A produção de cana-de-açúcar em Mato Grosso do Sul foi de 49 milhões de toneladas, cultivados em 665,4 mil hectares de canaviais na safra 2017/18, resultando numa produção de açúcar correspondente a 1,66 milhão de toneladas e numa produção de etanol total estimada em 2,811 bilhões de litros. Segundo dados da Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (Biosul), o Estado é o quinto maior produtor de cana-de-açúcar do país e está se consolidando como um dos Estados brasileiros com vigorosa expansão da cultura.
O Mato Grosso do Sul possui um amplo potencial produtivo, com uma matriz de uso e ocupação do solo diversificada, em que se cultivam soja, milho, algodão, arroz, cana-de-açúcar, pastagens, eucalipto, seringueira, além de erva-mate, café, frutas e hortaliças.
Dada as diferentes características de clima, relevo, temperatura, umidade do ar, radiação, tipo de solo, e precipitação pluvial existentes no Estado, as pesquisas da Embrapa Agropecuária Oeste, localizada em Dourados, buscam fornecer respostas e soluções que possam contribuir com a melhoria da capacidade produtiva dos sistemas produtivos regionais. Uma atenção especial vem sendo dada pela Unidade aos estudos com cana-de-açúcar no Mato Grosso do Sul.
Por meio de parcerias com a Biosul, desenvolvimento de projetos de pesquisas com Usinas, capacitações, entre outros, a Unidade da Embrapa vem avançando em busca de resultados que possam agregar valor a esse importante setor produtivo. Dentre as diversas iniciativas, destaca-se um experimento recém implantado numa área de seis hectares na Agrícola Nova América, em Caarapó, que pretende contribuir com respostas relacionadas a recuperação de solos arenosos, ocupados com pastagens degradadas, para implantação de lavouras de cana-de-açúcar.
“A equipe da Embrapa Agropecuária Oeste tem buscado atender as demandas do setor canavieiro do Estado e, para isso, estamos com trabalhos fortes com cana-de-açúcar sendo realizados, com bons projetos aprovados, parcerias importantes e experimentos implantados. Essa é uma das linhas de pesquisas prioritárias da Unidade”, destaca o Chefe Geral da Unidade, Guilherme Lafourcade Asmus.
Cana-de-açúcar – Segundo o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, José Rubens Leme Filho, a cana-de-açúcar é uma gramínea semi-perene, de sistema radicular fasciculado e muito dependente das condições físicas e químicas dos solos até a profundidade de 80-100 cm, sendo que essas características reforçam a importância da qualidade do solo para o desenvolvimento da atividade.
“Uma lavoura de cana bem manejada pode produzir por até dez anos de forma consecutiva, sem necessidade de renovação. Mas, isso está diretamente relacionado a qualidade do solo no período de implantação do canavial, além das estratégias de manejo adotadas”, explica Leme Filho. O pesquisador é responsável pela liderança do projeto de pesquisa intitulado CanaMS, que está sendo executado até 2021, e que pretende contribuir com o aperfeiçoamento do sistema de produção de cana-de-açúcar em Mato Grosso do Sul.
Evolução da pesquisa – As atividades de alinhamento de agendas entre a Embrapa e a Biosul tive início em 2012, quando foi realizado o primeiro Seminário, que buscava identificar demandas de pesquisa junto ao setor produtivo regional. “De lá para cá as parcerias só foram se fortalecendo e ampliando. O experimento mais recente foi instalado em março, numa área de 6 hectares, na Usina Nova América, em Caarapó”, explica o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Cesar José da Silva.
Segundo Silva, se trata de uma Unidade Experimental Multidisciplinar (UEM), vinculado ao Projeto de Pesquisa CanaMS, com o objetivo de dar respostas ao Plano de Ação que busca implementar sistemas de produção, com o objetivo de melhorar o ambiente produtivo da cana-de-açúcar, buscando ampliar o cultivo em ambientes restritivos, que tem como características solos de textura arenosa, com baixa fertilidade e baixa capacidade de retenção de água.
“O objetivo dessa Unidade é propor sistemas que visam melhorias do sistemas de produção, através do uso de doses de corretivos (calcário e fosfato), sistemas de incorporação de calcário profunda com arado de aiveca em comparação ao preparo tradicional com grade aradora e preparo com subsolagem”, explica Cesar.
Para isso, estamos utilizando alguns sistemas que antecedem o plantio da cana-de-açúcar. Após a eliminação da pastagem degradada, retirada da vegetação espontânea e o preparo do solo, citado anteriormente, implantamos plantas de cobertura, como a Brachiaria brizantha, cultivar Xaraés, seguido de crotalária, para só então inserir a cana-de-açúcar. O cultivo de plantas de cobertura e adubos verdes após o preparo intensivo do solo para sistematização e incorporação dos corretivos, visa manter a cobertura e promover a estruturação do solo, protegendo contra o efeito erosivo das chuvas nos meses verão.
“Essa é uma pesquisa de longo prazo, que propõe um manejo diferenciado do solo, com o objetivo específico de melhorar a sua qualidade, que acreditamos terá maior capacidade de retenção de água, melhor fertilidade, incremento de biomassa e quem sabe proporcionando até ampliação da vida útil e da capacidade produtiva do canavial ao longo dos anos”, explica o pesquisador.
Experimento – O pesquisador responsável pela implantação do experimento na Agrícola Nova América, Carlos Hissao Kurihara, explica que na Unidade Experimental serão avaliados os aspectos fitotécnicos, de fertilidade do solo e da nutrição de plantas. “E como o próprio nome sugere, envolve várias avaliações multidisciplinares, tais como: microbiologia do solo, avaliação econômica, avaliação de balanço de energia e tudo isso é feito com apoio e acompanhamento dos técnicos da Agrícola Nova América.
Kurihara explica que foram implantados três sistemas distintos e que essa demanda surgiu em função do plano de expansão da Agrícola Nova América que pretende instalar canaviais em áreas com solos arenosos, classificados como ambientes restritivos.
Parceria de sucesso – O Supervisor de Planejamento Agronômico da Usina Nova América, Cleir Inácio Matheus Pereira Junior, explica que esse projeto pode contribuir com a estabilidade de produção da Usina Nova América e se diz satisfeito com a parceria. “A Embrapa é uma instituição de pesquisa renomada e que tem uma equipe de profissionais altamente qualificada”, acrescenta.
“Buscamos técnicas que nos auxiliem a ter êxito e possam nos apresentar soluções para esse processo de expansão e implantação de canaviais em ambientes restritivos. A Unidade da Agrícola Nova América em Caarapó está em crescimento e buscamos novas tecnologias e estratégias de manejo que proporcionem melhorias na qualidade do solo”, acrescenta Cleir.
Segundo ele, atualmente, 52% dos canaviais da Usina estão instalados em ambientes restritivos classificados na escala D e E. Apenas 12% está sendo cultivado em ambiente A e B e explica “indo de Caarapó no sentido de Dourados ou Amambai estão os melhores ambientes. Já no sentido de Juti, os ambientes são desfavoráveis. Esses locais, por sua vez, não são muito utilizados para o cultivo de soja devido aos baixos resultados de produtividade e, por isso, temos mais disponibilidade de novas áreas para ampliação de canaviais nessas regiões.