São Paulo (SP) – A nova legislação que proíbe o uso de celulares em salas de aula das escolas de todo o Brasil, sancionada recentemente, colocou em pauta o desafio de equilibrar a vida digital dos estudantes com o ambiente escolar. A medida, que visa melhorar o desempenho acadêmico e fortalecer as interações presenciais, requer um esforço conjunto de famílias e educadores para garantir que a transição seja bem-sucedida.
“O desapego digital é um processo que precisa ser trabalhado com cuidado e estratégia. Conscientizar os alunos sobre os benefícios das interações off-line é o primeiro passo; precisamos educar as crianças e os jovens para entenderem as vantagens de desconectar-se em certos momentos”, afirma Meire Nocito, Diretora Institucional Educacional do Colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo (SP). Segundo ela, a escola tem adotado práticas que envolvem não apenas os alunos, mas também seus familiares e professores, em um movimento amplo para ressignificar o uso da tecnologia.
O papel das famílias: apoio e exemplo
Para Meire, o suporte das famílias é fundamental neste momento. “Os pais são importantes referências de modelo de comportamento para os filhos. Se eles incentivam um uso mais consciente dos dispositivos digitais em casa, as crianças tendem a seguir esse exemplo”, explica.
Uma das estratégias recomendadas é estabelecer regras claras de uso dos celulares no ambiente doméstico. Por exemplo, criar zonas livres de telas, como durante as refeições ou na hora de dormir, criar momentos de interação, diálogo e entretenimento em família. “Esses momentos são preciosos para fortalecer laços familiares e ensinar as crianças e os jovens a se desconectarem gradativamente”, pontua a Meire.
Outra orientação é incentivar atividades que promovam interações fora do ambiente virtual, como esportes, leituras ou hobbies criativos. “O desafio é substituir o tempo gasto no celular por experiências que agreguem valor ao seu desenvolvimento e bem-estar”, reforça Meire.
Os professores como agentes transformadores
Nas escolas, os professores também enfrentam o desafio de se adaptar a essa nova realidade. Para Joice Lopes Leite, Diretora Institucional de Educação Digital do Colégio Visconde de Porto Seguro, neste momento o diálogo entre os professores e os alunos é essencial. Ela afirma que os dispositivos eletrônicos trazem um ganho significativo para a aprendizagem quando usados para fins pedagógicos.
“Os educadores precisam aproveitar essa oportunidade para desenvolver práticas pedagógicas que valorizem o contato humano, a discussão e o aprendizado colaborativo”, comenta Joice. Segundo ela, o Colégio Visconde de Porto Seguro já tem investido em projetos que estimulam a criatividade e a resolução de problemas, sem depender exclusivamente de dispositivos eletrônicos.
Além disso, é essencial que os professores conversem abertamente com os alunos sobre a importância do uso consciente da tecnologia. “Quando o jovem entende o porquê de limitar o uso do celular, ele tende a enxergar isso como um ganho, não como uma imposição”, explica.
Equilíbrio e parceria em tempos de hiperconectividade
Apesar das dificuldades iniciais, a proibição do uso de celulares na escola é vista como uma oportunidade de repensar a dinâmica entre educação, tecnologia e as famílias. “Não se trata de demonizar o celular, mas de ensinar os alunos a usá-lo de forma mais equilibrada”, argumenta Joice.
Ela destaca que a utilização de tecnologia continua sendo relevante em muitos aspectos do aprendizado, mas deve ser planejada e mediada. “Existe um momento certo para usar a tecnologia na educação, e o ambiente escolar deve ser um lugar de equilíbrio, onde as ferramentas digitais sejam complementares à experiência presencial”, afirma.
A nova legislação traz desafios, mas também a chance de cultivar uma geração mais consciente e conectada à realidade. O segredo para o sucesso está no diálogo entre escola, família e aluno, promovendo uma convivência saudável entre o mundo digital e o presencial. “O uso dos dispositivos eletrônicos precisa de uma parceria entre família e escola a fim de reforçar para crianças e jovens os exemplos positivos”, conclui.