O Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop) completou em setembro, 19 anos de existência. Tido como uma das maiores conquistas do movimento cooperativista brasileiro, o Sescoop integra o Sistema OCB, composto pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e pela Confederação Nacional das Cooperativas (CNCoop). Juntas, essas três entidades trabalham pelo desenvolvimento e fortalecimento da atividade cooperativista no Brasil.
O presidente do Conselho Nacional do Sescoop, Márcio Lopes de Freitas, fez um balanço contendo os principais números da entidade, falou ainda sobre os desafios a serem superados e sobre a importância da confiança para o cooperado brasileiro.
“É bom ressaltar que o principal capital de uma cooperativa é a sua gente, que coloca a mão na massa, que acorda cedo e vai à luta. O cooperado brasileiro é alguém que acredita no bem coletivo e que trabalha para isso… é alguém que encontra, na confiança, o combustível ideal para chegar ao fim do dia e, ao deitar a cabeça no travesseiro, ter a certeza de que fez o melhor pela cooperativa e pelo Brasil”, comenta a liderança cooperativista.
Confira a entrevista.
– Qual o papel do Sescoop no fortalecimento do cooperativismo brasileiro?
MLP: Bom, o Sescoop é e sempre será uma das maiores conquistas do movimento cooperativista brasileiro. Ele é o braço forte das cooperativas, focado na melhoria da gestão, na formação e no aperfeiçoamento profissional de colaboradores e de cooperados e, ainda, no monitoramento dessas cooperativas.
Assim, desde sua criação, em 1998, o Sescoop tem demonstrado ser a grande ferramenta que possibilita a autogestão do cooperativismo no Brasil, já que oferece todas as condições para alavancar a evolução tanto dos processos internos quanto dos profissionais responsáveis por eles.
Com essa visão ampliada do cooperativismo, o Sescoop sai da adolescência e alcança a maturidade com uma bagagem de entregas e resultados impressionante e, junto com a OCB e a CNCoop, vai consolidando o posicionamento das cooperativas brasileiras para que sejam, de fato, reconhecidas pela sociedade por sua competitividade, integridade e capacidade de promover a felicidade não apenas de cooperados, mas de todos aqueles que, de uma forma ou de outra, faz da cooperação uma prática de vida.
– Ao longo desses 19 anos, quais as maiores conquistas do Sescoop?
MLP: Vejo que o Sescoop tem feito seu dever de casa com muita preocupação e dedicação. Ao oferecer programas e publicações voltados à capacitação de cooperados, empregados e à promoção da cultura cooperativista nas comunidades, tem disseminado os ideais do cooperativismo e, assim, mostrado o nosso jeito mais humano de fazer negócio.
Para se ter uma ideia, se a gente considerar apenas as ações de qualificação profissional, veremos que elas envolveram mais de 1,2 milhão de brasileiros. São profissionais que vão sendo absorvidos pelas cooperativas e isso enriquece o nosso movimento, já que com uma mão-de-obra mais bem preparada, os resultados sempre são melhores. É uma relação de ganha-ganha.
Acho que vale destacar também que se a gente considerar o público jovem, ou seja, crianças a partir de seis anos e adultos com até 24 anos, o Sescoop já realizou quase 800 mil atendimentos em 18 estados.
O que é importante ressaltar com esses dados é que as crianças aprendem os valores da cooperação e se tornam adultos mais preparados para produzir e consumir; e, se olharmos os mais velhos, veremos que eles têm 80% a mais de chance de conseguir um emprego seja ele na cooperativa ou em outras empresas. Esses dados fazem parte de uma pesquisa realizada pelo Senai que mostrou que os jovens com qualificação, como a que o Sescoop oferece, por exemplo, conseguem melhores empregos e com salários até 12% mais altos.
Já sob o ponto de vista da gestão e da governança, o Sescoop oferece programas que possibilitam visualizar o grau de maturidade das cooperativas, os pontos a serem corrigidos e a melhor forma de fazer isso. Cerca de duas mil cooperativas já foram diretamente beneficiadas e aumentaram seus resultados, graças à implementação de práticas da boa gestão.
