A lei do retorno só funciona quando o homem assume a responsabilidade de promover a justiça, aponta Fabiano de Abreu

Filósofo Fabiano de Abreu – Foto: Gabriela Mello/MF Assessoria

Há milhares de anos, é reforçada a ideia de que universo devolve na mesma quantidade o que a pessoa propaga. Prova disso são ditados populares como “aqui se faz, aqui se paga”; “quem semeia ventos colhe tempestades”; “você colhe o que planta”. Todos eles, sem exceção, sugerem que as más ações irão, mais cedo ou mais tarde, repercutir de maneira negativa.

Mas será que a fatura chega para todos mesmo? Será que todos recebem exatamente na mesma medida que dão? Será que a famosa lei do retorno realmente acontece? Segundo o escritor e filósofo Fabiano de Abreu, a conta pode até chegar, mas nem sempre no tempo justo ou por meio do universo.

Segundo ele, ações corruptas de políticos já ilustram como certas atitudes, que prejudicam uma nação inteira, podem ficar impunes por anos e anos, e até mesmo nunca serem justamente condenadas. “Ou seja, nem sempre o bem vencerá o mal, pelo menos não como gostaríamos. Muitas maldades são mascaradas e escondidas, e impunidades são aceitas à revelia.”

A responsabilidade é mesmo da vida?

Parafraseando Carl Sagan, o filósofo aponta que se convencer da resposta do universo não é se basear em evidências, mas sim na necessidade de acreditar. “Com isso quero dizer que a crença de que tudo ficará bem, de que as maldades terão um preço alto no futuro e que a justiça do mundo enviará sempre sua reposta é algo enraizado nas culturas e nas religiões”, elucida.

Pensar desta forma seria apenas cômodo e ilusório, ou seja, uma forma superficial de pensamento sobre as ações, como se a vida se fosse se resolver sozinha. O problema é que a crença na justiça do universo leva a pessoa mal intencionada a continuar “errando”, o que a torna mais competente em sua atuação. “Essa é a personalidade da maioria dos políticos que aceitam participar de conluios e se tornam corruptos”, aponta.

Aqui se faz, mas se paga?

Portanto, a lei do retorno não funciona para a maioria das pessoas, inclusive os políticos apontados como exemplo. De acordo com Fabiano de Abreu, maioria dessas pessoas vive uma vida de mentira, enriquece com o dinheiro público, e muitos casos acabam assumindo cargos ainda mais importantes e ficando ainda mais poderosas.

Porém, estes podem não escapar da justiça do homem. “Tudo isso não mascara o olhar mais atento de quem consegue perceber que nem toda ação negativa recebe outra ação negativa por consequência. Esses sãos os que se indignam, não aceitam, e buscam justiça. Pois já perceberam também que passaram a vida realizando muitas coisas positivas, e mesmo assim, continuam recebendo o mal, e nem ao menos recebem de volta todo o bem que fazem”, analisa.

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