Corumbá (MS) – Um imprevisto marcou a apresentação do Grupo Teatral Boca de Cena, de Sergipe, no início da noite deste domingo (27/05), na Praça da República, em Corumbá, durante o 14º Festival América do Sul Pantanal. Os atores tiveram que improvisar um pocket show porque o caminhão com o cenário, figurinos e equipamentos da peça “Os Cavaleiros da Triste Figura” não chegou por causa da greve dos caminhoneiros.
Os artistas Taíres Diniz, Gustavo Floriano, Felipe Mascarelo e Rogério Alves, com o técnico Luca Pinheiro, não quiseram deixar o público na mão, e improvisaram trechos e interpretaram canções da peça. A performance agradou tanto que os pedidos de bis foram atendidos, e eles tiveram que prolongar a apresentação. “Nós precisamos aprender a lidar com o inesperado. Por uma coisa necessária nosso cenário não chegou, mas passamos nossa mensagem. Nós aqui trouxemos o teatro para a rua, esse encontro poético entre o ator e o público, sob uma perspectiva de paz”, diz o ator Rogério Alves.
Formado por graduados em Teatro da Universidade Federal de Sergipe, o grupo tem 13 anos de atividades artísticas e sociais. “Os Cavaleiros da Triste Figura” é construída por vários profissionais de diversas regiões brasileiras. João Marcelino, diretor de arte, e Fernando Yamamoto, o diretor, são do Rio Grande do Norte; Helder Vasconcelos, do Recife; Ésio Magalhães, de São Paulo e a preparadora vocal Babaya Morais, de Minas Gerais. “Esta parceria proporcionou um salto qualitativo na produção artística”, diz Rogério.
Esta união de profissionais criou um espetáculo sob uma perspectiva de utopia. “A utopia é uma ação que depende de cada um. No fundo do impossível brota uma flor, que é a esperança, uma perspectiva de vida. Nossa mensagem é de olhar para nós, para este povo sofrido. Dom Quixote é um clássico que ultrapassou seu tempo. A releitura com influências regionais proporciona um espetáculo todo interativo, livre para todos os públicos”.
É a primeira vez do Boca de Cena no Fasp, e apesar do imprevisto, os atores estão muito felizes em participar. “A gente nunca imaginou vir para Corumbá para apresentar no Festival. Agradecemos à Secretaria de Cultura do Estado e ao Sesc por acreditar em bons trabalhos. O Fasp é um importante diálogo, um meio de conexão, e não de segregação”, finaliza Rogério.
A professora de inglês e acadêmica de Letras, Amanda Sabino Ferreira, gostou muito do improviso. “Faz parte do trabalho do artista improvisar, e eles fizeram isso muito bem. Mandaram a mensagem deles, isso que é mais importante. Eles fizeram uma reflexão sobre a pressão que o povo brasileiro vem sofrendo e que mudar o mundo não é utopia”.
Amanda já leu o “Dom Quixote de la Mancha”, de Miguel de Cervantes, e disse que sempre estuda a obra como sendo um grande romance, mas para ela, o mais interessante é “ser engraçado”. Para ela, o Festival deste ano está bem interessante. “Eu gostei muito. A oficina de cinema da qual eu participei foi o que eu mais gostei”.
A contadora de histórias Fernanda Reverdito veio de Bonito especialmente para participar do Fasp. “Amo muito esse Festival, é um dos mais importantes do Brasil. O Fasp é muito importante para o Estado de Mato Grosso do Sul, porque reúne os países da América do Sul e reúne nossas histórias, nossas memórias, faz a gente estar muito próximo um do outro”.
Ela achou os atores muito bons. “Se estava bom desse jeito, imagine o espetáculo completo. A gente acaba levando algo muito forte, que é a resistência que a gente tem no Brasil e o poder de improvisar, o amor que eles deram pra gente”.
O pocket show deixou o público com vontade de ver o espetáculo completo, com a montagem original, o cenário e os figurinos. Os atores têm o desejo de voltar, quem sabe no Festival do ano que vem!