Brasília (DF) – O Observatório Digital de Segurança e Saúde no Trabalho, atualizado esta semana com dados do ano de 2017, vem fortalecendo a cooperação e o intercâmbio de dados entre órgãos e instituições públicas. Um dos impactos positivos é a possibilidade de se obter ressarcimento de despesas previdenciárias decorrentes de acidentes de trabalho que podem chegar a R$ 1,87 bilhão. Cerca de 5 mil ações com essa finalidade já foram ajuizadas e mais de R$ 44 milhões foram recuperados aos cofres públicos.
Lançada em abril de 2017 pelo Smartlab de Trabalho Decente (MPT/OIT) com base em conceito desenvolvido pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e dados do Ministério da Fazenda e do Instituto Nacional do Seguro Social, a ferramenta emerge a partir de colaboração decisiva que envolve uma série de órgãos governamentais que, em colaboração rara no Brasil, passaram a trocar informações em prol não só do fortalecimento de seus serviços, mas também para construir novos mecanismos de informação que possam potencializar políticas públicas de prevenção.
Além das informações sobre acidentes de trabalho, os dados do Observatório e de outras ferramentas de inteligência desenvolvidas pelo MPT em cooperação com vários órgãos e instituições têm servido ao desenvolvimento de importantes ações interinstitucionais. Em fevereiro de 2016, o MPT firmou, com a Advocacia Geral da União (por meio de sua Procuradoria-Geral Federal), um acordo de cooperação técnica para a criação do Grupo de Atuação Especial em Matéria de Ações Regressivas (GAER), com a participação de procuradores do Ministério Público do Trabalho e procuradores-federais.
Desde então, o grupo vem partilhando informações estratégicas para a atuação do MPT e da AGU, inclusive fundadas no Observatório, para fomentar o ajuizamento direcionado de ações regressivas individuais coletivas contra empresas, cujas condições de trabalho inadequadas têm levado à incidência maior de doenças e acidentes de trabalho. Vem sendo priorizados setores econômicos críticos e os respectivos empregadores que mais geram despesa ao erário em razão dos afastamentos do trabalho (pagos pelo INSS), das despesas do Sistema Único de Saúde, e do passivo humano produzido (sobretudo em relação a sequelas de mutilações).
“As ações regressivas que vêm sendo fomentadas no âmbito Grupo de Atuação em Matéria de Ações Regressivas (Gaer) visam a reduzir o impacto imenso dos acidentes de trabalho para o Brasil, não apenas do ponto de vista humano, mas também do ponto de vista econômico e produtivo. A lógica é a da priorização dos setores mais críticos, em mapeamento que está sendo constantemente aprimorado por meio do uso de técnicas avançadas de ciência de dados, com análises descritivas, diagnósticas e preditivas. Para isso, as informações do Observatório serão de extrema relevância”, explicou o procurador do MPT, Luís Fabiano de Assis, que também integra o GAER, pelo MPT.
“Atualmente, a Procuradoria-Geral Federal já ajuizou cerca de 5 mil ações regressivas, com expectativa de ressarcimento de R$ 1,9 bilhões, dos quais cerca de 44 milhões já foram recuperados”, informou Fernando Maciel, que integra o GAER e coordena as equipes de trabalho de procuradores-federais responsáveis pelo ajuizamento. “O compartilhamento de dados e a cooperação entre os órgãos tem potencializado imensamente essas ações”, acrescentou Maciel.
Cooperação – Segundo o procurador Luís Fabiano de Assis, que também é co-coordenador do Smartlab de Trabalho Decente e secretário de Pesquisa e Análise de Informações do MPT, a cooperação tem se expandido cada vez mais desde que a ideia começou a ser discutida, na Procuradoria Regional do Trabalho da 15ª Região, a partir de cooperação do MPT com a Universidade de São Paulo. “Além do envolvimento dos parceiros de desenvolvimento conceitual e tecnológico, a colaboração construtiva do Instituto Nacional do Seguro Social e do Ministério da Fazenda, desde a época do antigo Ministério da Previdência, foi decisiva, não só pelo fornecimento de dados, mas também pela atuação em sua interpretação e validação.
Os dados têm servido, entre outras ações de interesse do Estado, para promover inédita conscientização sobre riscos ocupacionais, aprimorar a eficiência das investigações do MPT, fomentar ações regressivas em parceria com a Procuradoria-Geral Federal, tornar mais eficiente o monitoramento de benefícios acidentários e determinar mais claramente quais devem ser os focos (ocupações, setores econômicos, grupos vulneráveis) das ações repressivas e preventivas em matéria de proteção ao meio ambiente do trabalho, isso sem mencionar no potencial imenso para o aprimoramento no foco das inspeções do trabalho e das políticas públicas de prevenção em geral”, acrescenta.
O Observatório torna inteligíveis e acessíveis os dados que antes se encontravam dispersos em bancos de dados públicos, inclusive em formato de dados abertos. Além do Instituto Nacional do Seguro Social e do Ministério da Fazenda, as parcerias de compartilhamento de informações também envolvem atualmente, entre outros órgãos, a Procuradoria-Geral Federal, o Ministério da Saúde e o Fórum de Acidentes de Trabalho, iniciativa conjunta de docentes das áreas de Saúde do Trabalhador do Departamento de Saúde Pública da Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP e, à época, da Engenharia de Produção da UNIMEP Piracicaba, no primeiro semestre de 2008, reunindo atualmente dezenas de instituições do Brasil e do exterior.