Diante de mais uma adversidade imposta pela vida, o diagnóstico de câncer, fico pensando se não devo me inspirar em algo que me ofereça ainda mais força para enfrentar a doença. Um bom exemplo de resistência, superação e êxito.
Escolhi a notícia ruim. Sim, essa vencedora!
Ela é rápida e certeira. A começar que o seu suporte nasce em florestas plantadas, vira papel e nos chega pelas mãos de um emissário. E gera emprego, renda e lucro, não apenas para o crescente setor de entregas, como também para os da saúde e do direito, em especial.
Em tempos digitais, a notícia ruim está revigorada, fortalecida pela Internet. Chega ainda mais rápida, em alguns casos até com reforço artístico de um desenho ou foto. E o mais grave, se espalha com imensa rapidez ultrapassando barreiras de todos os tipos. Vencendo, até mesmo, os responsáveis organismos criados para checar a veracidade dos fatos informados pelas mídias sociais — essa terra de todos e ainda de ninguém.
A notícia ruim é tão impactante, causadora de inimagináveis reações, que entre outras consequências consegue contaminar o próprio emissário. Você fica com raiva de quem lhe informou, como se o transmissor tivesse culpa no conteúdo e em seus desdobramentos.
O ser humano tem uma tendência biológica de se interessar mais pelo ruim do que pelo bom. No Brasil, dos últimos anos, esse fator comportamental teve o incentivo da pandemia da Covid-19, da cultura do ódio gerada pela polarização política e da crise econômica que vitimou milhões de pessoas.
A notícia ruim é fiel e próxima como um cão, porque também nunca nos abandona. Ela está ao nosso lado, quase todos os meses do ano. Seja sobre gestão pública, sem dúvida a campeã de motivos; saúde; economia; violência; meio ambiente e por aí vão os férteis campos que lhe dão origem.
A notícia ruim tem a competência de entender dificuldades, e diante delas nunca esmorecer. Nem desistir. Volta — sem rancor — quando não é bem recebida e assimilada na primeira vez. Se não criar medo, comoção, desânimo ela não se cala. Insiste até alcançar os seus objetivos.
Ela, a notícia ruim, é quem nos incentiva acordar cedo, estudar e trabalhar, ter planejamento, criatividade e empenho. Realizar! Com fé, esperança e vontade permanentes para superar obstáculos, desafios, adversidades.
A notícia ruim nos estremece, é certo, mas também tem o mérito de provocar reflexões que talvez nunca tenhamos feito. E promove crescimento, descobertas, transformações.
O maior ensinamento da notícia ruim, algo que fortalece nossa capacidade de resiliência: ela sempre alcança o seu objetivo!
Portanto, como a notícia ruim — esse bom exemplo, serei vitorioso contra ela mesma. Além do que manter o humor é fundamental para motivar esperança e ter chance de neutralizar os efeitos de qualquer desânimo diante do fascinante mistério do existir.
Guimaraes Rosa, um dos grandes nomes de nossa literatura, disse no personagem “Riobaldo”, de “Grande Sertão: Veredas”, que viver é muito perigoso. E explicou: “Porque ainda não se sabe e porque aprender a viver é que é o viver mesmo.”
Eu, aos quase 73 anos, sigo aprendendo. E feliz! Mesmo diante de notícia ruim, esse grande estímulo na luta pela vida.
*Ricardo Viveiros, jornalista, professor e escritor, é doutor em Educação, Arte e História da Cultura; autor, entre outros, de “A Vila que Descobriu o Brasil” (Geração), “Justiça Seja Feita” (Sesi-SP) e “Educação S/A” (Pearson).