O I Simpósio Estadual de Prevenção do Óbito Materno e Infantil traz reflexões sobre ações de impacto para a redução dos casos em Mato Grosso do Sul. Nesta terça-feira (30/05), profissionais de saúde e sociedade debateram o tema, que no mundo cerca 830 mulheres perdem a vida, por dia, devido às complicações relacionadas a gravidez e parto. “Transformando estes dados seriam mesma coisa que dizer no mundo, todos os dias, cinco aviões caem com mulheres gestantes ou puérperas morrendo por complicações de partos e gravidez“, afirmou a enfermeira da IFF (Instituto Fernandes Figueira) Fiocruz, dra. Evelyn Rios Sona.
A mortalidade materna é considerada uma das mais graves violações do direito humanos contra mulheres por 92% dos casos poderiam ser evitados. Os óbitos maternos em Mato Grosso do Sul nos últimos anos aumentaram por causa da pandemia. No período de 2020 a 2021 foram 70 mulheres que vieram a óbito. Em 2022, houve redução para 23 mortes, porém, nos cinco primeiros meses de 2023 já foram registrados 14 óbitos, o último na semana passada, a vítima era uma mulher residente em Três Lagoas.
A diretora-geral da Vigilância da Saúde, Dra. Hilda Guimarães de Freitas, afirma que é preciso que seja firmado um compromisso para que tenhamos a redução. “Esperamos que o evento contribua para chegar ao propósito de até 2030 com 30 óbitos por 100 mil nascidos vivos. Precisamos, então, fazer mais por esta caminhada, gestores (prefeitos), secretarias, técnicos e colaboradores (profissionais de saúde) assumam este compromisso da redução da mortalidade infantil em Mato Grosso do Sul“, disse dra. Hilda Guimarães.
A enfermeira da IFF Fiocruz, Evelyn Rios Sona, reforçou que as taxas de mortalidade materna e de mortalidade infantil são indicadores de vida da população, o que evidencia a desigualdade social de um país. A profissional apresentou dados preocupantes e que causaram indignação. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estipula que todos os dias, no mundo, 830 mulheres morrem por causas evitáveis relacionadas à gravidez e ao parto. “É número que nos deixa bastante entarrecido”, revela. Ao todo, foram notificados 1.965 casos de mortalidade materna no decorrer do ano de 2020 no país. “Significaria cinco aviões caindo só com mulheres brasileiras por ano“, alerta a dra. Evelyn Rios Sona.
Ações do Coren-MS
O presidente do Coren-MS, Dr. Sebastião Duarte, apontou que a prevalência da mortalidade materna se arrasta ao longo de anos. “Nós avançamos tanto na saúde na questão de tecnologias, porém, persistimos com um problema antigo, a morte de gestantes e puérperas. O que me causa indignação são as causas que poderiam ser evitadas, e são as mais frequentes. Se trata da perda da mãe, principal personagem na família. Não se trata de números, mas de famílias fragilizadas“, afirmou o Dr. Sebastião.
Entre as ações apresentadas pelo Coren-MS no Comitê Mortalidade Infantil da Secretaria de Estado de Saúde do Mato Grosso do Sul para redução da mortalidade materna, foram adquiridas kit de caixas de urgência e emergência obstétrica que serão doadas aos municípios e hospitais. “O compromisso dos municípios será de equipar as caixas de hemorragia, sepse e doenças hipertensivas. Sabemos das dificuldades, principalmente nas cidades do interior, onde não tenha especialistas e as urgências e emergências obstétricas não sejam frequentes, então com os protocolos e as caixas equipadas, fica mais fácil o manejo de tais intercorrências“, acredita.
Outras ações feitas pelo Coren-MS são a habilitação de profissionais de 12 municípios de MS para a inserção do DIU (dispositivo intrauterino). “A gente sabe que nem toda gravidez é planejada e algumas mulheres recorrem ao aborto e nisso algumas tem insucesso e complicações, levando risco à própria vida. Temos atendidos muitos secretários oferecendo políticas públicas para melhorar o planejamento familiar“, complementou Dr. Sebastião.
Foram feitas entregas de kits para o Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap-UFMS), Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS), Santa Casa e Maternidade Cândido Mariano.
A secretária-adjunta de Saúde do Estado, Dra. Crhistinne Maymone, informou que com a criação do projeto “Bem Nascer MS” pode ampliar o olhar e melhorar a política de governo para enfrentar a redução da maternidade infantil. “Entendemos que é um problema complexo. É um problema complexo que só pode ser enfrentado com muitas mãos“, cita.
O projeto é visto como fundamental para a estruturação dos serviços de saúde, qualificação de profissionais, além do aperfeiçoamento e atualização de toda a rede materno-infantil do Estado. Foi criado uma plataforma digital que reúne diversas informações que vai de encontro com os eixos prioritários do projeto: educação permanente; linhas de cuidado materno-infantil; painel de monitoramento e avaliação; planejamento reprodutivo; sífilis congênita; prevenção à mortalidade materno e infantil; produção científica; financiamento e governança.
Para a secretária, a população é carente de informação. “Enfrentamos muitos problemas sociais. Por que se faz sete consultas no período do parto? Por que preciso fazer ultrassom? MS enfrenta dificuldade por ter muitos municípios com populações formadas por ribeirinhos ou das zonas rurais a informação e conhecimento que não chega a população. Precisamos fazer diferente para os problemas que continuam os mesmos. Fazer releitura de estimular equipe e levar informação adequada para o próximo. Tirar debaixo do tapete o problema e transformar a sociedade“, acredita a Dra. Maymone.
O mês de maio é marcado pelo dia 28 sobre o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna. O I Simpósio Estadual de Prevenção do Óbito Materno e Infantil é promovido pela Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul, com apoio do Coren-MS.