Destacando como tema principal o debate sobre as tendências de inovação tecnológica, as diretrizes da defesa sanitária, o novo momento do comércio internacional e a regulação dos alimentos processados, o 7º Fórum LIDE de Agronegócios, reuniu, no último sábado (22/9), no Hotel JP, em Ribeirão Preto/SP, 211 participantes, entre lideranças políticas, empresariais e setoriais. Promovido pelo LIDE – Grupo de Líderes Empresariais, o encontro, realizado pela primeira vez em Ribeirão Preto, foi comandado pelo embaixador especial da FAO para o Cooperativismo e ministro da Agricultura (2003-2006), Roberto Rodrigues.
O Fórum contou, na abertura, com as presenças do secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Eumar Novacki; do secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Francisco Jardim; do prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira; do presidente da John Deere, Paulo Hermann; além do chairman do LIDE, Luiz Fernando Furlan; do chairman do Lide Ribeirão Preto, Maurilio Biagi Filho; do CEO do LIDE, Gustavo Ene; do presidente do Lide Ribeirão Preto, Fabio Fernandes; e de Roberto Rodrigues.
O tom predominante em todos os pronunciamentos dos participantes da abertura do Fórum foi a importância do agronegócio para o momento econômico atual do país. “Esse nosso evento ajuda a compartilhar com as lideranças do setor o otimismo que caracteriza o agronegócio e o produtor rural de maneira geral. Penso que o trabalho de todos nós, ligados ao agro, deve influenciar positivamente o País”, resumiu o ex-ministro Luiz Fernando Furlan, chairman do LIDE.
No Painel 1, que discutiu Inovação Tecnológica no Agro, o presidente da John Deere Brasil, Paulo Hermann, afirmou ser necessário um esforço especial para se desenvolver tecnologia que realmente agregue real valor ao produtor rural. “O crescimento da produtividade do agronegócio brasileiro poderá vir por meio do aumento da eficiência, uma vez que a expectativa é que só tenhamos um incremento de 20% na área plantada. A ordem é fazer mais com menos”, destacou Hermann.
Para Silvio Crestana, pesquisador da Embrapa Instrumentação, tecnologia é a melhor arma para se criar o futuro. “Na competitividade atual, não vencerão os maiores, mas sim os mais rápidos”. A seu ver, o melhor a fazer é usar o que já está disponível, estabelecer novos padrões e normas para conseguir mais produtividade no agro. Uma área onde ele entende ser necessário investir é a da irrigação. “Hoje estimamos que apenas 7 milhões de hectares são cultivados com irrigação, quando nosso potencial é da ordem de 30 ou 40 milhões de hectares”, assegurou Crestana.
Jacyr Costa Filho, diretor região Brasil da Tereos, chamou a atenção para o fato de que a tecnologia demandará profissionais mais qualificados. “Precisamos capacitar pessoas para atuar em todo o país. Nesse sentido, temos de dimensionar melhor os nossos centros de excelência”, afirmou. Já Hermann entende que o ideal seria conseguir trazer de volta para o agronegócio os filhos dos produtores, uma vez que a nova geração já incorporou as inovações tecnológicas em suas rotinas. Crestana concordou com o presidente da John Deere nessa questão. “E esse jovem não precisa necessariamente morar no campo, pois hoje existem diversas ferramentas que permitem a ele executar tarefas de forma remota”.
No Painel 2, que tratou de Defesa Sanitária e Comércio Internacional, o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Eumar Novacki, fez um detalhado relato dos desdobramentos e das medidas adotadas pelo governo após o episódio da chamada Carne Fraca. “O que percebemos é que junto com as ações e correções em vários procedimentos de fiscalização, temos de trabalhar para mudar a cultura de todos os envolvidos com as questões que envolvem defesa sanitária no país”, comentou Novacki.
Outro participante do painel, Pedro de Camargo Neto, vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira, elogiou as medidas adotadas pelo governo, ressaltando apenas a questão da velocidade das ações. “Penso que ainda deverá ter mais algumas fases da Operação Carne Franca pela frente. Isso causa muita apreensão entre os empresários que atuam na cadeia da proteína animal”, observou. Ariel Antonio Mendes, diretor de Relações Institucionais da ABPA – Associação Brasileira de Proteína Animal, informou que a entidade tomou uma série de medidas que teve início com a criação de um novo sistema de compliance para lidar com essas questões. “Entendo que, especialmente no tocante à sanidade, deve haver uma harmoniosa transição na mudança de governo que teremos no próximo ano, seja qual for o eleito”, afirmou.
