ONG Visão Mundial lança pesquisa sobre os principais problemas na região da Cracolândia

Abuso, negligência e exploração foram os questionamentos de mais de 500 crianças e adolescentes que vivem na capital paulista. Lançamento acontece na sexta-feira (08) na Missão Cena.

Cracolândia em São Paulo (SP) – Foto: Divulgação

São Paulo (SP) – Trabalho infantil, acesso fácil às drogas, atividades ilícitas, entre outras situações de risco não colaboram para uma infância digna de crianças e adolescentes. Essa é a realidade da população infantil que vive nas ruas do centro de São Paulo. Nesse sentido, a Visão Mundial – organização não governamental humanitária especializada na proteção à infância, em parceria com outras organizações, realizou uma pesquisa que destaca dados inéditos sobre os principais problemas das crianças e adolescentes na região da Cracolândia. O lançamento vai acontece na sexta-feira (08), na Missão Cena, em São Paulo.

O diagnóstico “A Criança no centro: um retrato das infâncias na cidade de São Paulo” destaca a realidade de 586 crianças e adolescentes entre 03 a 17 anos que são atendidas pelas organizações IBTE, Novos Sonhos, Missão Cena e JEAME, e que foram ouvidas por meio de questionários. A pesquisa analisou, com faixas-etárias separadas de 02 a 06 anos, de 07 a 11 anos e 12 a 17 anos, questões do bem-estar e violação ao direito à alimentação, lugares em que as crianças e adolescentes gostam de estar, urgência de proteção infantil, violação à proteção: abusos, negligência e trabalho infantil e desrespeito explícito dos direitos como falta de cuidado, contato precoce com as drogas, atos infracionais, além da renda familiar e o desafio da empregabilidade no centro.

O objetivo da pesquisa é qualificar a intervenção das organizações envolvidas na assistência das crianças e adolescentes do centro de São Paulo por meio do entendimento das necessidades dos públicos variados e, com isso, ampliar a capacidade de atuação das organizações e da sociedade civil a fim de que se tenha um resultado melhor dos mais vulneráveis da região.

“Há mais de um ano observamos as crianças e adolescentes do centro que estão submetidas a uma sorte de violação dos direitos fundamentais previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente. Elas residem em locais insalubres, são filhos e filhas de famílias numerosas, sem local público para brincar e estão suscetíveis a fácil acesso às drogas, e vítimas generalizadas das diferentes violências”, conta o gerente de projetos especiais da Visão Mundial, Raniere Pontes.

Mesmo com a situação alarmante, a Visão Mundial acredita que há uma possibilidade de transformação da realidade das crianças e adolescentes. “Mais de 70% da população infantil acredita que os projetos sociais ajudam em seu desenvolvimento. É preciso que todos nós, em parceria com iniciativa privada, organizações sociais e governo municipal nos juntemos para transformar positivamente a cruel realidade das crianças e adolescentes que compromete os seus futuros”, afirma Raniere.

PRINCIPAIS RESULTADOS

Crianças de 02 a 06 anos

– Insegurança alimentar: no geral, 100% das crianças afirmaram que se alimentam em casa; destas, 88% também acessam comida no projeto, 22% também se alimentam na escola e 29% na rua.

– Rua e o lugar da criança: a maior parte das crianças (88%) gosta de ficar em casa, 12% preferiu não responder à questão ou disse não gostar das suas casas. A rua aparece como 51% de preferência, os projetos como 80% e a escola como 20%.

– Urgência da proteção infantil: dados apontam que 51% das crianças estão em situação de extrema violação dos direitos.

Crianças de 07 a 11 anos

– Educação na idade certa: todas as crianças declararam estar na escola, mas os dados apresentam distorção em relação à série e idade, pois 73% das crianças estão na idade certa, 12% em distorção e 15% de respostas foram inconsistentes.

– Bem-estar e violação ao direito à alimentação: quando 81% das crianças entrevistadas afirmaram que não dormem com fome, revela-se o dado de que 19% delas dormem com fome ou não souberam responder essa questão.

– Violação à proteção: abusos, negligência e trabalho infantil: pelo menos 37% dos participantes declararam sofrer alguma violência. Cerca de 70% são vítimas de violência doméstica.

