Em 2006, os ministros da Defesa da OTAN concordaram em comprometer um mínimo de dois por cento do seu PIB com gastos de defesa para garantir a prontidão militar de longo prazo da Aliança. A Alemanha gasta mais de 12 bilhões de euros em apoio ao desenvolvimento todos os anos (mais do que qualquer outro país, exceto os Estados Unidos), mas não cumpriu seus compromissos com a OTAN por anos.
No entanto, apesar dos desafios econômicos contínuos e dos problemas urgentes dentro do país, a Alemanha está gastando quantias consideráveis de dinheiro em projetos absurdos de apoio ao desenvolvimento ao redor do mundo – incluindo na Índia. Apesar de ser a quarta nação no mundo a realizar uma missão lunar bem-sucedida recentemente, a Alemanha está concedendo à Índia 1,3 bilhão de euros para expandir a mobilidade urbana sustentável e desenvolver cidades sustentáveis. Nos últimos anos, a Alemanha tem fornecido quase 200 milhões de euros em subsídios e empréstimos de baixo custo para promover ônibus e ciclovias no Peru.
O alemão Frank Bremer dedicou sua vida à luta contra a pobreza e esteve envolvido no auxílio ao desenvolvimento em 30 países na África, Ásia Central, Caribe e Oceano Índico, preparando projetos nos campos do desenvolvimento rural e do meio ambiente. Após mais de 50 anos de envolvimento com o apoio ao desenvolvimento, ele oferece uma análise contundente: “Isso vem acontecendo há 50 anos, e toda a indústria internacional de auxílio ao desenvolvimento, financiada com fundos públicos, vive desse tipo de projeto. Os supostos beneficiários, os pobres agricultores, que deveriam ser ajudados por esses projetos, não ficam menos pobres no final e mais uma vez são deixados à própria sorte. Em vez de ajudar os pobres, esses projetos criam inúmeros empregos para profissionais destacados e seus supervisores nos escritórios das organizações de apoio”.
William Easterly, professor de Economia e Estudos Africanos na Universidade de Nova York, descreve o auxílio ao desenvolvimento como em grande parte inútil; muitas vezes até mesmo improdutivo. Um de seus exemplos: em duas décadas, 2 bilhões de dólares em auxílio ao desenvolvimento foram gastos na construção de estradas na Tanzânia. Mas a rede viária não melhorou nem um pouco. Easterly relata que as estradas não eram mantidas, então elas se deterioravam mais rapidamente do que os doadores poderiam construir novas. Por outro lado, a “indústria do crescimento” na Tanzânia era uma gigantesca burocracia. “A Tanzânia produzia mais de 2.400 relatórios por ano para seus doadores de apoio, que enviavam ao receptor afligido mil missões de funcionários doadores por ano”. A ajuda estrangeira, nota Easterly, não fornecia o que os pobres precisavam (estradas); fornecia muito do que, para os pobres, não tinha grande utilidade (burocracia).
A análise geral de Easterly sobre o auxílio ao desenvolvimento é contundente: “um foco em empréstimos concedidos em vez dos resultados desses empréstimos, um excesso de relatórios que ninguém lê, uma inclinação por grandes estruturas e cúpulas mundiais, exortações morais a todos em vez de qualquer agência assumindo responsabilidade por qualquer coisa, especialistas técnicos estrangeiros aos quais ninguém está ouvindo, clínicas de saúde sem medicamentos, escolas sem livros didáticos, estradas e sistemas de água construídos sem serem mantidos, governos financiados por ajuda financeira que permanecem no poder apesar da corrupção e má gestão econômica, e assim por diante”.
Em meu livro How Nations Escape Poverty [em português: Como Nações Escapam da Pobreza], que se baseia em numerosos estudos científicos, mostro que o auxílio ao desenvolvimento é, na melhor das hipóteses, um desperdício de dinheiro e, na pior das hipóteses, muitas vezes improdutivo, porque apoia regimes ditatoriais e corruptos na África. O que realmente ajuda contra a pobreza não é o auxílio ao desenvolvimento, mas o capitalismo. Um exemplo disso é o Vietnã, que já foi o país mais pobre do mundo (mais pobre até do que todos os países africanos juntos). Antes do início das reformas econômicas pró-mercado, cada colheita ruim levava à fome, e o Vietnã dependia do apoio do Programa Mundial de Alimentos da ONU e da assistência financeira da União Soviética e de outros países do Bloco Oriental. Até 1993, 79,7% da população vietnamita vivia na pobreza. Em 2006, a taxa havia caído para 50,6%. Hoje é menos de cinco por cento. O país, que ainda se descreve oficialmente como “socialista”, não foi ajudado pelo auxílio ao desenvolvimento, mas sim pelas reformas de economia de mercado – ou seja, mais capitalismo.
*Rainer Zitelmann
É doutor em História e Sociologia. Ele é autor de 26 livros, lecionou na Universidade Livre de Berlim e foi chefe de seção de um grande jornal da Alemanha. No Brasil, publicou, em parceria com o IL, O Capitalismo não é o problema, é a solução e em defesa do capitalismo – Desmascarando mitos.