A lista de verificação de segurança cirúrgica da Organização Mundial da Saúde (OMS) foi desenvolvida após uma extensa consulta a especialistas mundiais, com o objetivo de diminuir erros e eventos adversos decorrentes de procedimentos cirúrgicos, através do estímulo ao trabalho em equipe e a melhor comunicação entre as equipes envolvidas com cirurgias.
A utilização de uma lista de verificação prévia ao ato cirúrgico propriamente dito tem demonstrado uma redução significativa tanto na morbidade quanto na mortalidade, e agora é usada pela maioria de serviços cirúrgicos em todo o mundo.
Cirurgia é, muitas vezes, a única terapia que pode aliviar deficiências e reduzir o risco de morte de condições comuns. Todos os anos, milhões de pessoas são submetidas a tratamento cirúrgico, e as intervenções cirúrgicas representam cerca de 13% dos anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs, na sigla em inglês).
Enquanto os procedimentos cirúrgicos são destinados a salvar vidas, cuidados cirúrgicos inseguros podem causar danos substanciais, que podem ser traduzidos em números: a taxa de mortalidade bruta relatada após grandes cirurgias varia de 0,5-5%; complicações pós-operatórias ocorrem em até 25% dos pacientes; pelo menos metade dos casos em que a cirurgia causou dano seria evitável; em países industrializados, quase a metade de todos os eventos adversos em pacientes hospitalizados está relacionada ao cuidado cirúrgico; a mortalidade somente por anestesia geral é de uma em 150 anestesias, em algumas partes da África subsaariana.
Estudos têm demonstrado a redução significativa desses eventos pela aplicação das recomendações da OMS para cirurgia segura. Para este fim, grupos de trabalho de especialistas internacionais foram convocados para revisar a literatura e as experiências de médicos ao redor do mundo. Eles chegaram a um consenso sobre quatro áreas em que melhorias dramáticas poderiam ser feitas na segurança dos cuidados cirúrgicos: prevenção de infecção do local cirúrgico, anestesia segura, equipes cirúrgicas seguras e avaliação dos serviços cirúrgicos.
A OMS recomenda três etapas de verificação: antes da entrada do paciente na sala de cirurgia (check-in), na sala de cirurgia, antes da incisão cirúrgica (time-out) e após o término da cirurgia (check-out).
Antes da entrada, verificar se:
– Foi confirmada a identidade do paciente, o local da cirurgia, o procedimento e se ele concorda com a cirurgia;
– O local da cirurgia foi marcado;
– Os equipamentos de cirurgia e anestesia e outros foram verificados e concluídos como adequados;
– O oxímetro de pulso foi colocado no paciente, e se ele funciona;
– Há alergias conhecidas;
– Existe uma via aérea difícil e risco de broncoaspiração;
– Há materiais e equipamentos/assistências disponíveis;
– Há risco de sangramento maior que 500 ml e, em crianças, que 7 ml/kg;
– Em caso desse risco, há sangue ou hemoderivados disponíveis e acesso venoso adequado.
Antes da incisão cirúrgica, deve ser conferido:
– A presença de todos os membros da equipe, pelo nome e função.
– A identidade do paciente, o local da cirurgia e os procedimentos a serem realizados.
– Se foi administrada a profilaxia antibiótica nos últimos 60 minutos, se pertinente,;
– Quais os eventos críticos previsíveis
– Quais são os passos críticos ou não sistematizados
– Quanto tempo levará o procedimento
– Qual é a perda esperada de sangue
– Há algum problema específico do paciente
– A esterilização adequada de todo material está confirmada
– Existem quaisquer dúvidas ou problemas relacionados aos instrumentos e equipamentos
– As imagens de exames estão disponíveis e podem ser exibidas
Antes de o paciente sair da sala de cirurgia:
– O nome do procedimento é confirmado;
– Há contagem/conferência dos instrumentos, esponjas e agulhas utilizadas;
– Fazer a identificação das amostras obtidas para exames (ler a etiqueta, em voz alta, incluindo o nome do paciente);
– Relatar se houver problemas para resolver relacionados aos instrumentos e equipamentos;
– Abordar os aspectos críticos da recuperação e do tratamento do paciente.
A lista de verificação tem demonstrado uma redução significativa, tanto na morbidade quanto na mortalidade ocasionadas pelos procedimentos cirúrgicos, em geral. A OMS lançou, recentemente, a lista de verificação do parto seguro, que também ajudará os profissionais de saúde a seguirem os padrões de cuidados essenciais para cada nascimento.
Apesar dos resultados, o Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA), em parceria com o Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC), criou um Manual de Padrões para Cirurgia Segura que, além de incluir a lista de verificação da OMS, define uma série de padrões a serem seguidos, no pré-operatório, na cirurgia e no pós-operatório, conferindo mais segurança para os procedimentos cirúrgicos e invasivos no Brasil. Entre os padrões brasileiros avaliativos da segurança dos procedimentos cirúrgicos e invasivos, criados pelo CBA/CBC, estão: a gestão dos serviços de cirurgia e de anestesia; aquisição e manutenção de equipamentos e instrumentais ligados direta e indiretamente à cirurgia; ambientação e infraestrutura cirúrgica; programa de qualidade para cirurgia segura; envolvimento de pacientes e familiares no processo decisório para cirurgia; prevenção de infecção; adesão à lista de verificação da OMS; concessão de prerrogativas profissionais; monitoramento anestésico e de recuperação anestésica e cirúrgica; monitoramento por indicadores, entre outros, que, somados, chegam a 43 padrões de qualidade.
* José de Lima Valverde Filho é médico e Coordenador de Acreditação do Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA)