Itiquira (MT) – Diante da previsão do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA) de que a área cultivada com soja no Estado, hoje de 9,5 milhões de hectares (ha), atinja 15 milhões de ha em 2030, a tecnologia aplicada está de olho na incorporação de solos considerados arenosos, geralmente de baixa fertilidade. A Fundação MT – formada por um grupo de pesquisadores e entidades mantenedoras privadas – prevê que pelo menos metade dos 5,5 milhões de ha de expansão agrícola nos próximos 13 anos aconteça sobre solos arenosos.
Para tentar encaminhar isso, firmou parceria com a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja MT) e está redirecionando resultados obtidos em campos de pesquisa, ao longo de quase uma década, para aplicabilidade prática nestas áreas. “Nem sempre são terras contínuas. Muitas vezes são pedacinhos de fazendas cujas aberturas não foram planejadas e que não estão sendo ocupados economicamente”, explica o presidente da Fundação, Francisco José Soares Neto.
Este encaminhamento foi apresentado em fevereiro durante o “Fundação MT em Campo” evento para agricultores e estudiosos, realizado na Estação Cachoeira, espaço de 59 hectares voltado para pesquisa e arrendado junto à Fazenda Cachoeira, em Itiquira, MT (300 km da capital, Cuiabá).
Pelas condições de alguns talhões (solos arenosos estão presentes em praticamente todas as áreas de produção agrícola do MT) o trabalho pode até mesmo indicar a não utilização agrícola ou pecuária. “Alguns pacotes tecnológicos muitas vezes permitem o uso de solos de baixo teor de argila, mas algumas situações são inviáveis. O conceito básico de agricultura de precisão é respeitar aptidões e estamos levando isso em conta”, avisa o pesquisador Leandro Zancanaro, gestor de pesquisa da Fundação.
Como segurança científica para incorporação de novas áreas arenosas (agricultura do MT já usa dois milhões de ha nestas condições), os pesquisadores estão utilizando resultados de experimentos a campo. Dentre eles, Zancanaro desta o que considera como o principal e “mais inovador”. Foi viabilizado se utilizando de dezenas de parcelas na Estação Cachoeira. Ao longo dos últimos nove anos permitiu avaliar o desempenho da soja sob diversas situações e combinações de cultivo (soja + pousio em monocultivo; em rotação; em sucessão; em consórcios e com diferentes intervalos e plantas diversificadas para cultivo comercial ou de cobertura), sendo todas as parcelas plantadas em iguais condições de clima e solo.
Os resultados são visuais. Nos talhões onde a soja foi cultivada sozinha (seguida de pousio no período de segunda safra) ela se mostra minguada após os nove anos de plantio. Em compensação, surge vigorosa em parcelas onde, ao longo deste tempo houve cultivo em sucessão, plantas de cobertura ou consórcios. “Dessa forma, podemos avaliar o fator tempo no contexto agrícola, projetando como será a lavoura nos próximos anos”, explica o pesquisador. “A colheita que vamos ter daqui a cinco, 10 ou 20 anos será, de fato, reflexo do que nós planejamos e executamos hoje”, observa seu colega Claudinei Kappes.
Neste sentido, o primeiro passo concreto da parceria com a Aprojosa/MT foi dado no dia 17 de fevereiro, com a inauguração do Centro de Aprendizagem e Difusão (CAD) em Campo Novo do Parecis (400 km de Cuiabá). Trata-se de uma estação de pesquisa exclusiva para produtores ligados à associação voltada para o desafio do cultivo de soja em solos arenosos. Ocupa parte da fazenda Vô Arnoldo, propriedade da Agroluz Agropecuária Ltda.