Osasco (SP) – No dia 23 de agosto de 2008, o vôlei feminino do Brasil conquistava sua primeira medalha de ouro em Jogos Olímpicos. Foi em Pequim, na China. Exatos dez anos depois, três remanescentes desse time histórico seguem na ativa, agora no Vôlei Osasco-Audax. Paula Pequeno, Carol Albuquerque e Walewska integraram o time que bateu os Estados Unidos na final de 2008 e, hoje, se preparam para a temporada 2018/19, na qual os desafios são lutar pelo heptacampeonato paulista, o tetra da Copa Brasil e pelo título da Superliga. Nesta quinta-feira (23), data de aniversário da façanha, as três comemoraram em quadra, treinando com as companheiras da tradicional equipe osasquense. Mas o clube e a prefeitura da cidade não deixaram passar em branco, homenageando as atletas com uma placa comemorativa.
Entre homenagens e mensagens de reconhecimento, o trio olímpico do Vôlei Osasco-Audax guarda recordações preciosas daquele momento histórico. “O primeiro ouro olímpico foi extremamente especial. Um marco na nossa história. Nós vínhamos de algumas frustrações, inclusive no ciclo anterior, em Atenas (derrota na semifinal para a Rússia). Eu, pessoalmente, havia sofrido uma lesão grave no joelho e fiquei de fora dos Jogos da Grécia. A China marcou um momento especial para todas nós, que trabalhamos tanto e estávamos tão focadas na meta de conquistar a primeira medalha olímpica do vôlei feminino para o Brasil”, atesta Paula Pequeno.
Carol Albuquerque fez questão de levar sua medalha dourada ao ginásio nesta quinta-feira. A levantadora fala das pedras no caminho até o degrau mais alto do pódio. “Todo atleta sonha em ir aos Jogos Olímpicos e depois, ganhar, uma coisa que poucos conseguem. Foi a realização de toda uma carreira e coroou os quatro anos de trabalho na seleção, pois treinamos muito. Até porque, o time vinha da Olimpíada em que caímos na semifinal e muita gente nos acusava de amarelar por conta da derrota para a Rússia quando vencíamos por 24/19 (no quarto set, quando poderia ter garantido vaga na decisão marcando 3 a 1). Carregamos muita pressão nesse ciclo todo. Por tudo isso, foi especial e merecido. Formamos um grupo que trabalhou e cresceu junto”.
Walewska compartilha o mérito da conquista com as atletas das gerações anteriores. “Esse ouro foi construído por muitas jogadoras. Por vários anos, elas se sacrificaram sem nenhuma estrutura para que, em 2008, toda essa dedicação e persistência fossem coroados. Todas merecem ser lembradas por esse símbolo de ouro”, analisa a central, que completa. “A nossa equipe foi muito resiliente, soube esperar a hora certa. Caiu várias vezes, mas sempre teve força para se levantar. Acho que a palavra resiliência resume bem o que passamos antes da conquista em Pequim”. Antes do título, a seleção feminina de vôlei havia conquistado duas medalhas de bronze: Atlanta 1996 e Sydney 2000.
Para Paula Pequeno, o sabor de vitória veio em dose dupla na China. “Como se não bastasse tanta alegria após bater os Estados Unidos na final, ainda fui eleita a MVP (melhor jogadora) da Olimpíada. Foi até engraçado, porque foi nosso fisioterapeuta quem me avisou. Ele veio me dar os parabéns. E respondi, ‘parabéns para você também’. E quando ele insistiu em me cumprimentar, perguntei o porquê. Então ele me contou. Comecei a chorar e todos que estavam em minha volta fizeram a maior festa, pois sabiam da minha luta para chegar até aquele momento após a contusão no joelho no ciclo de 2004. Foi uma emoção muito forte. Só a medalha no peito já era tudo o que a gente queria. E ainda veio esse lacinho em cima da caixa de presente”, conta a ponteira, que quatro anos mais tarde conquistaria o bicampeonato olímpico, em Londres.
Carol recorda da primeira homenagem recebida pelo grupo, antes mesmo de pisar em solo brasileiro. “Voltando para casa, vimos, pela janela do avião, dois caças acompanhando a gente. O comandante da nossa aeronave abriu o som do rádio e os pilotos nos deram os parabéns. Todos os outros passageiros aplaudiram e foi muito legal”, conta a levantadora. ”Foi quando começamos a sentir o peso na conquista. Na China, ficamos praticamente isoladas. Além da distância e de não contar com as mídias sociais, como hoje, fazíamos treinos fechados e tudo mais. Quando eu conseguia falar com a minha mãe, por telefone, ela me dizia que o Brasil parava toda vez que íamos para a quadra jogar”, complementa.
Grupo diferenciado – Além de qualidade técnica, física e tática, as tricampeãs olímpicas do Vôlei Osasco-Audax revelam o que consideram os segredos para o sucesso do time de 2008. “O diferencial daquele time foi o alto nível de comprometimento. Parecia que estava todo mundo em estado alfa. Um grupo bastante concentrado, com respeito entre atletas e a comissão técnica. Todo mundo muito ligado para não deixar escapar a nossa meta. Poucas vezes na minha carreira senti uma equipe em sintonia tão grande”, explica Paula, que complementa. “Entre minhas lembranças, no geral, posso citar a união. No vestiário, antes dos jogos, sentia uma energia intensa. Cada uma, a sua maneira, procurava se concentrar ou conter o nervosismo e ansiedade. Mas todas sempre focadas no objetivo. E quando ganhamos, a explosão de emoções foi indescritível”.
Carol Albuquerque concorda. “O foco foi o diferencial. Todas muito concentradas. A gente só pensava em ganhar a Olimpíada, tanto, que fizemos poucas fotos durante a campanha na China. Depois, uma precisou ficar mandando o que tinha para a outra. Mas valeu a pena. Aprendemos a nos respeitar. Durante a fase de preparação, passávamos mais tempo entre a gente do que com a família. Uma conhecia a outra muito bem. E tudo valeu a pena. A sintonia era tanta, e a ansiedade tão grande, que ninguém dormiu na véspera da final, que foi disputada no período da manhã, em Pequim. Depois, foi só comemorar a conquista histórica”.
Elenco 2018/19 do Vôlei Osasco-Audax – Além de reunir três campeãs olímpicas – Paula Pequeno, Walewska e Carol Albuquerque -, o time osasquense conta com atletas que estavam defendendo a Seleção Brasileira – Claudinha e Lorenne – e jogadoras que já defenderam seu país em competições internacionais – Mari Paraíba, Camila Brait e a norte-americana Hooker. Também tem em seu elenco as centrais Natasha, Nati Martins e a ponteira Domingas. A equipe osasquense investe ainda na nova geração do esporte. Renovou os contratos da líbero Kika e da levantadora Gabriela Zeni e trouxe a ponteira Vivi, de 20 anos, que fará sua estreia na Superliga.
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