Que álcool e direção não combinam todo mundo sabe. Agora, quando o assunto é o consumo de sucos, refrigerantes ou mesmo água dentro do carro há um senso comum de que se trata de um hábito inocente, mesmo se praticado pelo motorista. Mas não é bem assim; tudo que desvia a atenção do trânsito pode causar acidentes e trazer prejuízo.
A publicitária Ana Elisa Kirschner tem 27 anos e aderiu ao costume desde que se habilitou, aos 18. Ela bem sabe como esse hábito pode custar caro. “Bebo muito líquido, principalmente água, por isso sempre levo uma garrafa ou copo grande. Meus carros precisam ter bons porta-copos, porque eles também são usados para apoiar meu celular”, diz.
Uma noite, saindo de um restaurante com amigas, ela conta que colocou a bebida que consumia no porta-copos. “Precisei ligar meu GPS porque não sabia ir embora da onde estava e, sem perceber, mergulhei o celular no copo cheio. A música parou e o GPS também, só aí vi o que eu tinha feito”, lembra. O prejuízo foi grande: Ana Elisa perdeu o iPhone 4S com quatro meses de uso, além de fotos e músicas.
O gerente comercial Fabio Luis Rosa, de 36 anos, também não dirige sem a companhia de um líquido. “Sempre compro água, suco, refrigerante ou energético voltando para casa do trabalho. É uma maneira de tornar o trajeto de uma hora um pouco menos estressante”, diz. Ele nunca se envolveu em acidentes, mas também já teve prejuízos. Em uma viagem para Belo Horizonte (MG) com a mulher e um casal de amigos, todos consumiram muita bebida. “Colocávamos as latas de refrigerante e garrafas no chão, e, depois, passamos para um saco de lixo. Meu amigo, que estava no banco do passageiro e já tinha bebido muita cerveja, misturou as latas com meus CDs e DVDs e acabou jogando tudo fora”, conta, reforçando que eram 20 no total.
Para a gerente de marketing Marcella Puglia, 38 anos, consumir bebida no carro é uma saída quando há várias tarefas programadas no mesmo dia. “Normalmente faço isso quando tenho reunião na escola das minhas filhas ou compromissos do trabalho e tenho pouco tempo para almoçar. Como meu carro é automático e tenho local para copo e garrafa, é tranquilo”, diz.
Para Dirceu Alves Rodrigues Júnior, diretor da Associação Brasileira de Medicina no Tráfego (Abramet), o fato de a maioria dos veículos terem porta-copos reforça a ideia de que o hábito é inofensivo, o que para o especialista não é verdade: “Se a bebida for consumida em copo ou garrafa, o movimento de inclinar a cabeça para trás, com o objeto na frente do rosto, faz com que o motorista perca a visão 360 graus, fundamental para uma condução segura”.
Pode parecer pouco tempo, mas três a quatro segundos com o carro a 100 km/h são suficientes para que o veículo percorra até 120 metros sem a atenção do condutor. “E falta de atenção é a quinta causa de acidentes de trânsito no mundo”, afirma Júnior. Com bebidas quentes é ainda mais arriscado: “Se o líquido derramar na pele, o motorista pode se assustar e ter uma reação imprevisível”.
Para quem ainda não se convenceu de que não vale a pena o hábito do motorista beber – qualquer liquido – com o carro em movimento, mais um motivo para pensar: dirigir sem uma das mãos no volante é infração média de trânsito punida com multa de R$ 85,13 e quatro pontos na habilitação. As exceções são quando é preciso trocar marcha, acionar equipamentos e acessórios ou fazer sinais regulamentares com o braço.