A Chery encarou um 2016 ainda pior do que 2015 e eles têm plena consciência disso. “Estamos vivendo a fase da Fênix. Não chegamos a virar cinza, mas teremos que renascer”, afirmou o vice-presidente da Chery do Brasil, Luis Curi, em um encontro com jornalistas na última sexta-feira. Foram 5,4 mil veículos no ano passado, número que ficará próximo dos dois mil carros em 2016. Para renascer, a Chery apostará em uma onda de lançamentos: serão nada menos que três crossovers e dois sedãs. O primeiro a chegar será o Tiggo 2, crossover baseado sobre o Celer apresentado no Salão de São Paulo. A produção nacional começará em fevereiro e o lançamento será até abril ou maio de 2017.
A nova estratégia é investir no segmento que parece mais à prova de crise. “O investimento foi readequado e decidimos sair da carnificina do carro de entrada”, explicou o executivo. “Decidimos começar pelo Celer, mas vimos depois de um tempo que não foi a melhor escolha. O cliente emergente que ascendeu durante oito ano da classe D para C ou até acima desapareceu junto com a diminuição de crédito. Nessa hora a marca pesa muito, não tínhamos como competir com Fiat ou Volkswagen”, analisou Curi. O movimento em direção aos crossovers começou na China, onde os utilitários respondem por 42% de um mercado que chegará aos 27 milhões de carros em 2016.
Tiggo 2 – abril de 2017
Embora seja quase um Celer aventureiro, mais ou menos o que é o Honda WR-V para o Fit (confira as diferenças na nossa matéria), o Tiggo 2 promete ficar posicionado logo abaixo dos jipinhos concorrentes. “Aproveitamos o Salão para fazermos uma clínica, um laboratório para fazer um range de preços. E digo que vai ser menor do que falamos por lá”, adianta o executivo. Será o mais barato? “Será um dos mais baratos”, desconversou Curi. O JAC T5 é oferecido no site do fabricante por valores a partir de R$ 69.990 e o Chery deve custar abaixo disso, sempre equipado com o mesmo conjunto de motor 1.5 Acteco flex de 113 cv e câmbio manual de cinco marchas usado pelo Celer nacional. As dimensões são pouco maiores do que as do hatch que lhe deu origem, são 4,20 metros de comprimento (cerca de sete centímetros a mais) e 2,55 metros de distância entre-eixos (três centímetros extras.
Arrizo 3 – agosto de 2017
Confirmado para o Brasil, o Arrizo 3 deve chegar na mesma época do Arrizo 5, sedã médio também exibido no motorshow paulista e já confirmado para o mercado nacional na ocasião, quando também foi anunciado o Tiggo 2 brasileiro. Trazido da China, o Arrizo 3 será um concorrente para os médios-compactos, exemplos do Renault Logan e Chevrolet Cobalt. O modelo tem 4,42 metros de comprimento e 2,55 metros de entre-eixos e oferece 502 litros de volume no porta-malas. A motorização fica por conta do mesmo Acteco 1.5 flex dos companheiros. A montagem nacional do Arrizo 3 dependerá da sua aceitação no mercado.
Arrizo 5 – agosto de 2017
Concorrente do Toyota Corolla e grande elenco, o Arrizo 5 chegará como importado até setembro do ano que vem, mas será montado em Jacareí em um segundo momento. Em mercados da América Latina, o três volumes é equipado com o mesmo 1.5 dos companheiros compactos, mas tem a comodidade extra de contar com o câmbio CVT de variação contínua, capaz de simular sete marchas no modo sequencial, algo que não é oferecido pelo JAC J5. Ao contrário do Tiggo 2, o Arrizo faz parte da nova geração do fabricante e tem a nova base comum a outros carros da marca, que deseja unificar as plataformas e chegar a apenas três variantes até 2024. São 4,53 metros de comprimento e 2,65 metros de distância entre-eixos e o porta-malas comporta 430 litros. O estilo também é bem mais atraente do que do primo menor, algo compartilhado pelos demais Chery de nova geração. “A nova linha de estilo foi fruto de um investimento em designers consagrados. Fizemos a limpa no departamento de design da Opel”, brincou o vice-presidente.
