Atleta Joelma Neves participando da Maratona do Troféu Brasil – Foto: Ivan Storti
O corpo esguio dá entender que biótipo poderia ser de uma fundista, bem diferente de suas companheiras de prova, sempre mais musculosas, sobretudo nas pernas. Mas Joelma das Neves Souza (Unimes) supera a diferença corporal com facilidade. Tanto que é hoje uma das melhores velocistas do País nos 400 metros, atual vice-campeã do Troféu Brasil, integrante da seleção brasileira no Mundial, agora no Pan de Toronto e já classificada para a Rio 2016.
A superação, aliás, faz parte de sua vida. Este será o seu segundo Pan, mas poderia bem ser o terceiro. Quando estava em grande fase e sonhando com o Rio 2007, descobriu um câncer no ovário, que a deixou afastada das pistas por mais de um ano. “Até pensei que ia conseguir me recuperar e fazer o índice, mas estava debilitada, infelizmente”, lembra a atleta de 31 anos, que compete pelo Pinheiros e tem patrocínios da Marinha do Brasil e Bolsa Atleta.
Atleta Joelma Neves comemorando seu aniversário – Foto: Arquivo Pessoal
A mudança em sua vida ocorreu no final de 2005, mas em nenhum momento pensou em desistir. “Estava em preparação na minha cidade para o Campeonato Norte-Nordeste Adulto e me senti estranha. Cheguei a terminar o treino, procurei um médico, fiz exames. Foi de repente. Para mim, foi uma prova a mais a ser vencida. Voltar era o que me motivava”, conta.
“Desde que soube do câncer, que fiz o tratamento, sempre tive fé que iria superar. Sabia que iria passar por aqui e iria dar a volta por cima e seria melhor. Graças a Deus, foi o que aconteceu”, complementa a atleta, que teve como recompensa por seu talento, mesmo longe das provas, e por sua superação, ser escolhida para carregar a tocha em sua cidade. “Agora, vou para mais um Pan. Lembro o que aconteceu, que o Pan que eu queria era o do Rio e não pude estar. Depois, consegui ser medalhista logo no primeiro”, diz Joelma, que nos Jogos de Guadalajara/ México, quatro anos atrás, foi prata no revezamento e sétima no individual.
Desta vez, a expectativa é garantir medalha nas duas provas. “O objetivo é fazer o melhor, brigar por medalha, mesmo sabendo que o Pan estará muito forte”, diz Joelma, lembrando que nas provas terão como principais rivais as duas maiores forças do atletismo, norte-americanas e jamaicanas.
Aos 31 anos, completos no último dia 13, Joelma começou nas corridas aos 12, numa escolinha de atletismo em Timão, no Maranhão. Chegar à distância que é hoje uma das melhores foi natural. “Comecei a correr os 100 metros. Minha resistência foi melhorando, fui para os 200 e 400, onde me adaptei mais. Mas sempre fazia as três provas”, recorda a velocista.
Atleta Joelma Neves no Mundial de Revezamento nas Bahamas – Foto: Arquivo Pessoal
E foi assim, correndo nas três disputas, que chamou a atenção dos principais treinadores e se mudou para São Paulo. “Venci o Norte-Nordeste. Quebrei o recorde da competição nos 200 e 400. Se não tivesse queimado nos 100, teria ganhado também. Talvez não tivesse quebrado o recorde, mas estava bem. E assim, fui chamada para São Paulo”, conta a atleta, que inicialmente competiu pela BM&F Bovespa, orientada por Katsuhico Nakaia.
Desde 2010, é treinada pelo santista Sanderlei Parrela, especialista nos 400m e quarto colocado na Olimpíada de Sydney/2000. A relação com Santos é ainda mais evidenciada por estudar Educação Física na FEFIS/Unimes, garantindo ser boa aluna. “Não quero só passar pela faculdade. Quero aprender, melhorar”, argumenta a atleta, que também representou o Brasil na Olimpíada de Londres/2012 e se prepara para a Rio 2016. “Será um momento mais do que especial”, ressalta, sempre com sua fala calma, tom baixo e que leva na “esportiva” o seu biótipo.
“Todo mundo fala isso. Acham que corro maratona. Perguntam se corro a São Silvestre, os 10 KM Tribuna FM e digo: não, sou velocista. E me perguntam se é a corrida tipo do Bolt e completam: nossa, não parece. Você é tão magrinha”, relata rindo e emendando que a diferença física e visível não interfere. “Se está bem treinada, bem preparada. O meu biótipo é de ficar forte, não musculosa”, completa a atleta, que depois do Pan já tem agendado o Mundial de Atletismo, em agosto, na China.
A “corrida” pelas medalhas no Pan de Toronto começa nesta quarta-feira (22), com as semifinais individual e a decisão no dia seguinte. Já na sexta-feira (24) será a vez do revezamento, com a final no sábado.
Fonte: FMA Notícias
