Usar água de forma consciente não sai da moda

Fernando Jorge Correa Filho, coordenador dos cursos de Engenharia da UCDB – Foto: Divulgação

É comum após o período de seca e a volta das chuvas, as pessoas pensarem que o estresse hídrico passou e que não mais é preciso planejar. Entretanto, quando os níveis dos reservatórios aumentam, já nos esquecemos e deixamos de nos preocupar. Valorizamos as ações de gestão de recursos hídricos apenas quando falta água, sendo que deveria ser ao longo de todo ano.

O semiárido nordestino vive essa crise hídrica há mais de 100 anos, e luta por políticas públicas que viabilizem o acesso à água de qualidade. Infelizmente, a temática da crise da água só teve destaque quando a necessidade de racionamento ou medidas técnicas, como a diminuição da pressão foram adotas em São Paulo, em função da representatividade econômica e populacional no cenário nacional. Minas Gerais, por exemplo, também já vinha e vem sendo castigada pela falta de água. Atualmente, temos a Capital federal também com necessidade de racionamento.

A outra preocupação é com os aquíferos do grupo Serra Geral, que são bastante utilizados e estudos mostram teores de ferro acima do permitido para consumo, além de outras práticas que deterioram essa qualidade, como aplicação de vinhaça no solo e herbicidas. Em Mato Grosso do Sul, nossa condição se torna favorável com o Aquífero Guarani, entretanto estudos apontam uma redução no volume disponível.

Vale ressaltar que nosso consumo proveniente de águas superficiais tem sido afetado em função do uso e ocupação do solo inadequado, com a falta de práticas conservacionistas, deteriorando a qualidade da água, tornando mais cara, pois embora haja volume disponível, o tratamento vem se tornando mais oneroso em função das dificuldades operacionais e de manutenção que aumentam.

Por isso, neste mês em que se comemora o Dia Mundial da Água, precisamos sim falar do uso consciente dessa riqueza natural chamada água e retomar a sua importância e relevância para nosso Estado. Afinal, quando pensamos em nossa matriz econômica, baseada em agronegócio, devemos refletir: qual o volume de água necessário para se produzir uma cabeça de gado ou uma saca de soja? O preço dessa água é embutido nesse valor? Qual o volume de água estamos exportando todos os anos?

O que está ao nosso alcance efetivo é se preocupar com desperdício desse bem natural em casa, no banheiro, como um banho mais demorado, enquanto nos ensaboamos a água cai sem uso efetivo, quando deixamos a torneira aberta no lavatório para escovar os dentes e fazer a barba, além do grande volume nas descargas dos sanitários. Há desperdício também ao lavar a louça com a torneira aberta, a água do tanque ou da máquina de lavar roupa que jogamos no esgoto, ao invés de lavar pisos e janelas, ou irrigar o jardim. Gastamos muito quando lavamos o carro com a mangueira aberta, entre outras situações cotidianas. Entretanto, a pior é quando compactuamos de alguma forma com as fraudes e com irregularidades.

Além de fazermos a nossa parte no dia a dia, também precisamos de políticas públicas com redução de impostos para incentivar a população a tomar medidas de reuso da água utilizada. Como exemplo, temos ações simples, como a opção de captar e aproveitar a água de chuva e o que chamamos de água cinza, aquela do chuveiro, do banho, da máquina de lavar roupa que ao invés da instalação hidráulica estar conectada com o esgoto, permita que sistemas naturais de tratamento e reuso domiciliares possibilitem o uso.

Além dos incentivos fiscais é fundamental que as prefeituras e órgão responsáveis estejam atentos e tenham capacidade de fiscalizar, monitorar e garantir o incentivo à população que demonstra interesse, preocupação e toma a decisão acertada de fazer a gestão da água domiciliar garantindo a sustentabilidade. Usar água de forma consciente não sai da moda!

* Fernando Jorge Correa Magalhães Filho, coordenador dos cursos de Engenharia Civil e Engenharia Sanitária e Ambiental da UCDB

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