No dia 11 de setembro é comemorado o Dia Nacional do Cerrado. A data foi instituída em 2003 com objetivo de conscientizar sobre a importância da conservação do segundo maior bioma da América do Sul. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, no entanto, apesar do reconhecimento de sua importância biológica, de todos os hotspots mundiais, o Cerrado é o que possui a menor porcentagem de áreas sobre proteção.
Para colocar em pauta a importância desse bioma, para esta e as futuras gerações, o Legado Verdes do Cerrado, uma reserva de 32,5 mil hectares com aproximadamente 80% da área composta por cerrado nativo no município de Niquelândia-GO, pertencente à CBA – Companhia Brasileira de Alumínio, apresenta suas contribuições para a conservação do Cerrado. A Reserva se destaca por aliar conservação, desenvolvimento sustentável e a nova economia integrada com atividades tradicionais.
O diretor da Reservas Votorantim, David Canassa, que administra a reserva do Legado Verdes do Cerrado e do Legado das Águas, em São Paulo, é um dos grandes defensores e divulgadores do Cerrado no Brasil. Para ele, que é especialista em Sustentabilidade, Gestão de Empresas e Meio Ambiente, o dia 11 de setembro é um marco fundamental para se mostrar a importância de conhecer para conservar. O Legado Verdes do Cerrado tem oferecido importantes contribuições, realizando projetos de pesquisas sobre as características do bioma e suas riquezas.
Conheça um pouco mais sobre o Cerrado a partir dos apontamentos realizados por David Canassa:
- Na sua opinião, por que o Cerrado não atrai tanto a atenção pública quanto a Amazônia e a Mata Atlântica?
David Canassa: A biodiversidade do Cerrado ainda precisa ser mais conhecida pela população brasileira. Muitas pessoas não tiveram a oportunidade de ter acesso às espécies mais comuns de plantas e animais nativos. Embora tenhamos a atenção muito mais voltada para a preservação da Amazônia, principalmente por conta das mudanças climáticas, temos que ter consciência de que o Cerrado é visto como o “celeiro do mundo” e a “caixa d’água” do Brasil. O Cerrado, por sua localização geográfica central, representa um elo entre os diversos biomas brasileiros, o que gera influências na biodiversidade e no clima do país.
- Quais são as principais características do Cerrado que devem ser conhecidas pela sociedade?
David Canassa: De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, do ponto de vista da diversidade biológica, o Cerrado brasileiro é reconhecido como a savana mais rica do mundo, abrigando 11.627 espécies de plantas nativas já catalogadas. A fauna tem aproximadamente 199 espécies de mamíferos conhecidas, a avifauna compreende cerca de 837 espécies e os números de peixes (1200 espécies), répteis (180 espécies) e anfíbios (150 espécies) são elevados. Os valores também são bastante altos para anfíbios e répteis e, de acordo com estimativas recentes, o Cerrado é o refúgio de 13% das borboletas, 35% das abelhas e 23% dos cupins dos trópicos. No Legado Verdes do Cerrado toda essa biodiversidade também pode conviver, de maneira harmônica, em um território com um agronegócio significativo que se beneficia dos recursos da natureza e contribui com a manutenção da fauna e flora do Cerrado.
- De que forma o Legado Verdes do Cerrado contribui com a valorização e conservação do Cerrado?
David Canassa: O Legado Verdes do Cerrado tem a missão de conservar a biodiversidade, desenvolver atividades da nova economia, aprimorar atividades da economia tradicional e contribuir para a realização de pesquisas científicas. O território recebe anualmente pesquisadores que buscam desenvolver investigações na reserva que, em muitos casos, têm resultados importantes que poderão ser aplicados pela comunidade científica global. Pesquisa em andamento no Legado, por exemplo, desenvolve um trabalho que busca gerar dados para calcular, de forma mais precisa, o carbono que a vegetação absorve e armazena tanto nas árvores como no solo. Com isso, será possível estimar os efeitos que a perda de uma área florestal de Cerrado pode ter para o meio ambiente e, consequentemente, para a sociedade. Denominada “Alometria no Cerrado”, a pesquisa é uma iniciativa do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG), a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e o Legado Verdes do Cerrado.
- Por que a Reservas Votorantim escolheu o Cerrado para desenvolver um projeto de conservação aliado a um projeto da nova economia?
