A difusão nominal do folclore certamente não carrega a compreensão do seu significado, presença e existência dentro de uma sociedade, muito embora o nome, ou por melhor dizer, o conceito, fosse costumeiramente mencionado ou veiculado na história de um povo. Para muitos(as) brasileiros(as) a arte folclórica advém dos mitos interioranos cuja exclusivamente atravessa, para esses, apenas a ficção, o imaginário e também a criatividade, o que não é verdade, pois a dimensão folclórica é bastante diversa. Infelizmente, o desabastecimento informativo sobre atividades, ações, confirmações e correspondências folclóricas padecem na ausência do efetivo estudo nas escolas, universidades e até mesmo na difusão e incentivo pelo poder público em suas três esferas.
No Brasil, diversos folcloristas viveram no anonimato – em seu período de atividade para grande parte da sociedade – no que tange a visada do folclore brasileiro, minimamente por não terem sido explorados no aproveitamento cultural necessário para que a sociedade conhecesse o seu trabalho em prol da dimensão folclórica. Na literatura, música e arte, nomes consagrados noutros setores, firmaram compromisso consigo mesmo, pois a desinformação acerca do folclore não permitiu que esses fossem estudados como contribuintes desse certame, cabendo aqui destacar personalidades como: Inezita Barroso, Mário de Andrade, Pedro Teixeira, Câmara Cascudo e Florestan Fernandes. O tardio reconhecimento do Congresso Nacional em oficializar, apenas 1965, o dia 22 de agosto como dia nacional do folclore, carrega até hoje na contemporaneidade, dificultosos caminhos para disseminação coerente e correta sobre e para o folclore em nosso país.
Culinária, lendas, costumes, ditados populares, festas e artesanato são exemplos da dimensão riquíssima dos possíveis canais em que folclore pode se manifestar. O árduo trabalho para que esse progresso se instaure no cenário brasileiro, quando nos referimos à pragmática forma de apoiar, difundir, subsidiar projetos que possam dar conta da apropriação do estudo folclórico com responsabilidade na certeza que a história de um povo e, principalmente, a sua manutenção está definitivamente ligada à promoção da cultura estando nessa consonância, os folclores do seu povo.
Pouquíssimas pessoas sabem no Brasil que a nomenclatura FOLCLORE é mais um conceito acadêmico para dimensionar as ações que se qualificam como folclore, porém, o que é bastante curioso é que muitos folcloristas não sabem que produzem, executam ou fazem folclore. Isso se dá, pois a palavra folclore é um suporte conceitual, ou seja, uma nomenclatura utilizada pela academia e por melhor dizer, por centros de pesquisa e que raramente atingem àqueles que de fato produzem o folclore. Esse abismo demonstra que a tradição de um povo em propagar – de geração em geração – seus costumes e manifestos artísticos se confunde na mínima ideia de se valorar a cultura pela cultura, o que vale ressaltar nesse grande equívoco, que tudo e todos, estarem no balaio da cultura como produto de massa, de consumo expressivo apenas, não pode dar conta da realidade de se valorar e reconhecer o que de fato transita na seara folclórica.
Os diversos dizeres populares, mitos e lendas como: Curupira, Boi-Bumbá, Festas Juninas, Folias de Reis, Carnaval, Boitatá, Mula sem Cabeça, Saci Pererê, Iara e tantos outros agentes e movimentos folcloristas representam não apenas a curiosidade de um povo e seu manejo com a criatividade, mas com certeza, a possibilidade cíclica em que, de geração em geração, a tradição de um povo se manifesta como agente ativo e cultural nas organizações que projetam costumes, desde a oralidade, as artes manuais produzidas, a música e culinária que tipificam, como destaca a professora e pesquisadora Marlei Sigrist: “um bom sinal para sabermos se há indicativos para qualificação da possível tradição, como uma tradição folclórica”.
No fluente bate-papo com a professora e pesquisadora folclorista, nota-se dois obstáculos latentes. O primeiro, a dificuldade positiva em quantificar e qualificar a variedade de manifestos folclóricos no país. A segunda grande e triste dificuldade, fazer com que o poder público reaja a esse projeto que enobrece e esclarece tanto da nossa história no Brasil.
