Você sabia que o ruído frequente pode acarretar danos à audição de alunos e professores? Neste período em que crianças e adolescentes acabam de voltar às aulas em todo o país, junto com a animação de rever os coleguinhas, vem o barulho típico da criançada fazendo algazarra no pátio, na sala de aula, ou correndo e gritando pelos corredores.
É um cenário natural na infância, mas que esconde um sério problema: os danos à audição que podem começar já nessa fase. É fato que não se pode reprimir a alegria, mas é preciso impor limites.
O excesso de ruído pode causar diversos prejuízos à saúde – inclusive dos professores -, como estresse, falta de concentração e até uma progressiva perda auditiva, que às vezes pode ser sentida apenas na idade adulta, mas ter início já nos primeiros anos de estudo, em meio ao barulho na sala de aula e em outros ambientes da escola.
O “barulho ensurdecedor”, reclamação de muitos professores, não é somente um jeito exagerado de se referir ao incômodo. E com o passar do tempo, alunos, professores e funcionários da escola, expostos diariamente a sons altos, podem ter a audição comprometida. A Perda Auditiva Induzida por Níveis de Pressão Sonora Elevados (PAINPSE) tem efeito cumulativo. Quanto maior a frequência a ambientes barulhentos ao longo da vida, maiores as chances de danos à audição.
De acordo com Rafaella Cardoso, fonoaudióloga especialista em Audiologia na Telex Soluções Auditivas, é preciso ficar atento para possíveis danos auditivos – principalmente nas crianças – que muitas vezes podem passar despercebidos. “É necessário avaliar a audição de crianças e adolescentes no início da fase escolar para evitar prejuízos de aprendizagem ou mesmo o agravamento de distúrbios já existentes”, aconselha.
Pesquisa sobre acústica em sala de aula, realizada na Universidade de Oldenburg, na Alemanha, confirmou que em muitos colégios o barulho passa do tolerável. “Os professores que estão na profissão há muito tempo sofrem particularmente com o ruído (…). O fluxo das aulas é interrompido pela repetição frequente de informações e exortações para que as crianças fiquem quietas. Altos níveis de ruído dificultam a concentração no decorrer da aula”, observaram os professores e psicólogos August Schick e Maria Klatte.
Em outra pesquisa de dissertação no Curso de Pós-Graduação em Construção Civil da Universidade Federal do Paraná: “Avaliação do Desempenho Acústico de Salas de Aula”, Daniele Zwirtes investigou escolas de Pinhais e Curitiba (PR). “Constatou-se a total falta de qualidade acústica das salas de aula (…). Constatou-se também que o principal ruído percebido não provém do entorno, mas é gerado pela própria escola. As entrevistas com professores e alunos mostraram que o ruído gerado na própria sala de aula, seguido do ruído gerado nas salas de aula vizinhas, são as principais fontes de incômodo”.
É importante lembrar que a perda de audição não tratada afeta o desenvolvimento cognitivo e o desempenho escolar. Não raro, há pessoas que só identificam a perda auditiva na universidade e descobrem que a dificuldade de aprendizagem ou até mesmo o déficit de atenção diagnosticado na infância e adolescência eram causados, na verdade, por problemas auditivos”, explica a fonoaudióloga da Telex.
O limite sonoro suportável é de 65 decibéis, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Acima disso, o organismo pode começar a sofrer danos. Para as salas de aula, a Associação Brasileira de Normas Técnicas estipula o limite de 40 a 50 decibéis. Muitas classes, no entanto, atingem 75 decibéis, principalmente as que têm mais de 25 estudantes. E o barulho no pátio, na hora do recreio, pode chegar a mais de 100 decibéis.
A exposição ao barulho na escola, somada às variadas situações de ruído no dia a dia — trânsito, televisão em alto volume, ouvir música com fones no ouvido — preocupa os especialistas, que preveem problemas de audição cada vez mais cedo entre as novas gerações.