Co-Dependentes também precisam de ajuda!

Na atualidade, os assuntos em torno da temática “drogas” estão em alta. Muito se fala sobre as consequências que a dependência química causa ao usuário, como problemas de saúde física e emocional, problemas sociais, problemas com a lei, entre outros. Mas, sabe-se também que as pessoas envolvidas com usuários, especialmente familiares e amigos, também são afetadas de várias formas.

O II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (II LENAD\2014) estimou que existe na população cerca de 5,7 % de brasileiros que são dependentes químicos, representando mais de 8 milhões de pessoas. Este levantamento também estimou que os domicílios no Brasil são compostos por uma média de 3,5 pessoas. Tendo em vista estas informações, estima-se que pelo menos 28 milhões de pessoas vivem hoje no Brasil com um dependente químico. Os poucos estudos que se tem sobre a família e o dependente químico demonstram evidências consistentes do impacto causado aos familiares. O conhecimento do perfil da família do dependente químico, bem como do impacto que esta condição trás para todos é de fundamental importância.

Os codependentes são, na maior parte dos casos, pais ou cônjuges que vivem em função da pessoa dependente, assumindo e responsabilizando-se por todos os comportamentos problema desta e preocupando-se excessivamente por seu bem-estar. Não percebe que cuidando excessivamente do outro, seus objetivos e necessidades acabam sendo esquecidos por ele mesmo. À medida que a pessoa codependente abandona suas necessidades e objetivos ao longo da vida, ela entra num processo de abandono de si mesma e de auto-destruição. Como esse padrão ocorre a longo prazo, normalmente durante vários anos, resulta em muitas perdas. Isso tudo pode desencadear alguns danos para a saúde da pessoa, seja no aspecto físico através de doenças ou no campo psicológico.

O tratamento dos codependentes deve ser sistêmico, pois se a família falhar o usuário falhará também. Hoje é divulgado e se faz com muita seriedade o tratamento nos dependentes químicos, mas não há divulgação, não há seriedade no tratamento com os codependentes. Claro que existe um tratamento, mas, ainda, as famílias não procuram o caminho certo, por vergonha, por falta de conhecimento, por orgulho. Por isso, os codependentes tem que serem levados a sério, por eles próprios e também pela sociedade. A partir do momento que se sente o amor compulsivo, amor excessivo, amor sem limites, tem que haver uma troca pelo amor que construtivo, amor saudável, que faz bem. Psicólogos e psiquiatras têm vários exemplos em seus consultórios de familiares que chegam a ir em lugares perigosos, como em bocas de fumo, por exemplo, comprar a droga para seu ente querido e assim o proteger daquele perigo. É também comum o codependente abandonar suas próprias atividades de trabalho, estudos ou vida social, da mesma forma como acontece com a pessoa dependente em decorrência de seu próprio uso de drogas. Os dois acabam por ter pouco senso crítico e vivem em uma espécie de estado de negação do problema.

O codependente precisa perceber e reconhecer que seu relacionamento com o dependente químico é patológico, e que seus esforços em ajudá-lo e protegê-lo estão fadados ao fracasso se ele não fizer um tratamento. Ao tratar a codependência, o familiar perceberá que não é responsável pelo uso de drogas do dependente químico e que a tão desejada sobriedade depende deste. Em muitos casos, o auxílio ao dependente químico inicia com o tratamento dos familiares. E estes, ao compreenderem e tratarem a co-dependência têm grandes chances de, com uma nova postura, auxiliarem o dependente químico de maneira efetiva.

Quando o codependente toma conhecimento da sua situação, resgata o primeiro elo de sua identidade, precisa, ainda, reavaliar seus sentimentos, suas necessidades, estabelecer limites, sem nunca abandonar a ajuda firme e segura que deve prestar ao dependente químico, sendo primordial, frequentar grupos de mútuo-ajuda como AL-ANON, NAR-ANON e Amor-Exigente, ou outros, onde possa e deve compartilhar suas histórias e, ainda, caso necessário, buscar ajuda de um especialista ou algum tipo de aconselhamento psicológico.

Assim, torna-se imprescindíveis a presença e a atuação da família no tratamento de dependentes químicos, uma vez que essa vivência é influenciada e influencia o assunto em foco. A prioridade deve ser a prevenção, evitando que se abra a porta do mundo das drogas.

(*) Cilene Queiroz, escritora, bióloga, MSc em Sistema de Produção em Agronomia

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