Com o tema A Regulação dos Alimentos Processados, o Painel 3 trouxe um relato preocupante, feito por Wilson Mello Neto, presidente do Conselho da ABIA – Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação, sobre uma onda de ataques contra os alimentos industrializados. “A indústria de alimentos tem sido tratada como se ela fosse a maior responsável pela obesidade registrada em parcela da população”, disse o executivo, ponderando que há até um movimento para colocar alertas alarmantes nas embalagens.
Outro palestrante do Painel 3, Pedro Parente, presidente da BRF, destacou a necessidade de se intensificar a divulgação dos produtos alimentícios brasileiros em mais mercados no exterior. “Precisamos de um esforço, tanto do governo, quanto do setor privado, para colocar novos produtos em mercados onde já atuamos; aumentarmos a nossa proatividade para mostrar a elevada segurança que nossos produtos possuem, assim como adicionarmos mais valor nas nossas exportações de alimentos”, comentou.
Nesse aspecto, o chairman do LIDE, Luiz Fernando Furlan, observou que o País precisa se empenhar para desenvolver marcas internacionais. “Somos um país sem marcas internacionais. Fala-se muito da Embraer, mas ela fornece para poucos clientes e é muito segmentada. Entendo que nossa única marca com presença pulverizada no exterior é a Havaianas”, afirmou.
O coordenador da Codeagro da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, José Valverde, por sua vez, informou sobre a elaboração do Plano Estadual de Segurança Alimentar, adiantando que em recente pesquisa ficou constatado que itens como informação nutricional não são a principal preocupação que o consumidor busca nas embalagens de alimentos. “Verificou-se que 45% dos consumidores procuram nos rótulos a data de validade, 24% deles querem dados sobre o preço e apenas 21% observam informações nutricionais”, lembrou. A seu ver, a agenda da segurança alimentar precisa estar vinculada a outros temas como a conscientização para a redução do desperdício de alimentos que continua alta em várias fases do processo e também na casa dos consumidores.
Ao término dos debates, foi feita a leitura do legado do Fórum e também houve uma cerimônia para oficializar a transmissão do cargo de presidente do Lide Agronegócios do ex-ministro Roberto Rodrigues, para a ex-secretária de Agricultura de São Paulo, Mônika Bergamaschi.
Em seguida, foram anunciados os vencedores do PRÊMIO LIDE AGRONEGÓCIOS 2018, distribuídos em seis categorias. Os premiados foram: na categoria Agroindústria, 3 Corações, Louis Dreyfus Company e Santa Helena; em Exportação, Bunge, Minerva e Ourofino; na categoria Inovação e Tecnologia, BASF, DSM e Jacto; na categoria Revistas, A Granja, DBO e Dinheiro Rural; em TV, Canal Rural, Terraviva e TV Globo Rural e em Startup, a Aegro. O LIDE também prestou uma homenagem especial ao jornalista e especialista em Comunicação e Marketing Rural, José Luiz Tejon Mejido.
O FÓRUM LIDE DE AGRONEGÓCIOS conta com o patrocínio de BROTO LEGAL, GOCIL SEGURANÇA E SERVIÇOS, GRUPO VAMOS e JSL, o apoio de ACCENTURE, AD´ORO AGROINDÚSTRIA, GRUPO MAUBISA, RAÍZEN, SÃO FRANCISCO, SICREDI E TOTVS, além da colaboração da BOSCH, BRD, ICON AVIATION, PAMCARY, TEREOS e TOYOTA. São mídia partners: CANAL RURAL, ESTADÃO, LIDE PLAY, PR NEWSWIRE, RÁDIO JOVEM PAN e REVISTA LIDE. COOXUPÉ, ECCAPLAN, F&Q BRASIL, FORMAG´S, MECÂNICA DE COMUNICAÇÃO, MISTRAL, RCE DIGITAL, SÃO FRANCISCO e UPS são fornecedores oficiais.
Legado Fórum Lide de Agronegócios
Não existem mais dúvidas de que, até 2030, o Brasil pode se transformar no campeão mundial da segurança alimentar e, por conseguinte, da paz, visto que não haverá paz enquanto houver fome.
