“Nós estamos em um momento em que uma parte da sociedade tem acesso a tudo, a home office, álcool em gel, máscara… E uma outra parte, que é a parte da favela, não tem sequer acesso a água, que mora em cima do córrego, que álcool em gel é produto de luxo e para ter acesso a máscaras, precisa fabricar. É uma situação muito difícil, aumentou o desemprego e a fome”, afirmou Gilson Rodrigues, coordenador nacional do G10 Favelas, em uma entrevista.
São mais de 763 comunidades somente no estado do Rio de Janeiro, sem levar em conta a grande comunidade de Paraisópolis na cidade de São Paulo, que conta com mais de 100 mil habitantes, 21 mil domicílios em uma área de 10 km² na Zona Sul de São Paulo. É considerada a segunda maior de São Paulo, ficando atrás apenas de Heliópolis que conta com cerca de 200 mil habitantes na área, segundo a Unas (União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região). São 52 comunidades no total, sendo que algumas delas estão em região nobre da cidade há mais de 50 anos.
Essas regiões nas maiores cidades brasileiras só aparecem nos radares dos órgãos públicos em períodos eleitorais. Voltando ao Rio de Janeiro, a governança não fez caso da situação calamitosa em que vive essa população por mais de 50 anos, a grande cidade luxuosa e bonita, vive como se essa realidade de pobreza não existisse.
Com o advento da pandemia e da violenta contaminação através da doença ainda não decifrada com antídoto pela medicina, a pobreza se destaca. Uma pessoa que não tem o que comer, como vai ter dinheiro para comprar o álcool gel no padrão sanitário, para aquelas famílias que vivem em torno de 12 pessoas em 12 metros quadrados de moradia, como se prevenir com o distanciamento social?
Todo esse quadro traz à tona os nossos baixos índices de desenvolvimento humano, o Brasil possui um IDH de 0,699 e atualmente ocupa o 73° lugar no ranking mundial. Nossa caminhada em busca por um equilíbrio e justiça social é longa, precisamos de políticas públicas que atendam as classes menos favorecidas, precisamos ser a voz daqueles que não tem voz como diz a música do grupo Rappa:
“A minha alma tá armada
E apontada para a cara
Do sossego
Pois paz sem voz, Paz sem voz
Não é paz é medo…
Precisamos de representantes públicos comprometidos com a verdade, carecemos de uma sociedade representativa onde o voto se transforme em ações transformadoras, devemos deixar para as próximas gerações um país bem melhor…
*Cícero Manoel Bezerra é coordenador da área de Humanidade da Escola Superior de Educação do Centro Universitária Internacional Uninter.