E ainda temos um prêmio que valoriza e estimula a adoção dessas boas práticas. Trata-se do Prêmio Sescoop Excelência de Gestão que ocorre a cada dois anos. O objetivo dele é tornar as cooperativas mais fortes e preparadas para atender aos públicos que não param de se atualizar e demandar, cada vez mais, um compromisso com a ética.
Por último, temos as ações sociais desenvolvidas pelas cooperativas e apoiadas pelo Sescoop, por meio do maior programa de responsabilidade socioambiental do cooperativismo nacional: o Dia de Cooperar, que já beneficiou quase 1,2 milhão de brasileiros. Ou seja, temos muito a celebrar nesses 19 anos.
– Considerando o planejamento estratégico do Serviço, quais são os maiores desafios da instituição?
MLP: Temos muitos desafios ainda, é fato, mas credito que o maior de todos eles é ampliar o conhecimento da sociedade a respeito das práticas cooperativistas. Tem muita gente que consome produtos e serviços de cooperativas diariamente e nem se dá conta disso. Por isso, em breve, teremos uma grande campanha de publicidade mostrando que o cooperativismo está mais presente na rotina do brasileiro do que ele imagina.
Essa mesma campanha tem, ainda, um foco extra: o cooperado. Queremos ampliar o sentimento de pertencimento de quem produz ou presta serviços cooperativos. Somos o modelo econômico que melhor valoriza as pessoas, sem discriminação ou preconceitos. Aliás, é bom ressaltar que o principal capital de uma cooperativa é a sua gente, que coloca a mão na massa, que acorda cedo e vai à luta. O cooperado brasileiro é alguém que acredita no bem coletivo e que trabalha para isso. É alguém que encontra, na confiança, o combustível ideal para chegar ao fim do dia e, ao deitar a cabeça no travesseiro, ter a certeza de que fez o melhor pela cooperativa e pelo Brasil.
Outro item que será sempre um desafio é a qualificação da nossa gestão. Como empresas, precisamos estar conectados com o que há de melhor no mercado para nos posicionar de forma cada vez mais competitiva, com produtos e serviços que atendam às necessidades do público consumidor.
Dentro da gestão há ainda a vertente de cuidado com o cooperado, que, como ressaltei, é a razão de ser de uma cooperativa. É quem está à frente de todo o processo, seja ele produtivo ou na prestação de um serviço. Isso quer dizer a busca por uma gestão excelente significa investir, também, na qualificação profissional dessas pessoas.
– Em um momento de crise econômica, qual a importância de valores como austeridade e transparência?
MLP: A sociedade brasileira vem sofrendo, já tem um tempo, os efeitos graves de uma crise política com profundos impactos econômicos e é por isso que tenho repetido, sempre que posso, que é necessário ter confiança para continuar trabalhando e produzindo. E confiança é algo que é conquistado. Não nasce por aí, solto, sem dedicação, cuidado e atenção… especialmente às normas.
No caso do Sescoop, sem transparência e austeridade não tem ação! É simples! As cooperativas são as grandes fiscalizadoras da aplicação dos recursos que mantêm as atividades e programas do Sescoop em andamento. É por isso que, quanto mais próximas elas estiverem da gestão das organizações estaduais, mais efetivas serão essas ações.
Num cenário que envolve escassez de recursos, palavras como austeridade e transparência são essenciais para o cultivo daquilo que, na minha opinião, faz diferença no mundo de hoje: confiança. Honestidade é dever de todos aqueles que gerem o que é público. Afinal, a palavra ‘público’ não diz respeito a algo que não tem dono. É justamente o contrário: ‘público’ significa algo que pertence e serve a todos!
E, dessa forma, o Sescoop vai pavimentando o caminho do desenvolvimento sustentável das cooperativas brasileiras. Parabéns ao Sescoop e a todos aqueles que se dedicam à causa cooperativista. Se o cooperativismo vai bem, o Brasil também!
Fonte: Sistema OCB