Tiggo 7 – março de 2018
Em termos de ousadia, o Tiggo 7 é o crossover mais chamativo da Chery. “O Tiggo 7 já está dentro da nossa política nova de automóveis”, afirmou o executivo. Com montagem nacional prevista para março ou abril de 2018, o médio terá porte semelhante ao do Hyundai ix35 por um preço bem inferior. Na prática, ele é o substituto do Tiggo 5 (nunca trazido para o Brasil, a despeito dos planos de nacionalização), o sucessor do antigo Tiggo, detraído por ser uma cópia do antigo Toyota RAV4. Na China, o crossover médio tem motor 1.5 turbo de 152 cv, associado a uma caixa de seis marchas e dupla embreagem, ou um 2.0 aspirado de 122 cv e câmbio CVT – esperamos que o primeiro seja o trazido para o mercado tupiniquim. O Tiggo 7 é o primeiro Chery construído sobre a nova plataforma modular T1-X. A Chery se orgulha de afirmar que a nova arquitetura foi desenvolvida com a ajuda dos companheiros de jointventure Jaguar Land Rover. São 4,50 metros de uma ponta a outra e 2,67 m de entre-eixos, mas outras variantes serão feitas sobre a base, entre elas um utilitário com estilo de cupê.
Tiggo 9 – agosto de 2018
Falando na nova plataforma T1-X, o Tiggo 9 será um dos maiores veículos feito sobre ela. O futuro SUV terá opção de sete lugares e promete vir equipado com motor mais forte. O posicionamento de preços pode deixá-lo como uma das raras opções com três fileiras de assentos abaixo dos R$ 100 mil. Seja como for, o Tiggo 9 faz parte da unificação de arquiteturas em uma única base modular que atenda vários tamanhos, uma racionalização que também será aplicada pela Chery do Brasil.
Desventuras em série marcaram Chery e outras chinesas
“Como todo plano de longo prazo, a crise faz parte, especialmente em um projeto dessa envergadura”, explica Curi. O investimento na fábrica e na nacionalização inicial da linha Celer foi de R$ 1,2 bilhão. “Quando lançamos a pedra fundamental em 2011 (NR: da fábrica de Jacareí), fiquei sabendo que mexeriam no IPI, mas imaginamos que seria apenas um desconto para os fabricantes nacionais. Em setembro, fomos surpreendidos com o aumento de 30 pontos no IPI”, lamentou Curi.
Outros fabricantes chineses sofreram ainda mais com o aperto, que o diga a JAC Motors. Mas a Chery foi beneficiada pela estrutura estatal, embora, por outro lado, isso tenha atrasado um pouco a mudança de rumo. “Nas estatais, as decisões demoram um pouco para acontecer, passam por várias etapas e comitês. O que eu mais ouço é tome conta direitinho do suado dinheiro do povo chinês.
Sem papas na língua, Curi afirmou que 2016 foi uma espécie de “ano sabático”, onde Jacareí praticamente não produziu carros. “A pressão já não é tão grande e podemos esperar por resultados. Só que vai demorar, achamos que vamos chegar a capacidade de 50 mil carros anuais apenas em 2021. Isso se o Brasil ajudar”, frisa Curi. “Já fui categórico, o resultado não vai chegar em 2017 para a Chery, que vai romper a barreira dos dois milhões de carros na China, mas que terá uma fatia de dez mil carros no Brasil. A estratégia é ter a menor perda possível, cada carro vendido neste ano foi com prejuízo no porta-luvas”, revela o vice-presidente.
“A Lifan apostou de cara no X60, não adianta chorar sobre óleo derramado. Para nós é bom ter outra chinesa vendendo. Vamos cada vez mais pegar a ginga e o DNA do mercado brasileiro. Daqui para a América do Sul, onde a maioria dos países prefere comprar carros vindos do Brasil do que da China. Temos autorização e vamos começar a exportar o Tiggo 2 no ano que vem”, adianta Curi. Continuam em linha o subcompacto QQ, a linha Celer hatch e sedã e a fábrica de Jacareí, cujos 500 trabalhadores estão em disponibilidade (lay off) começará a funcionar novamente no dia 2 de janeiro. Lembrando que a capacidade instalada comportará facilmente a produção escalonada dos novos modelos nacionais.
A rede também pagou um preço alto. “Todas as marcas perderam concessionários, mais de mil fecharam em 2015 e outras centenas em 2016. Tínhamos 108 lojas, baixamos para 37 e até o final do ano outras 15 fecharão as portas”, lamenta Curi, que promete uma reestruturação com nova logotipia até o primeiro trimestre. Mais importante do que isso foi o anúncio do lançamento de um novo serviço financeiro da Chery do Brasil, feito em associação com o Santander.