Há estudos explicitados por organismos internacionais de pesquisa econômica e agrícola segundo os quais nos próximos 10 anos, para alimentar o mundo todo, será necessário ampliar a oferta global de alimentos em 20%; e, para que isso aconteça, o Brasil precisa crescer o dobro, 40%.
Esta missão é possível em função de algumas características do nosso país que não são encontradas, no seu conjunto, em outros: tecnologia tropical sustentável, terra disponível e gente competente em todos os elos das diferentes cadeias produtivas.
Mas este potencial só será alcançado se tivermos uma estratégia articulada entre o setor público e o privado, contemplando todas as ações que nos levem ao campeonato prometido. Entre estas ações, três são fundamentais:
1- Inovação tecnológica que permita aumentos de produtividade e competitividade ao mesmo tempo em que os recursos naturais sejam preservados;
2- Defesa sanitária animal e vegetal que garanta a boa qualidade do produto agroindustrial para os mercados interno e externo.
3- Regulamentação contemporânea justa e correta das normas para industrialização de alimentos sob a mesma ótica do item anterior, a segurança do alimento.
No primeiro caso, a recomendação é aumentar os recursos para investimentos públicos em geração e difusão de tecnologias para o agronegócio, para que não fiquemos a reboque da ciência gerada no exterior, repensando o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, e associando nesse projeto a iniciativa privada. Tecnologias disruptivas, robotização, conectividade, agricultura 4.0 e 5.0 são temas essenciais naqueles investimentos, com a permanente preocupação de que toda a tecnologia inovadora seja acessada por produtores de todos os tamanhos, o que implica a participação das cooperativas na assistência técnica e extensão rural. A formação de recursos humanos e a implementação de startups são prioridades relevantes.
O tema “defesa sanitária” como um calcanhar de Aquiles no acesso a mercados ganhou relevância com a trágica “Operação Carne Fraca”, ocorrida no ano passado, além de outras ações da PF e do MP. Muitos países suspenderam importações de carne brasileira, com grandes prejuízos para o setor produtivo, sem a necessária comprovação de falhas insuperáveis. É imperioso melhorar o serviço governamental na fiscalização da produção agroindustrial, ao mesmo tempo em que o setor privado tem que assumir maior responsabilidade quanto ao assunto, inclusive banindo definitivamente o risco da corrupção que tem sido recorrente na área. Para tanto, o MAPA criou um sistema de compliance tendo em vista maior rigor nas relações público-privadas. No passado, o Fundepec conseguiu grandes avanços, inclusive acabando com a aftosa em São Paulo. Hoje o país conseguiu na OIE o certificado de “livre da aftosa com vacinação”. Mas é preciso agilizar mais as mudanças que promovam a reconstrução da credibilidade do setor, com as reformas indispensáveis na atuação governamental com compliance no público e também no privado.
O terceiro tema, regulação da indústria de alimentos, se deve à aparente “guerra” de alguns setores específicos contra os produtos processados, em especial os chamados “ultra processados”. Há uma epidemia mundial de “obesidade” atribuída injustamente à indústria de alimentos. O ativismo é muito similar ao que aconteceu contra o tabaco, com uma “campanha” “condenando” o alimento processado, rotulando a embalagem com símbolos excludentes. Por isso, a regulação é essencial. O governo paulista tem uma agenda voltada para esse tema, com a visão de cadeia produtiva sustentável – em que o desperdício também é considerado – através da atuação do Conselho de Segurança Alimentar, cujo trabalho se apoia na conscientização da qualidade do produto. Aí entram pontos como prazo de validade, tabela nutricional, ingredientes, taxação, etc. É indispensável haver responsabilidade compartilhada entre sociedade civil, governo e indústria de alimentos, com informação correta ao consumidor. É preciso ampliar a abrangência de regulamentos técnicos para contemplar todas as categorias cárnicas, reformar a estrutura regulatória também do comércio internacional, ampliar acesso a mercados com agregação de valor e, sobretudo melhorar a produtividade e competitividade na ponta da cadeia produtiva. Por fim, investir em comunicação no sentido de educar a população sobre a verdade dos fatos.
Ribeirão Preto, 22 de setembro de 2018.