Como forma de levar o cinema a todas as regiões da cidade surgiu o projeto “Campo Grande Na Tela”, desenvolvido pela Marruá Arte e Cultura. Nele, filmes feitos na Capital são exibidos em instituições de ensino para que os jovens tenham contato com a produção audiovisual, já que quase sempre eles só têm acesso a produções estrangeiras, em sua maioria de Hollywood.
Em sua segunda mostra, o “Campo Grande Na Tela” vai até o bairro Nova Lima, na região Segredo. A Escola Municipal Hércules Maymone foi a escolhida para receber as exibições, que acontecem nos dias 10 e 11 de abril, às 17h. Além dos alunos, moradores da comunidade e região podem assistir os 13 filmes que serão exibidos nos dois dias. O projeto conta com recurso do FMIC (Fundo Municipal de Investimentos Culturais), advindo da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura de Campo Grande.
Antes de levar as exibições para cada escola, integrantes do projeto vão até o local e expõem um guia pedagógico explicando como ele funciona e apresentando os filmes que participam da mostra. No guia ainda há sugestões de temas e exercícios sobre o conteúdo gerado a partir deste contato com o cinema que podem ser aproveitados em sala de aula nas disciplinas de História, Literatura, Português, Geografia e Artes. O projeto atende o cumprimento da Lei que determina a exibição de filmes nacionais nas escolas de educação básica.
“Nos últimos anos, o trabalho da Marruá se aproximou do cinema e da prática audiovisual. De projetos que desenvolvemos surgiram vários curtas. Percebemos que havia um acervo deles bastante relevantes e reveladores sobre a cidade em que moramos. Diante desse repertório pensamos ser importante transmitir esse conhecimento às novas gerações, produzindo mostras para exibição nas escolas e guias pedagógicos para apoiar os educadores, realizando debates”, explica Belchior Cabral, coordenador do projeto.
A primeira mostra ocorreu nos dias 26 e 27 de março, na Escola Municipal Arlindo Lima no Centro. Foi o primeiro contato que os estudantes tiveram com o cinema local. “Não sabia que existia filmes feitos aqui. O que eu mais gostei foi ‘Preto e Branco’, porque amo futebol e ele fala de um time daqui”, afirmou o aluno de 13 anos Keinny Vilhalba.
Para Heitor Freire, que prestigiou a primeira mostra representando o Instituto Histórico e Geográfico de Campo Grande, o projeto tem o potencial de instigar a curiosidade desses adolescentes. “Ele vai despertar o interesse dos jovens pelo cinema e cultura locais, já que tem um conteúdo bastante diverso e rico”, avalia.
Nessa segunda mostra serão exibidos: Ser Criança Em Campo Grande, de Tina Xavier; Olhar Diferente, de Marielle Oliveira; O Olhar Indígena Sobre Campo Grande, de Sidney de Albuquerque; Espera e Enterro, de Fábio Flecha; Ela Veio Me Ver e A TV Está Ligada, de Essi Rafael; Nova Lima, Mil Pecados, de Ivair Dantas; Clave Latina e Preto e Branco, de André Monteiro; Tia Eva, de Ana Carla Pimenta e Vânia Lúcia Duarte; Lamento, de Eduardo Romero; e Memórias de Luz, de Farid Fahed.
Para que os alunos entendam melhor como funciona o cinema campo-grandense é promovido um debate após as exibições. Na Escola Municipal Hércules Maymone foram convidados a cantora Marina Peralta e o grupo de rap La-Firma, no primeiro dia, o ator Espedito Di Montebranco e a diretora Vânia Duarte no segundo dia. A escola fica na rua Celina Baís Martins, 31, Nova Lima.
A próxima instituição a receber o projeto será a Escola Municipal Nagib Raslan, no Jardim Petrópolis, localizada na região Imbirussú, no dia 18, de manhã e à tarde.
La-Firma
Cinco jovens que vivem na Zona Norte da Capital se juntaram, dando voz aos anseios e desejos dos moradores da região estigmatizados pela violência. Assim surgiu em 2015 o grupo de rap La-Firma ZN Clã. Eles participam do primeiro dia da mostra, com o videoclipe da música “Nova Lima, Mil Pecados” e do debate após as exibições.
A música surgiu como um clamor pela paz no bairro. “Em 2016 ocorreram mais 20 homicídios por aqui. Sentimos necessidade de falar disso e escrevemos a música”, conta Rodrigo Camargo, um dos vocalistas do grupo.
Eles perceberam que só a música não atingiria todos os moradores, ainda mais os jovens. “Percebi que deveríamos fazer um videoclipe para que essa mensagem fosse mais longe, assim nosso alerta poderia conscientizá-los. Hoje em dia, com a internet, tudo é muito visual”, reflete Rodrigo.
O videoclipe é em formato de curta-metragem, tem pouco mais de 10 minutos de duração e foi roteirizado por ele mesmo. No total, as gravações duraram cerca de três meses. “O processo foi difícil, nunca tinha trabalhado com audiovisual, foi desafiador. Acho que conseguimos passar nossa mensagem, pois muita gente se viu representada ali, demos uma visão geral do que aconteceu e mostramos que há outros caminhos a seguir”, acredita.
A resposta da produção foi bem maior do que o grupo esperava, só no YouTube são quase 40 mil visualizações. Além disso, ela os levou para a sala de aula de universidades e colégios. “Conseguimos alcançar outras esferas, foi uma ponte para tentar levar nossa realidade a outros locais”, finaliza.