Em nossa terceira matéria sobre câmbios, enfocamos nos automáticos convencionais que, apesar do aumento de opções, eles continuam em alta. Tanto que a Chevrolet adotou o modelo convencional com seis marchas como padrão para todos os veículos da linha nacional, desde os modelos de entrada Onix e Prisma até os de alta gama, como o Cruze e o SUV Trailblazer.
A facilidade de manutenção também conta a favor do automático em relação aos câmbios de dupla embreagem. O próprio grupo Volkswagen quando decidiu nacionalizar o Audi A3 e Golf, acabaram por adotar o Tiptronic de seis velocidades no lugar do DSG de sete velocidades usado nos importados. Apenas os modelos equipados com motor 2.0 TSI mantiveram a transmissão original.
A Ford é outra que está abandonando o Powershift de dupla embreagem em favor de um automático de seis velocidades, já aplicado no EcoSport 1.5 e 2.0 e aguardado para o Fiesta.
Uma marca que tem feito bastante sucesso entre as montadoras é a japonesa Aisin, que produz o câmbio automático de seis velocidades que equipa diversos modelos da Peugeot (308, 408, 508, 3008 e RCZ), Citroën (C4 Lounge), Fiat Toro Flex, Jeep Renegade e Compass, entre outros. Entre os reparadores, esta é uma caixa de transmissão que tem pouco a dizer, pela robustez e qualidade e foi recentemente adotada também pelos Peugeot 208 e 2008.
Vale lembrar que o Brasil já tem modelos nacionais que se valem de caixas ainda mais modernas, exemplo da transmissão ZF de nove marchas (foto de abertura) aplicada no Jeep Compass 2.0 Flex 4X4 e diesel, como também na Toro Tigershark 2.4.
O funcionamento é bem diferente de uma caixa automatizada, pois não há embreagem, apenas um conversor de torque banhado em óleo capaz de deslizar e conectar efetivamente o motor ao conjunto de transmissão. A construção também é totalmente diferente: um conjunto de engrenagens planetárias forma as marchas e é operado hidraulicamente.
Na prática, o câmbio oferece uma suavidade muito maior nas passagens em relação aos automatizados de monoembreagem, especialmente os mais modernos. Em muitos modelos, recursos como o modo Sport ou trocas sequenciais permitem dar uma pitada a mais de emoção. Somado a isso, os automáticos mais recentes não perdem muito em velocidade de troca em comparação aos velozes câmbios de dupla embreagem.
Problemas comuns e manutenção
Entre os defeitos mais comuns relatados estão trancos, demora no engate das marchas e até travamentos, fazendo com que o câmbio entre em módulo de emergência. “Não são muito complicados de resolver, mas o custo é elevado, na ordem de R$ 7.500, dependendo do caso”, afirma o especialista em transmissão automática, Maurício Carreiro, instrutor da TTR Treinamentos, de São Bernardo do Campo (SP).
Ao contrário da transmissão de seis marchas usada atualmente pela PSA, a caixa automática de quatro marchas AL4 (também conhecida como DP0) utilizada em alguns modelos Renault e nos antigos Citroën C4 e C5, e Peugeot 207, 307 e 407 (e antecessores), é frequentemente relacionada a defeitos. Trancos, patinações, atrasos na troca de marchas, acendimento de luzes de anomalia no painel, entrada em modo de emergência são exemplos.
Carreiro explica que a vida útil das transmissões automáticas está diretamente relacionada ao torque do motor e peso do veículo. “O mesmo câmbio era usado no Citroën C5 e Peugeot 207, porém no primeiro não era raro encontrar problemas aos 25.000 km, enquanto no 207 rodava até 130.000 km sem defeitos”, afirma. “A diferença está no tamanho do motor e peso dos veículos, o C5 com motor 2.0 e quase 2.000 kg, enquanto o 207 com motor 1.4 e pouco mais de 1.100 kg, ambos equipados com uma caixa que suporta menos de 18 kgfm de torque”, explica.
Segundo o especialista, a caixa AL4 não é ruim, somente foi mal utilizada, uma vez que não tem carga relativa de torque, ao suportar no máximo 18 kgfm. “Ao comprar um carro com transmissão automática é preciso ficar atento à relação entre a capacidade de torque do câmbio e o torque do motor mais o peso do veículo. Se for muito próximo, o esforço do câmbio será maior e sua durabilidade menor”, afirma.
Outras transmissões ficaram marcadas por problemas relatados pelos proprietários, exemplo do câmbio 6T70 usado nos antigos Chevrolet Captiva e Ford Fusion, importados do México. Na maioria dos casos, a quebra no anel mola comprometia o funcionamento da caixa, utilizada nas versões V6 de ambos carros. O reparo em oficina terceirizada aproveita a carcaça da transmissão, mas tem que substituir vários componentes afetados pela quebra.
Troca do fluido
Independente do tipo da transmissão escolhida, Carreiro afirma que é imprescindível para o prolongamento da vida útil do câmbio a manutenção preventiva, que resume-se na correta troca do fluido de transmissão, nos prazos previstos. “É importante ficar atento a qualidade do fluido e jamais querer economizar utilizando um muito mais barato, que não atende as especificações do fabricante”, alerta Carreiro.
“Como é um fluido caro, e em alguns veículos chega a usar vários litros, muitos buscam substitutos que infelizmente encurta a vida do câmbio ao invés de prolongar, e quando isso ocorre o prejuízo é alto”, afirma.