O Transtorno de Asperger, considerado um tipo de autismo leve, tem sido retratado pela personagem Benê (Daphne Bozaski) na novela Malhação, da Rede Globo. A trama apresenta a personagem tendo dificuldade social em se relacionar, por conta do excesso de sinceridade, falando tudo que pensa, além de um interesse exagerado em corrida e piano.
Segundo o neuropediatra Dr Clay Brites, um dos fundadores do Instituto NeuroSaber, essas características são típicas de quem tem o Transtorno de Asperger, que é uma condição mais leve dentro do espectro autista.
O especialista explica que há diferentes níveis de intensidade do autismo, como, por exemplo, leve, moderada e severa. São definidas pelo grau de comprometimento do desenvolvimento neuropsicomotor, das questões adaptativas, nível de dependência e necessidade de intervenções para obter mínima funcionalidade.
O Asperger é considerado um autismo leve, pois a pessoa apresenta somente restrições visíveis na forma de falar, de expressar emoções, de entender linguagem subliminar (duplo sentido) e processos de comunicação que dependem de mecanismos não-verbais, como gestos, expressões faciais e mudanças de tom da voz.
– Nela, o comprometimento poupa, de certa forma, a inteligência e a linguagem. Por exemplo, eles têm uma maior funcionalidade e mais autonomia para se adaptar aos desafios sociais e acadêmicos quando comparados com outros tipos. Além disso, têm tendência a intelectualização e racionalização de tudo, além de exagerado interesse por determinados assuntos – comenta.
Brites fala ainda que o Transtorno de Asperger tem origem genética. Isso significa que alguém da família pode ter tido o mesmo distúrbio e/ou pessoas que podem apresentar traços de personalidade antissocial. “Não existe uma causa apenas que seja a responsável pelo surgimento desta condição.”
Diagnóstico e tratamento
O neuropediatra diz que a melhor maneira de lidar com o diagnóstico é procurar ajuda assim que a suspeita do Transtorno de Asperger for levantada. “Apesar de sua descrição não existir mais no Manual de Transtornos Mentais, o DSM-5, desde 2014, ela está muito bem definida e descrita clinicamente desde da década de 70 e é citada e descrita no Código Internacional de Doenças, o CID-10”.
– Mas é importante ressaltar com os pais que somente com o acompanhamento de profissionais para auxiliar quem o apresenta e a sua família, a qualidade de vida do (a) filho(a) tende a ficar melhor pois todos passam a entender o que acontece e como lidar – destaca.
Por ser um transtorno autístico mais ameno, Brites comenta que as formas de tratamento também costumam ser proporcionais. Ele ressalta que os pais jamais devem negligenciar a situação de seus filhos adotando a automedicação e o uso de procedimentos alternativos como forma de promover a intervenção. “O acompanhamento profissional deve ser priorizado. Somente desta maneira haverá a solução desejada pois existem formas bem descritas na literatura de manejo comportamental, psicoeducativo e medicamentoso.”
Quando a condição é diagnosticada na infância, o conselho é que os pais levem a criança ao atendimento psicológico e neuropsiquiátrico. Fazer isso é muito importante, pois os profissionais podem ajudar a criança a lidar com seus sentimentos, impulsionar a relação interpessoal e reduzir futuros sofrimentos.
Clay também indica aos pais se consultarem com um psiquiatra ou neurologista infantil com experiência na área. Dependendo das características apresentadas pela criança, o profissional vai receitar medicamentos que podem diminuir alguns sintomas negativos e disruptivos presentes em quem os apresenta, como problemas no sono, irritabilidade, a agitação e a hiperatividade, depressão, psicoses e fobia social.
– Em todos os casos, porém, a psicoterapia é indicada independente dos sintomas apresentados. O terapeuta saberá como lidar com o transtorno com a adoção de estratégias que vão melhorar suas habilidades sociais e a empatia. Além disso, ele indicará outras demandas que serão responsáveis por atenuar os prejuízos sociais, escolares e aquelas relacionadas `a inserção no mercado de trabalho os quais costumam ser prejudicados pelas características manifestadas por quem tem o Transtorno- conclui.