui e não tem lá fora. Você vê o céu com outros olhos. Quando você sai você vê a diferença. Passei a dar mais valor porque entendo que os músicos daqui estavam dando valor ao que tem aqui”.
O artista diz que tocar no Som da Concha é uma chance para ele de sair de Dourados. “Eu toco na noite e essa música do show é um tipo de música que não toco na noite, porque lá você tem que manter a galera eufórica. Um projeto desse pode mostrar o diferente, você pode ousar”.
Logo depois subiu ao palco a banda Haiwanna, com suas músicas autorais. A banda completa 20 anos de carreira no ano que vem, mas foi depois de 15 anos de existência que se estabeleceu. Hugo Carneiro, o vocalista, afirmou que hoje os artistas vivem da música, e que só depois de 15 anos é que a banda pôde ter espaços fixos para tocar. “A banda vive o melhor momento. Este ano fizemos mais de 120 anos, o pessoal é tranquilo, temos amizade com estes novos integrantes”. A banda é formada por Danilo Lopes, no baixo, Diegomar Ciaparino, na guitarra e Walter Duailibi, na bateria, além de Hugo Carneiro, no vocal.
Já é a sexta vez que a banda toca no Som da Concha. “A gente gosta de tocar na Concha. Aqui nós tocamos nossas músicas autorais. A natureza com a música tem tudo a ver. O pessoal está caminhando e vem ver o show, é muito legal. Aqui é lindo, um espaço maravilhoso”.
Pelo projeto Som da Concha 2016 vão passar 36 bandas até janeiro do ano que vem. São shows realizados com intervalo de duas semanas entre as apresentações, sempre aos domingos, na Concha Acústica Helena Meirelles, que fica no Parque das Nações Indígenas. A entrada, como sempre, é franca.