Há mais de 20 anos, no início deste vigente século XXI, foi criada em 29 de junho de 2001 a Comissão Sul-Mato-Grossense de Folclore – CSMFL em que a referida professora fez parte da fundação e atua até hoje com projetos extensionistas que enaltecem e batalham para dar manutenção à sistemática do folclore em nosso Estado em diálogo fluente com os demais estados do Brasil, considerando, o que é bastante louvável, a sua trajetória como professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS, no curso de Artes onde pode viajar a diferentes locais para apreciar, de perto, como o rito folclórico se manifesta em suas diferentes identidades aqui já preconizadas.
A ausência de um espalho físico fixo como sede própria tem sido o maior impasse para sequenciação desse projeto. Sigrist narra que possui um acervo grandiosíssimo de obras, peças e diversos artesanatos e demais utensílios que, organizadamente, dispostos em um espaço físico fixo, auxiliaria na difusão, orientação concisa e acessibilidade para comunidade escolar, acadêmica e turística poderem apreciar. Mesmo com esses embates aparentemente irresolvíveis, a Comissão Sul-Mato-Grossense de Folclore – CSMFL fundou a Revista Digital Estação Folclore com a finalidade de difundir e registrar estudos e projeções do folclore.
A necessidade de um espaço físico fixo para ornamentação e organização do acervo selecionado pela professora Marlei Sigrist nos últimos 30 anos é – sobremaneira – uma necessidade emergente em que a Comissão Sul-Mato-Grossense de Folclore – CSMFL poderá devolver à sociedade o que de fato é da sociedade. A professora destaca que o trabalho na estrada cultural não existe e não pode existir sem o apoio do poder público uma vez que a legislação canônica não tem saído do papel. A Comissão composta por diversos membros voluntários recruta textos, participa de eventos, mobiliza a participação e criação de seminários com uma limitação antitética em decorrência da desassistência do poder público e parcerias privadas. Neste ano em que se completa 22 anos da Comissão o dia 22 de agosto poderia ser diferente. Segundo Sigrist, a proteção da cultura de um povo está na manutenção e disseminação da sua própria cultura.
Nesse viés organizacional, destaca-se as estruturas difundidas pela CSMFL:
Das diversas ações promovidas pela Comissão Sul-Mato-Grossense de Folclore – CSMFL a publicação e fundação da Revista Estação Folclore parece de fato sofrer por existir apenas em modo digital. Esse sofrimento se dá pela ausência da possibilidade de trabalhos que possam tornar o material digital, impresso, ou até mesmo, a sua difusão em escolas cuja finalidade é difundir o folclore como suplemento cultural escolar, pois, indubitavelmente ele auxilia na contação e registro da história de um povo.
Ainda sobre a organização da comissão, são a seguir, os espaços de atuação:
Espaço físico adequado, apoio do poder público e também privado, sequenciaria o trabalho voluntário da Comissão Sul-Mato-Grossense de Folclore – CSMFL que batalha pela representação do Folclore e, sobretudo, seu acesso e compartilhamento cultural. A luta pela cultura, a sua preservação e difusão, dará garantias ao seu povo e sua cultura e terá raízes que darão conta de sustentar a maior de todas as heranças: as identidades de um povo e sua nação.
Site da Revista: http://estacaofolclore.blogspot.com/
Contato da professora Marlei Sigrist: (67) 9-9251-4781
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*Fábio do Vale (Colunista desta página) é Doutor e Pós-doutor em Estudos de Linguagens pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, escritor e pesquisador. Graduado em Letras e Pedagogia. Coordenador Pedagógico da Faculdade Insted, membro do NECC – Núcleo de Estudos Culturais Comparados – UFMS. Pós-doutorando na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – USP e, também, pós-doutorando em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Professor, pesquisador e escritor, atua nas práticas investigativas pós-coloniais e descoloniais com ênfase na América Latina, educação cultura, criticidades e literatura comparada.
Editor-chefe da RECAM – Revista Camalotes periódico científico da Faculdade Insted.
E-mail: professorfabioletras@gmail.com