São Paulo (SP) – Único representante brasileiro no Mundial de Motonáutica, Lebos Chaguri foi convidado para retornar ao circuito da Fórmula 1 H2O, principal categoria da modalidade, assim que conquistou o Mundial de Fórmula 3000 há três semanas em Muar, na Malásia. O convite partiu do próprio CEO da F1 H2O, o italiano Nicolo San German.
Chaguri teve a oportunidade de correr a F1 H2O Nations Cup de 2011 a 2014. Em 2013, no Catar, o piloto, que também possui nacionalidade libanesa conquistou a medalha de bronze, resultado inédito para um brasileiro no Mundial de Motonáutica. A F1 H2O Nations Cup tem formato específico, como uma Olimpíada anual com barcos de F1 com motores idênticos, sorteados entre 20 pilotos. O regulamento só permite ajustes no cockpit e hélice.
Na Fórmula 3000 Powerboat, conquistada por Chaguri, cada equipe tem seus barcos e os motores têm preparação livre. Os barcos em fibra de carbono medem 5,5 metros, pesam 350 quilos com o motor, possuem potência de 400 cavalos e atingem velocidade superior a 200 km/h. “Você fica em êxtase quando está a bordo, pois 200 km/h na água dá a sensação de um carro a 400 km/h. É muita adrenalina. Para chegar ao título mundial, venci o ‘Drag Race’ (disputa de arrancada) e a corrida final, de circuito ”, enfatiza o campeão.
Na prova decisiva, Chaguri largou na segunda posição, obtida no qualifying e adotou a cautela como estratégia inicial. “Deixei o pessoal passar porque com a água mexida e ondas devido ao vento forte, os barcos ficam vulneráveis a voar e se acidentar. Assim também acabei poupando o motor e só comecei a acelerar a partir do meio da prova, buscando posições até conseguir a liderança na penúltima volta, ”, relata Chaguri, que recebeu a taça de campeão mundial de 2018 do ministro Salahuddin Ayub Menteri e da primeira ministra feminina da história da Malásia Yeo Bee Yin, principais autoridades da Malásia.
Da UTI para o pódio – Vencedor e experiente, Chaguri adquiriu a dimensão do que a cautela significa quando se está pilotando na superfície da água a mais de 200 km/h. “Sofri um acidente sério em 2012 nos Emirados Árabes Unidos. Fui para UTI em Sharja, transferido para UTI de Dubai e quando retornei ao Brasil, ainda permaneci na UTI. Tive trombose, embolia pulmonar e um coágulo no cérebro”, conta o piloto que ficou nove meses em tratamento fazendo exames semanalmente.
“A três minutos do final dos treinos classificatórios, parti para melhorar meu tempo e quando estava ultrapassando o barco de Brunei na curva, por dentro, batemos e os dois barcos saíram voando. O airbag não funcionou e eu não consegui acionar o dispositivo do inalador de oxigênio, pois fui perdendo a consciência. Fiquei submerso e quando cheguei à ambulância, falaram que eu estava roxo. Logo após receber alta em São Paulo, viajei para o Catar e conquistei a medalha de bronze em Doha no mundial de 2013 na F1 H2O Nations Cup. Tinha dúvidas se conseguiria voltar a pilotar em alto nível, mas quando entrei no barco só pensei em acelerar”, recorda-se Chaguri sobre o resultado inédito na motonáutica para o Brasil.
Em 2014 Chaguri fez sua última participação na F1 H2O NC e estreou no Campeonato Mundial de Endurance. No ano seguinte ingressou na F 3000 recebendo o título de Rockie of the Year e em 2017 conquistou medalhas de prata e bronze em duas etapas do Mundial de Endurance, na Colômbia, resultados também inéditos para um piloto brasileiro. Os riscos em uma prova de motonáutica são eminentes. “A velocidade do barco vai de 0 a 100 km/h em três segundos, e de 0 a 200 km/h em 4,5 segundos. A força G (medida com base na gravidade) vai a 7G nas curvas. Nos carros de Fórmula 1, por exemplo, a média é de 2,8G e em aviões-caça fica entre 5G e 6G”, compara Chaguri.
Em busca de reconhecimento nacional – O talento do piloto brasileiro adquiriu dimensão internacional, principalmente na Ásia e Oriente Médio, onde é disputada a maioria das provas do Mundial de Motonáutica. Chaguri espera encontrar o mesmo apoio no Brasil para viabilizar um projeto vencedor em equipe de ponta na F1 H2O em 2019.
“Tenho espaço na Fórmula 1. Agora estou atrás de patrocínio. Para a F1 H2O, eu já teria inclusive equipe, mas antes, quero mais um patrocínio. Eles desejam muito que eu esteja lá. Não deixam qualquer um entrar. Quase todos os pilotos são campeões mundiais em alguma categoria de motonáutica”, conclui o piloto brasileiro.
Chaguri reside em São Paulo e cresceu em torno da Represa Guarapiranga, onde morava. Além de correr de motonáutica, velejou e venceu campeonatos nas classes Hobie Cat e Mini Oceano na década de 2000. Competiu também na motovelocidade no Autódromo de Interlagos. Em maio, apresentou-se no Classic Boat Festival do Yacht Club Paulista, pilotando na represa a mesma Fórmula Indy de seis cilindros que em 2009 lhe deu o título do último campeonato de motonáutica realizado no Brasil. Neste ano, foi homenageado na conferência “O Potencial da Diáspora Libanesa”, em Beirute, pelo ministro de relações exteriores Gibran Bassil. O piloto apresentou sua trajetória no Esporte aos representantes de vários países.