A disseminação do novo coronavírus (Covid-19) alterou radicalmente a rotina de atletas de alto rendimento, principalmente com o fechamento temporário de academias, parques e demais locais destinados à realização de atividades físicas. Os desportistas, muitas vezes habituados a treinar em espaços ao ar livre ou na companhia de outros atletas, com orientação técnica presencial, agora têm se virado para dar continuidade aos treinamentos em casa.
Durante o período de isolamento social, os contemplados pelo programa Bolsa Atleta, concedido pelo Governo do Estado, por intermédio da Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul (Fundesporte), mantêm os treinamentos em suas residências com a ajuda de utensílios domésticos e com acompanhamento técnico à distância.
De acordo com o diretor-presidente da Fundesporte, Marcelo Ferreira Miranda, há expectativa para a retomada do calendário esportivo estadual e nacional ainda este ano e os atletas devem procurar manter o condicionamento físico e técnico. “É fundamental que os atletas busquem formas de se manter ativos, com exercícios gerais e treinamentos específicos de cada modalidade, já que esperamos que a pandemia passe logo e que as competições aconteçam. O atleta que conseguir manter um nível razoável de treinamento específico certamente sairá na frente de outros atletas e não irá se expor ao risco de lesões em função da pressa para atingir melhores resultados”.
É o caso da ciclista Ana Gabriela Nogueira, que pedalava diariamente pelas ruas e avenidas de Campo Grande, antes do período de reclusão domiciliar recomendado pelos órgãos de saúde. “Mudou completamente, eu só treinava na rua. Agora, meus treinos com a bike são no rolo fixo (ferramenta que permite pedalar sem sair do lugar). Complemento com um treinamento funcional e levantamento de peso, usando tudo que aprendi nesses anos de atleta e com meus treinadores”.
No entanto, a campo-grandense está otimista quanto ao retorno à normalidade. “Acredito que vai demorar mais um pouquinho, mas confio que ainda darei continuidade às competições deste ano. Tudo passará, é só uma fase”.
Agnaldo Moura, do atletismo, também teve o cotidiano de treinamentos alterado de forma repentina. A maior parte de suas atividades era realizada em ambientes externos. “Para mim, está sendo um momento não tão difícil, mas sim de reflexões para algumas de nossas ações antes da pandemia. Eu estava focado nas competições previstas para o primeiro semestre”.
Para conservar o desempenho físico, o atleta da Capital prioriza o fortalecimento da musculatura. “Estou fazendo mais treinos anaeróbicos, pequenos funcionais e circuitos, para trabalhar o fortalecimento muscular e, assim, prevenir lesões quando retornar às atividades normalmente e competir em ótima forma”.
Para Edineia Camargo, atleta da seleção brasileira de Kung Fu Wushu, o período de isolamento, para evitar o contágio viral, serve para reflexão a respeito da importância do esporte em sua vida. “Me fez pensar em quanto amo o que faço e nas coisas realmente importantes, como família, amigos e pequenos gestos que, na correria do dia a dia, passavam despercebidos. Não é fácil pensar que talvez ficaremos longe das competições por mais algum tempo, mas esse momento deve ser de resiliência, fé, esperança e otimismo por dias melhores no esporte e no mundo”.
“Consigo fazer em casa treino de flexibilidade, aeróbicos (pular corda, rounds), circuitos com exercícios funcionais voltados à luta, sequências de golpes específicos da minha modalidade com uso de manoplas e aparadores de chutes”, completa a multicampeã sul-mato-grossense na arte marcial chinesa, que ainda realiza consultas online com nutricionista e psicóloga.