Campanha de rádio do MPT e UFRR combate xenofobia

"O respeito é um idioma universal", diz o trecho de um dos áudios produzidos por estudantes.

Foto: Divulgação

Brasília (DF) – Uma parceria entre o Ministério Público do Trabalho (MPT) em Roraima e estudantes do curso de Comunicação Social da universidade federal do estado resultou na elaboração de uma campanha de rádio contra a xenofobia e a discriminação de pessoas pela origem ou nacionalidade. Provocados pela procuradora do MPT Priscila Moreto de Paula, estudantes da universidade decidiram abraçar a causa e abordaram a questão no trabalho final de uma disciplina do 5° semestre do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Foram então produzidos spots para rádio com mensagens que pregam o respeito aos direitos humanos de todas as pessoas.

Desde o início do ano passado, a migração de venezuelanos para Roraima vem se intensificando e gerando reações hostis de parte da população local. Foram registrados casos recentes de incêndios em residências onde venezuelanos estão morando. Segundo a procuradora, o MPT em Roraima, juntamente com outras instituições, vem atuando para garantir o respeito aos direitos dos imigrantes venezuelanos e a inserção laboral deles. A campanha do MPT com a universidade reforça a necessidade de respeito aos direitos de todos. “O objetivo é combater a xenofobia na localidade, fazer um contraponto a reações de discriminação por conta da nacionalidade. Somos todos migrantes”, afirmou a procuradora.

A professora que ministra a disciplina e orientou os alunos durante a realização do trabalho, Antônia Costa da Silva, explica que a iniciativa foi dos próprios alunos. “Dentro da disciplina foi feito o projeto, e foi feita toda a produção pelos alunos. Foi todo feito no nosso estúdio de audiojornalismo, e o projeto se tornou a nota final dos alunos envolvidos nesse projeto”. “Foi nota 10, lógico”, completou em tom descontraído.

A acadêmica da UFRR vem buscando a inserção dos spots, de 30 segundos de duração cada, em rádios locais. “Três rádios já estão veiculando, a FM Monte Roraima – que é a da diocese, a qual eu tenho acesso, pois tenho um programa de rádio lá –, na rádio universitária da UFRR, e uma rádio comunitária chamada Parente”. Além disso, a procuradora Moreto de Paula irá solicitar às rádios no estado que veiculem os áudios da campanha. Também serão usadas as redes sociais para difundir o material.

A campanha – Com frases elaboradas pelos alunos, os áudios exploram a questão da xenofobia com mensagens curtas e objetivas. Em alguns dos spots, há a participação de migrantes buscados pelos próprios alunos. “Sou Jaqueline, paulista, militar em Roraima. Sou Mojifro de Matos, Guiné Bissau, moro em Boa Vista há 5 anos. Sou Arlinhas, venezuelana, estudo na Universidade Federal de Roraima. Somos migrantes e o nosso idioma é o respeito. Uma campanha contra a xenofobia do Ministério Público do Trabalho e do curso de comunicação social da Universidade Federal de Roraima”, diz um dos áudios.

Tainá Aragão, uma das estudantes idealizadoras do projeto, participa do Grupo Interdisciplinar de Fronteiras, da UFRR vinculado à Ciências Sociais, onde foi possível estabelecer contato com migrantes de diversas origens, inclusive venezuelanos. A futura jornalista conta sobre a personagem que mais a marcou durante o desenvolvimento do projeto. “Cada história é única, mas o que me marcou muito foi a questão de uma jornalista que está trabalhando como empregada doméstica. Ela tinha uma revista alternativa, ela já trabalhava com comunicação alternativa na Venezuela, etc., e me marcou muito não só pela história – porque todas as histórias são marcantes –, mas porque quando a gente foi gravar com ela, a levou na rádio, ela ficou muito emocionada.

É como se aquele espaço realmente fosse o espaço que ela queria estar, que ela sempre sonhou em estar e etc., e por esse acaso ela teve que largar. Pela crise econômica e política que o país dela está passando, ela teve que largar esse sonho”, contou a estudante.

Para Tainá, a campanha irá ajudar a promover a conscientização da população do estado sobre a importância da tolerância entre nacionalidades. “Eu vejo que vai sim ter um impacto positivo, porque ainda está sendo veiculado, estão começando a ser veiculados agora esses spots, e nosso objetivo é que a gente continue trabalhando nesta questão de produção de conteúdos contra xenofobia e de acolhimento. De acolhimento dessas pessoas que estão chegando, de acolhimento dessas pessoas que querem uma nova alternativa de vida, que querem ser respeitados enquanto seres humanos”, declara. “Eu acho que a mídia tem um papel muito importante, como um poder que influencia as pessoas, e o nosso objetivo é isso: que as pessoas sejam influenciadas positivamente”, completou.

A estudante deixa ainda um apelo aos interessados em buscar informações sobre migração em Roraima. “Quem quiser se aprofundar mais sobre a questão migratória, a gente está escrevendo no portal “Somos migrantes”, no endereço somosmigrantesrr.org/, e as pessoas podem ir lá no site se informar melhor sobre a questão migratória do estado de Roraima”. A página é mantida pelo Grupo Interdisciplinar de Fronteiras, da UFRR.

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