A Missão Diplomática dos Estados Unidos no Brasil, por meio do Consulado Geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, o Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), a Prefeitura do Rio de Janeiro, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) firmaram parceria para o desenvolvimento de ações de conservação e consolidação do sítio arqueológico do Cais do Valongo, na região portuária do Rio. Nesta quarta-feira, 21 de novembro, em meio à celebração da Semana da Consciência Negra, Scott Hamilton, cônsul-geral dos EUA no Rio de Janeiro, representando a Missão Diplomática dos Estados Unidos no Brasil, Ricardo Piquet, diretor-presidente do IDG; Nilcemar Nogueira, secretária municipal de Cultura, e Mônica da Costa, superintendente do IPHAN no Rio de Janeiro, se reuniram para o lançamento da pedra fundamental das obras no Cais do Valongo.
O aporte de US$ 500 mil para o projeto inicial será concedido pela Missão Diplomática, com recursos do Fundo dos Embaixadores dos Estados Unidos para Preservação Cultural. A iniciativa reafirma o trabalho conjunto que os Estados Unidos e o Brasil vêm realizando há mais de duas décadas para promover a inclusão racial e destacar a herança africana compartilhada entre ambos os países. William Popp, atual encarregado de negócios da Missão Diplomática dos EUA no Brasil, afirma: “Estamos felizes de colaborar com todos os nossos parceiros à medida que este projeto se concretize”. O projeto tem o apoio do P. Michael McKinley, ex-Embaixador dos EUA no Brasil e agora assessor do Secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo. Para ele, o Cais do Valongo será um símbolo permanente da cooperação entre os dois países. Veja a mensagem do ex-embaixador na página da Embaixada dos EUA no YouTube: http://bit.ly/2KqiIOk.
Neste primeiro momento, serão realizadas a restauração do pavimento original de pedras, drenagem das águas da chuva e ainda reforço estrutural das paredes, fundações e superestrutura. O trabalho, resultante de projeto da Prefeitura, orientado pelo IPHAN e contratado pela Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (CDURP), inicia em dezembro e terá duração de dois anos. O objetivo é que as ruínas funcionem como um museu a céu aberto, um recorte do passado que deverá ser preservado, respeitando os valores artísticos e históricos envolvidos.
O IDG – que tem ampla experiência na gestão de bens culturais e ambientais, tais como Museu do Amanhã, Bibliotecas Parque, Paço do Frevo e Fundo da Mata Atlântica – fará a gestão do recurso. “Nós do IDG estamos muito felizes com esta parceria, que nos permitirá contar a história do Sítio Arqueológico do Cais do Valongo, ressignificando um momento doloroso de nosso passado recente, a escravidão, num ambiente de reflexão e de valorização da cultura de matrizes africanas – marcada, sobretudo, pela luta e pela resistência – assim como em um local de promoção e defesa de Direitos Humanos”, lembra Piquet.
Importância histórica
O Cais do Valongo foi considerado Patrimônio Mundial da UNESCO, em 2017, por ser o único vestígio material do desembarque de cerca de 1 milhão de africanos escravizados nas Américas. Esta é a primeira grande intervenção no local desde a obtenção do título e tem, entre outros objetivos, a missão de difundir o valor histórico do local. O sítio arqueológico foi redescoberto em 2011 durante obras de revitalização da Prefeitura na zona portuária do Rio de Janeiro, na operação urbana Porto Maravilha. Rapidamente, recuperou seu significado na memória da escravidão no mundo e hoje é parte importante da área da cidade conhecida como Pequena África.
“A parceria com o Governo dos EUA lança as bases para todas as ações de preservação material e imaterial que serão implementadas a partir de agora. De forma simbólica, também acena para a comunidade internacional sobre a necessidade de unir esforços a fim de impedir que se repita e se tolere, em qualquer parte do mundo, o bárbaro crime da escravidão e a tragédia do extermínio racial. O Cais do Valongo é um marco para que se repare a desigualdade social e o racismo estrutural na sociedade brasileira e que se reconheça e valorize a grandeza e a cultura do povo negro na construção de nossa nação”, afirma a secretária municipal de cultura Nilcemar Nogueira.
Segundo Kátia Bogéa, presidente do IPHAN, “Em momentos de elevada intolerância que ronda o mundo atual, o reconhecimento de sítios sensíveis coloca em evidência a necessidade de compartilharmos nossa experiência em prol de uma visão mais humanista da sociedade global. A parceria com o governo dos Estados Unidos demonstra o compromisso firmado pelo Estado Brasileiro ao apresentar a candidatura do Cais do Valongo a Patrimônio Mundial, no sentido de promover as melhorias que o sítio necessita para contar sua história e tudo o que significou, a partir de sua reapropriação social nos dias atuais, em especial, pelos descendentes afro-brasileiros, que numa atitude de superação reafirmam sua negritude e sua história para o Brasil, as Américas e todo o Mundo”.
O projeto conta ainda com o apoio do IRPH – Instituto Rio Patrimônio da Humanidade e teve o tombamento do INEPAC – Instituto Estadual do Patrimônio Cultural do governo do estado do Rio de Janeiro, conferido recentemente.