David Canassa: Considerando a grande importância do Cerrado para a sustentabilidade socioambiental brasileira, criamos o Legado Verdes do Cerrado com o propósito de aliar a conservação da biodiversidade às atividades tradicionais e da nova economia. Além de ser um ambiente propício à realização de pesquisas científicas, o Legado Verdes do Cerrado também alia a sua atuação em prol da conservação do bioma Cerrado com atividades como o Centro de Biodiversidade do Legado Verdes do Cerrado, que produz mudas de espécies nativas para diferentes tipos de projetos de recuperação de ambientes no Cerrado, além de paisagismo urbano.
Outra iniciativa da nova economia realizada pelo Legado Verdes do Cerrado é o projeto de agrofloresta, que une a produção agrícola com o cultivo de espécies nativas, principalmente, o baru e o cajuzinho do cerrado, em uma área de 6,9 hectares. Implantado em 2018, o projeto abriga aproximadamente 2.000 árvores e continua em expansão.
- Você acredita que projeto de reprodução de mudas pode ajudar a conservar espécies ameaçadas do Cerrado?
David Canassa: Sim. Esse é o motivo pelo qual criamos o Centro de Biodiversidade do Legado Verdes do Cerrado, que tem capacidade para 200 mil plantas. No local são cultivadas 50 espécies diferentes, entre elas, aroeira, angico, baru, canela-de-ema, pitomba, guariroba, pequi e ipê. As plantas produzidas atendem à demanda de parceiros da Reserva, instituições e proprietários rurais, além de prefeituras em projetos de recuperação da flora e paisagismo urbano. O Legado conta também com um banco de sementes que reúne 2,9 milhões de amostras de 30 espécies para projetos de recuperação de nascentes e reflorestamento do Cerrado.
- O Cerrado é considerado o berço das águas. Existem pesquisas sobre os mananciais no Legado Verdes do Cerrado?
David Canassa: Desenvolvemos na Reserva diversas pesquisas nos rios e uma delas é pioneira na forma de análise. É um trabalho realizado em parceria entre o Legado Verdes do Cerrado, Universidade Federal de Goiás (UFG) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), e que apresenta dados relevantes para o monitoramento ambiental e uso sustentável dos recursos hídricos. O estudo científico de biomonitoramento é pioneiro no país ao utilizar um peixe – o zebrafish (Danio rerio), também conhecido como paulistinha – para avaliar a qualidade da água e sedimento dos rios. O projeto está sendo realizado no Rio Traíras, que nasce no território do Legado Verdes do Cerrado e que é manancial de captação para abastecimento público dos 46 mil habitantes da cidade de Niquelândia, no Norte de Goiás. Está localizado no trecho superior da bacia do Rio Tocantins e é um dos afluentes pela margem direita do Rio Maranhão. Juntamente com o Rio das Almas, formam o Reservatório da Usina Hidroelétrica (UHE) de Serra da Mesa, o maior do Brasil em volume de água, com 54,4 bilhões de m³.
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O Cerrado, em área contínua, incide sobre 11 estados de todas as regiões brasileiras, incluindo Goiás, além do Distrito Federal. Segundo o Ministério do Meio Ambiente é o segundo maior bioma da América do Sul, ocupando uma área de 2.036.448 km2, cerca de 22% do território nacional.
Além dos aspectos ambientais, o Cerrado tem grande importância social. Muitas populações sobrevivem de seus recursos naturais, incluindo etnias indígenas, quilombolas, geraizeiros, ribeirinhos, babaçueiras, vazanteiros e comunidades quilombolas que, juntas, fazem parte do patrimônio histórico e cultural brasileiro, e detêm um conhecimento tradicional de sua biodiversidade.
Mais de 220 espécies da flora têm uso medicinal e mais 416 podem ser usadas na recuperação de solos degradados, como barreiras contra o vento, proteção contra a erosão, ou para criar habitat de predadores naturais de pragas. Mais de 10 tipos de frutos comestíveis são regularmente consumidos pela população local e vendidos nos centros urbanos, como os frutos do Pequi (Caryocar brasiliense), Buriti (Mauritia flexuosa), Mangaba (Hancornia speciosa), Cagaita (Eugenia dysenterica), Bacupari (Salacia crassifolia), Cajuzinho do cerrado (Anacardium humile), Araticum (Annona crassifolia) e as sementes do Barú (Dipteryx alata).
Fonte: Ministério do Meio Ambiente.