Em 30 de novembro, lembramos o falecimento de Fernando Pessoa. Por oportuno, apresento-lhes trecho de coluna que publiquei na Folha de S.Paulo, de 26 de junho de 1988, em homenagem ao célebre vate, reconhecido como “o mais universal poeta português”:
Quanto existiu, foi praticamente desconhecido do público. Nunca teve proclamado o seu grande valor em vida. A duras penas deram-lhe o “Prêmio Antero de Quental”, Classe B, do Secretariado de Propaganda Nacional. Usaram de vários expedientes para negar-lhe o primeiro lugar. Mas a verdade surge, brilha sempre, e vai abrindo rasgos de luz nos tortuosos caminhos humanos. A vida da humanidade na Terra nunca foi fácil. Ela, porém, tem conseguido sobreviver. É bom que jamais nos esqueçamos disso.
Portugal, “Jardim à beira-mar plantado”, em dado momento da História alargou as fronteiras do progresso pela Terra e tem, latente dentro de si, todo aquele tesouro de Fé e Esperança resumidas na grandeza desses versos de Fernando Pessoa em:
Prece
“Senhor, a noite veio e a alma é vil./ Tanta foi a tormenta e a vontade!/ Restam-nos hoje, no silêncio hostil,/ O mar universal e a saudade.
“Mas a chama, que a vida em nós criou,/ Se ainda há vida ainda não é finda./ O frio morto em cinzas a ocultou:/ A mão do vento pode erguê-la ainda.
“Dá sopro, a aragem — ou desgraça ou ânsia —,/ Com que a chama do esforço se remoça,/ E outra vez conquistemos a Distância —/ Do mar ou outra, mas que seja nossa!”
e em:
Mar Português
“Ó mar salgado, quanto de teu sal/ são lágrimas de Portugal!/ Por te cruzarmos, quantas mães choraram,/ Quantos filhos em vão rezaram!/ quantas noivas ficaram por casar/ Para que fosses nosso, ó mar!
“Valeu a pena? Tudo vale a pena/ Se a alma não é pequena./ quem quer passar além do Bojador/ Tem que passar além da dor./ Deus ao mar o perigo e o abismo deu,/ Mas nele é que espelhou o céu”.
Realmente, meu caro Pessoa, “tudo vale a pena, se a alma não é pequena”. O mar hoje são todos os povos da Terra à espera de mensagem de libertação da escravatura mental, que desgraça a Humanidade. E como é grande e viva a alma de Portugal…
E o Brasil, com todo o fulgor da juventude, tem energia dadivosa, que muito bem fará ao mundo quando soar a hora plena de sua missão, de coração do mundo e pátria do Evangelho-Apocalipse. (…)
Ora, o terceiro milênio um dia não há de ser esta miséria de dores e guerras que marcaram os homens com o traço da animalidade séculos e séculos de civilização de lobos.
Que quer a Legião da Boa Vontade com o seu Ecumenismo Irrestrito?
Justamente valorizar o Espírito Imortal do ser humano, seja qual for a sua nacionalidade, crença, descrença, ideologia, cor: “O que em mim sente está pensando”, advertia Fernando.
* José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.