– Trabalho infantil: 12% das crianças nessa faixa-etária responderam “sim” quando questionadas se trabalham. 78% não mencionam nenhuma atividade caracterizada como trabalho, 16% realizam atividades domésticas e 6% declararam atividades que se configuram como trabalho infantil.

– Projeto e apoio a vida: 93% das crianças respondeu que o projeto ajuda em casa, 90% afirmou que ajuda na escola, 91% que ajuda com os amigos e 93% afirmou que o projeto ajuda na alimentação.

Crianças e adolescentes de 12 a 17 anos

– Escola e distorção de idade: 6% indicou estar em séries antecipadas, acima do esperado para sua idade, 39% estão na idade certa, 49% das crianças estão em situação da distorção de idade e série, 4% está fora da escola e 3% não quis responder à pergunta.

– Insegurança alimentar e questão nutricional: 79% afirma que “não” foi dormir com fome, enquanto 14% não quis responder ou deixou a pergunta em branco, 8% afirmou que sim, elas ou alguém da família foi dormir com fome.

– Bem-estar e a escada da vida: foi realizado um exercício onde o adolescente imagina sua vida como uma escada de 8 degraus e correlaciona a pior vida com o degrau 1 e a melhor com o degrau 8, onde 34% dos adolescentes disseram que têm a melhor vida possível, 50% deles se posicionaram em níveis medianos e 16% se colocaram nos primeiros degraus da escada da vida (baixa perspectiva).

– Violações explícitas dos direitos: 

  1. a) Local de risco: foi perguntado aos adolescentes se eles poderiam identificar pelo menos dois riscos ligados à proteção; 22% disseram que saberiam identificar e 26% disseram que não conseguiriam identificar; outro grupo, de 52%, não quis responder ou deixou em branco.
    No geral, 68% dos riscos referem-se a condições comunitárias e ações repressoras do Estado, 21% a fatores do ambiente familiar (moradia, maus tratos, relações interpessoais violentas) e 11% atribuíveis a fenômenos sociais.
  2. b) Falta de cuidado: 34% responderam “já gritou comigo”, 46% afirmaram “insultou-me, me xingou, falou mal de mim”, 69% “bateu em mim, me deu um tapa, um murro com suas mãos, mas sem nenhum objeto, ou me chutou” e 78% responderam “me maltratou fisicamente de outra forma”.
  3. c) Contato precoce com as drogas: 3,8% declararam usar maconha algumas vezes e a mesma quantidade já fumou cigarro; já álcool 25% já teve contato algumas vezes e 1,3% usa com frequência.
  4. d) Atos infracionais: 79% nunca tiveram contato com furto/roubo, outros 13% responderam que já estiveram envolvidos em algum momento com atos infracionais especialmente roubos/furtos, 8% preferiu não responder.
  5. e) Exploração do trabalho: 76% não trabalha, 5% não respondeu e na soma, 19% dos adolescentes trabalha às vezes ou sempre (e não é em programas oficiais) de vendedores de milho, balas e chicletes a ajudantes em lojas e lanchonetes.

– Lugar do projeto na vida: foi perguntado onde eles estariam se não estivessem no projeto. 43% responderam que estariam em casa ou em família, 3% na escola, 5% na praça, 11% na rua, 18% não sabem onde estariam, 1% acompanharia a mãe no trabalho, 4% estaria em outros projetos e 15% deixaram a pergunta em branco.

– Projeto e ajuda na vida: 55% dos meninos e 31% das meninas afirmaram que o projeto contribui para seu futuro.

Sobre a Visão Mundial

A Visão Mundial Brasil integra a parceria World Vision International, que está presente em cerca de 100 países. No País, a Visão Mundial atua desde 1975 em 10 estados, beneficiando 2,7 milhões de pessoas com projetos nas áreas de educação, saúde/proteção da infância, desenvolvimento econômico e promoção da cidadania. Seus projetos e programas têm como prioridade as crianças e adolescentes que vivem em comunidades empobrecidas e em situação de vulnerabilidade. Mais de 70 mil crianças são atendidas anualmente pela organização.Nesses mais de 40 anos de atuação no Brasil, a Visão Mundial se consolida como uma organização comprometida com a superação da pobreza e da exclusão social – visaomundial.org.br.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Topo