A 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 27), realizada em Sharm El-Sheik, no Egito, terminou nesta sexta-feira (18.11). Durante os 13 dias do evento, delegações de quase 200 países estiveram reunidas na busca por soluções conjuntas para frear as mudanças climáticas e os efeitos que ameaçam o equilíbrio do planeta.
Os últimos dias foram marcados por dois avanços junto à comunidade internacional e que contam com a participação do Brasil: um ligado ao metano e o outro referente ao aproveitamento de resíduos (reciclagem).
O Brasil propôs a criação de um Mercado Global de Metano nos moldes do que já ocorre com o mercado de carbono. O objetivo é que os envolvidos possam contar com um instrumento econômico que permita a viabilização de recursos para que as metas sejam cumpridas até 2030.
No ano passado, durante a COP 26, realizada em Glasgow, o Brasil foi um dos signatários do Acordo Global de Metano, proposto pelos Estados Unidos e assinado por mais de 100 nações, que visa reduzir em 30% as emissões globais de metano até 2030. Na edição deste ano, 27 países juntaram-se a esse acordo global, elevando o número de nações signatárias para aproximadamente 150.
“O Brasil lançou, ano passado, um programa chamado Metano Zero, logo após o Acordo (de Glasgow), para reduzir as reduções de metano baseado em lixo no campo e na cidade”, lembrou o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite.
“E o que nós estamos propondo? Criar um Mercado de Metano, idêntico ao que existe no mercado de carbono, mas voltado exclusivamente para os resíduos sólidos. E assim acelerar os projetos de resíduos sólidos. Alguns projetos são inviáveis. E uma receita extraordinária seria a solução para esses projetos. Essa é uma proposta que a gente vai levar para os cerca de 150 países que assinaram esse acordo para a gente criar uma estrutura de um crédito de metano”, prosseguiu o ministro.
Reciclagem
Na quinta-feira (17.11), em uma ação liderada pela presidência da COP 27, no caso o governo do Egito, juntamente com o braço da ONU para o Meio Ambiente, a UNEP, o Banco Mundial e a Roland Berger, a plataforma que vai operacionalizar a iniciativa, foi firmado um acordo que visa alcançar, em escala global, 50% de reciclagem até 2050.
“Esse é um legado que a COP 27 deixa para o setor de resíduos sólidos”, afirma Carlos Silva Filho, presidente da Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA, na sigla em inglês) e da Associação Brasileira de Resíduos Sólidos.
“No Brasil, nós já nos adiantamos a essa meta com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, publicado em abril deste ano, que traz como meta do país a redução de 50% de aproveitamento de resíduos até 2040, dez anos antes da iniciativa global”, prossegue Carlos Filho
Balanço
O governo brasileiro esteve presente durante todos os 13 dias da COP 27 com amplo estande montado no Pavilhão das Delegações do Sharm El-Sheikh International Convention Center (SHICC), palco da conferência. O local atraiu visitantes de todo o mundo, além de representantes da esfera federal, dos setores privado e financeiro e membros de instituições ligadas à agenda ambiental.
Durante as duas semanas da COP 27, mais de 50 painéis foram promovidos pelo Governo Federal. Somados aos encontros realizados no Espaço Sebrae, voltados a abrir uma agenda para as startups nacionais que atuam em temas ligados à proteção ambiental e ao combate às mudanças climáticas, foram mais de 100 painéis. Esses debates resultaram em mais de 90 horas de transmissão e todo o conteúdo está disponível para o público no Youtube do Ministério do Meio Ambiente.
Um dos destaques dos painéis foi a participação indiano Rattan Lal, um dos maiores especialistas em ciência do solo do mundo, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2007, como membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), e do Prêmio Mundial da Alimentação, em 2020.
Lal afirmou que o intercâmbio da tecnologia desenvolvida há décadas no setor agrícola no Brasil pode mudar a realidade de diversos países africanos. “Eu testemunhei um milagre acontecendo no Brasil devido à excelência na ciência, à transformação da ciência em realidade e às boas políticas”, ressaltou.
Energia renovável
A capacidade de geração de energia limpa do Brasil e todo o potencial do país ainda a ser explorado neste campo também foram ressaltados na COP 27. O Brasil já se destaca por possuir uma das matrizes mais limpas do mundo, com uma matriz elétrica que atinge hoje 85% de fontes renováveis. Na COP 27, o Brasil apresentou ao mundo todo o potencial que detém no campo das eólicas offshore, que trabalham na produção de energia por meio do vento que sopra em alto mar. Apenas neste campo, o potencial de geração de energia do Brasil é de 700 gigawatts de energia. Para se ter uma ideia do que isso significa, a capacidade instalada do Brasil hoje, ou seja, aquilo que o país dispõe para gerar energia, é de cerca de 180 gigawatts.
Outro campo ressaltado no Egito foi a energia solar, onde o Brasil já conta com 20 gigawatts de capacidade instalada. A título de comparação, a Itaipu Binacional, segunda maior hidrelétrica do mundo e líder mundial na geração de energia limpa e renovável, tem 14GW de capacidade instalada.
Agroindústria
O gigantismo da agricultura sustentável brasileira foi outro ponto de destaque nos debates realizados na COP 27. Um dos maiores produtores de alimentos do mundo, o Brasil caminha para mais um recorde na produção de grãos e deverá atingir 313 milhões de toneladas, de acordo com 2º Levantamento da Safra de Grãos 2022/2023, divulgado na semana passada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
A sustentabilidade da produção pecuária nacional também foi ressaltada no Egito. Única atividade presente em todos os 5.700 municípios brasileiros, o país conta hoje com 169,4 milhões de cabeças de gado em seu rebanho, com uma produção de 9,7 milhões de toneladas de carne bovina, das quais 7,2 milhões são destinadas ao mercado interno e 2,4 milhões para a exportação, o que faz do país o maior exportador do mundo. Além disso, o país é líder na exportação mundial de carne de frango desde 2004 e se destaca na produção de carne suína.
Biomas
A Amazônia também foi tema de debates na COP 27. O Brasil foi além, ao promover um painel que trouxe ao Egito representantes de cinco dos seis biomas nacionais. Para eles, o combate à pobreza nessas regiões deve estar no centro dos esforços em torno da preservação das florestas e da vegetação nativa.
“Somos favoráveis que temos que diminuir desmatamento e as queimadas. Mas, no mesmo tempo, na mesma velocidade e na mesma intensidade, temos que ter soluções para tirar as populações que estão ali da pobreza”, defendeu o secretário do Meio Ambiente do Amazonas, Eduardo Taveira.
Brasil, Indonésia e República Democrática do Congo
A conferência também foi marcada pelo anúncio da aliança entre o Brasil, a Indonésia e a República Democrática do Congo, cujo objetivo é valorizar a biodiversidade dos países e promover remuneração justa pelos serviços ecossistêmicos prestados pelas três nações — especialmente via crédito de carbono de floresta nativa — que detém as maiores florestas tropicais do mundo.
O anúncio do acordo foi feito pelo secretário de Clima e Relações Internacionais do Ministério do Meio Ambiente, Marcus Henrique Paranaguá, e pelos vice-ministros da Indonésia e da República Democrática do Congo. “Estamos muito felizes em anunciar esse acordo no qual temos trabalhado duro desde o ano passado. Os ministros dos três países reconhecem a importância de cuidar das maiores florestas tropicais do mundo”, afirmou o brasileiro.