“Não sabia que existia filmes feitos aqui em Campo Grande”, afirma Keinny Vilhalba, estudante de 13 anos da Escola Municipal Arlindo Lima. Essa é a realidade de grande parte dos adolescentes da Capital, para mudar isso, a Marruá Arte e Cultura está promovendo mostras e debates sobre o cinema local em 10 instituições de ensino através do projeto “Campo Grande na Tela”, que conta com recursos do FMIC (Fundo Municipal de Investimentos Culturais), oriundos da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura de Campo Grande.
Os filmes revelam cenas, muitas vezes, distantes da realidade dos alunos, o que tornou as exibições um momento de prazer e aprendizado, mostrando desde os povos indígenas e quilombolas que vivem na Capital, história de Campo Grande, por meio do olhar peculiar e certeiro do fotógrafo Roberto Higa, à acontecimentos singulares de uma caçada ao tesouro, passando por obras de ficção, animação e documentários.
Nos dois dias foram exibidos 12 curtas-metragens, 5 na segunda-feira de manhã e 7 na terça-feira pela tarde. Tudo foi preparado para que cerca de 320 alunos da escola se sentissem numa sala de cinema: pouca luz, telão e até pipoca foi distribuída aos estudantes, que acompanharam atentamente os detalhes de cada produção. Ao término de cada curta, aplausos calorosos eram recebidos dos alunos e, no fim, cada um elegeu seu preferido.
“Gostei mais de Preto e Branco porque eu amo futebol, e esse filme fala de um time daqui”, frisou keinny. “Adoro suspense, meu favorito foi Espera”, pontuou Gabriel de Oliveira, estudante do 7.º ano matutino.
Lugares bastante conhecidos são retratados pelas películas e muitos estudantes reconheceram a cidade nas produções. “Vi o Horto Florestal, Orla Morena, Afonso Pena nos filmes. Sempre vou até estes locais e nunca imaginei que eles foram palco de filmes locais. Sei que isso valoriza nossa cidade, ainda mais agora que muitos adolescentes irão assisti-los”, analisa a estudante Mary Beatriz, de 15 anos que cursa o 9.º do Ensino Fundamental.
Algumas histórias apresentadas surpreenderam os estudantes. “Não sabia que existiam tantos índios aqui na cidade. O documentário sobre eles foi o que mais me chamou atenção”, disse a estudante Isadora Ferreira, de 13 anos, do 9.º ano, referindo-se à produção de Sidney de Albuquerque “O Olhar Indígena Sobre Campo Grande”.
Debate
Após as exibições foi promovido debate para que os alunos tivessem uma dimensão de como é fazer cinema em Campo Grande. No primeiro dia participaram a diretora Tina Xavier e o ator Bruno Moser e no segundo dia foi a vez dos diretores Fábio Flecha e André Monteiro contarem um pouco de seu trabalho.
Participativos, os alunos perguntaram aos convidados sobre como tiveram as ideias para fazer os filmes, quais são as dificuldades de se produzir aqui, quanto tempo se leva para finalizar um filme, entre outras dúvidas. Atentos, os diretores responderam os questionamentos, transformando o debate em um rico aprendizado, deixando gancho para que os professores possam levar para sala de aula os diversos temas debatidos.
“Estar no debate com as crianças e adolescentes do Arlindo Lima foi instigante e vigoroso. É muito importante termos diferentes públicos para ver o material audiovisual que produzimos. Estar com os alunos e alunas traz novos desejos de novas produções e sobretudo de produzir com as crianças, algo que tenho realizando desde o ano de 2010, em escolas municipais de Campo Grande. Projetos como esse são fundamentais para a exibição de obras cinematográficas em espaço onde o povo está, no caso, um espaço tão importante que é a escola”, avalia Tina Xavier.
A diretora-adjunta da escola, Rosana Vasconcelos, também destacou a importância de levar este tipo de projeto para os alunos. “A escola é um local onde nós temos que trabalhar com os alunos o conceito de cidadania, de participação cidadã e, com certeza, a arte e a cultura contribuem muito para a transformação da sociedade. A partir de eventos como este eles podem refletir mais”, disse.
Foram exibidos: Ser Criança Em Campo Grande, de Tina Xavier; Olhar Diferente, de Marielle Oliveira; O Olhar Indígena Sobre Campo Grande, de Sidney de Albuquerque; Espera e Enterro, de Fábio Flecha; Ela Veio Me Ver e A TV Está Ligada, de Essi Rafael; Clave Latina e Preto e Branco, de André Monteiro; Tia Eva, de Ana Carla Pimenta e Vânia Lúcia Duarte; Lamento, de Eduardo Romero; e Memórias de Luz, de Farid Fahed.
Projeto
No Campo Grande na Tela escolas da rede municipal de ensino das 7 regiões da Capital e 3 universidades receberão uma mostra em que serão apresentados 20 curtas-metragens produzidos aqui (confira todos os filmes que participam abaixo). A curadoria foi feita pela fotógrafa e videomaker Elis Regina Nogueira e possui 5 programas diferentes a serem exibidos de acordo com o público alvo de cada instituição de ensino.
Antes de levar a mostra para cada escola, integrantes do projeto vão até o local e expõem um guia pedagógico explicando como funciona o projeto e apresentando os filmes que participam da mostra. No guia ainda há sugestões de temas e exercícios sobre o conteúdo gerado a partir deste contato com o cinema que podem ser aproveitados em sala de aula nas disciplinas de História, Literatura, Português, Geografia e Artes. Neste sentido o projeto atende o cumprimento da Lei que determina a exibição de filmes nacionais nas escolas de educação básica.
Importantes diretores sul-mato-grossenses como Joel Pizzini, Cândido Alberto da Fonseca, Essi Rafael, Nathália Tereza, Fábio Flecha, Roberto Leite, entre outros compõem a programação com filmes que revelam percepções, sentimentos, personagens e cenários da Cidade Morena.
Nos dias 10 e 11 de abril é a vez da Escola Municipal Hércules Maymone, que fica no Nova Lima, região Segredo, receber a mostra. Por lá a exibição é aberta ao público e acontece às 17h.
Websérie
Simultaneamente à mostra será produzida uma websérie, dividida em 10 episódios, com a abordagem de aspectos culturais das comunidades participantes, apoiando os profissionais que atuam na área. A apresentação será feita por dois adolescentes, que foram selecionados em chamada pública: a estudante Mariana Nogueira, de 13 anos, e o estudante Lucas Herrer, de 16 anos.