A verdadeira reforma não surge exclusivamente de crenças, ideologias ou sistemas de governo humanos. Nasce no Mundo (ainda) Invisível, a Pátria de onde todos viemos e para a qual retornaremos, sem exceção.
Dessa revolução permanente participam milhões e milhões de Espíritos aguerridos, mas de coração sublimado. Eles devem ser escutados, pois nos falam da experiência de outras existências, que premiam o correto esforço com o prêmio da libertação.
— Ah! Não existe o outro lado da vida?!
Não?! Então, me responda, por favor: onde se encontram Deus, o Cristo e o Espírito Santo? Para que região você dirige as suas súplicas, quando ora? Para que lugar você vai, quando for transferido deste para o “outro mundo”?
É bem melhor descobrir que prosseguimos vivos e atuantes numa dimensão espiritual do que nessa falácia dos “sete palmos de terra”, que, no mínimo são bem pesados para quem honrou seus compromissos na Terra. É melhor ter esperança do que passar a vida tendo um medo oculto da escuridão eterna.
A Terra deixará de ser exílio
Na Terra, ninguém escapa da inevitável convocação da morte. Aliás, essa preocupação é pertinente também para os Irmãos ateus materialistas.
A certa altura da jornada humana, não há quem não se indague, nos momentos solitários de reflexão, sobre o seu próprio futuro… mais além. Um porvir especial que terá de enfrentar sozinho, ou sozinha. É quando se chega ao que podemos chamar de “Cabo das Tormentas”*¹ (a idade que nem todos gostam de ter). Todavia, depois de contornado, se desejamos investigar realmente a respeito de nossa essência imaterial, passa a ser o “Cabo da Boa Esperança”, que, não mais causando temores, nos revela que há um “Caminho Marítimo para as Índias” do Espírito, onde serão encontradas todas as especiarias e riquezas imortais.
A Vida é eterna, como o Amor autêntico. O Livro das Profecias Finais mostra essa realidade, quando para nós vislumbra Novo Céu, Nova Terra, Nova Jerusalém (Apocalipse, 21:1 e 2). Trata-se do torrão natal, para onde todo exilado deseja volver. Porém, um fato maravilhoso ocorrerá desta vez: o nosso país de origem, o Céu, é que virá ao nosso encontro, baixando das Alturas à Terra (Apocalipse, 21:9 a 11):
9 Então veio um dos sete Anjos que têm as sete taças cheias dos últimos sete flagelos, e falou comigo, dizendo: Vem cá e eu te mostrarei a noiva, a esposa do Cordeiro de Deus.
10 E ele me transportou, em Espírito, a uma grande e elevada montanha, e me mostrou a cidade santa, Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus,
11 a qual tem a claridade do próprio Deus. (…)
(…)
Deus não se esquece de nós
O Evangelho-Apocalipse nos mostra que somos Filhos de um Pai Celestial, que criou o Universo Infinito, mas que não se esquece de que nós existimos.
É urgente aprendermos muita coisa com a vida no Mundo Espiritual. Se não compreendermos este propósito, incorreremos nos mesmos erros de tantos sonhadores que prometeram dias melhores para as populações, mas que lhes multiplicaram pobreza e espalharam miséria. Exaltaram a sociedade do corpo, que morre, desprezando a do Espírito, que permanece. Por isso, fracassaram. E outros, afastando-se da realidade diária do Povo, esqueceram as carências reais do corpo. Ora, in medio virtus est (a virtude está no equilíbrio).
No Terceiro Milênio (que tem mil anos…), nenhuma proposta social, econômica ou política frutificará neste planeta, cada vez mais exaurido, se não levar em conta as Revelações de Deus, entendido como Fraternidade Ecumênica, instrumental eficiente da Estratégia da Sobrevivência. Sem elas, estaremos escorregando para uma vivência sem horizontes mais amplos. Portanto, ilusória, porque passageira.
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*¹ Cabo das Tormentas – A navegação portuguesa, na virada do século 15 para o 16, teve como grande expoente Vasco da Gama. Os métodos inovadores e a coragem com que ele venceu os desafios do mar o imortalizaram na história. Um dos muitos óbices que aterrorizavam os marinheiros naqueles tempos era o “Cabo das Tormentas”, o qual passou a ser chamado de “Cabo da Boa Esperança” depois de ter sido, finalmente, superado pelo grande navegador, em 22 de novembro de 1497. Com maestria, sua armada contornou a África, vislumbrando, pela primeira vez, a costa oriental daquele continente. Vasco tornou-se, assim, o primeiro a comprovar a existência de uma rota marítima que unisse a Europa às Índias, na Ásia.
José de Paiva Netto, jornalista, radialista e escritor.