Na maioria das áreas do interior do Brasil, uma das características típicas de parte do outono e principalmente do inverno é o predomínio de ar seco, o que dificulta a ocorrência de chuva.
Nas Regiões Sul e Sudeste do país, e também em parte do Centro-Oeste, até ocorrem fortes pancadas de chuva por causa da passagem de frentes frias, mas são passageiras e a chuva não persiste por muitos dias.
Depois da passagem de uma frente fria, é muito comum que uma massa de ar mais frio e seco perdure por alguns dias, novamente dificultando a ocorrência de chuva. Assim, de modo geral, na maior parte do Brasil inverno é sinônimo de tempo seco.
A quantidade de vapor d’água que o ar é capaz de reter antes dele condensar (ou seja, se transformar em gotículas d’água e formar nuvens, nevoeiros ou chuva) depende da temperatura do próprio ar:
Quanto mais quente for, maior a quantidade de vapor d’água que o ar suporta sem condensar.
Quando o ar condensa e forma nevoeiro (aqui próximo à superfície) ou uma nuvem (em alturas mais elevadas), a umidade relativa do ar é 100%, pois ele já está saturado, ou seja, já tem todo o vapor d’água que pode conter naquela temperatura.
Conforme o ar esquenta, sem a adição de mais vapor d’água, a quantidade de vapor que o ar comporta antes de condensar também aumenta e, portanto, a umidade relativa do ar cai.
É exatamente este o caso da maior parte do país durante o inverno: com chuva rarefeita e longos intervalos de estiagem, cada vez há menos vapor d’água disponível na atmosfera. Com poucas nuvens, a temperatura do ar próximo à superfície se eleva e “aguenta” cada vez mais vapor d’água que, no entanto, não surge de lugar algum.
Assim, nos períodos mais quentes daqueles dias com pouca ou nenhuma nebulosidade a umidade relativa do ar “despenca”.
Como ar seco afeta o nosso corpo?
O ar seco causa incômodo nos olhos, nariz, lábios e no trato respiratório, por ressecar as mucosas. Mucosas ressecadas são mais sensíveis e por isso ficam sujeitas a irritações, principalmente se as coçarmos.
Mucosas ressecadas também são mais suscetíveis a microferidas, que as deixam mais vulneráveis à penetração de vírus e bactérias, que podem desenvolver infecções de intensidade variada. Além disso, a maioria dos vírus e bactérias sobrevivem por mais tempo em ambiente seco.
Por isso no inverno o contágio de gripes e resfriados é mais comum. Com o ar seco, infecções oportunistas também são mais comuns, como conjuntivites. As doenças alérgicas do trato respiratório também são facilitadas e ambientes mais poeirentos incomodam bastante o nariz e os olhos.
Com temperaturas mais elevadas e ar bastante seco, como é o caso de boa parte do interior do país durante o inverno, a sudorese é facilitada e se perde facilmente maior quantidade de líquidos pela transpiração. Desta forma, ao praticar atividades físicas em ambientes secos o risco de desidratação é elevado, causando variações na pressão sanguínea, variação do ritmo cardiorrespiratório, eventuais dores de cabeça e, em casos mais severos, disenteria, desmaios, etc.
Ar seco e poluição
Em ambientes com baixa umidade relativa do ar e alta incidência de luz solar, não só a dispersão de poluentes é dificultada, piorando a qualidade do ar, mas algumas substâncias químicas interagem com a luz do sol e se convertem em ozônio, um gás extremamente tóxico próximo à superfície e que agrava quadros de irritação na pele e nas mucosas.
Pessoas imunodeprimidas, geralmente as que fazem tratamento contra câncer, que se recuperam de cirurgias, etc., são bastante sensíveis aos efeitos nocivos do ozônio troposférico (este que se forma aqui perto da superfície, por causa da poluição e da luz do sol em ambientes secos, não o ozônio estratosférico, há vários quilômetros de altura, que nos protege da radiação solar).
Como evitar os efeitos nocivos do ar seco?
Para se precaver dos efeitos nocivos à saúde provocados pela baixa umidade relativa do ar é necessário manter o corpo hidratado adequadamente.
A hidratação pode ser feita através da ingestão de líquidos, principalmente ao praticar exercícios físicos ao ar livre.
É interessante umidificar os olhos com colírios umectantes, sobretudo se estiver usando lentes de contato.
Usar umectantes labiais (manteigas de cacau, batons úmidos) também ajuda. Também é aconselhável evitar se expor a ambientes assim tão secos, sobretudo para pessoas imunodeprimidas ou com histórico de complicações respiratórias.
Umidade dentro de casa
O nível de umidade no ar varia muito dentro da nossa casa. Todas as coisas retêm uma certa quantidade de umidade. Há lugares nas casas que naturalmente concentram mais umidade, como a cozinha, banheiros, lavanderia.
Os cômodos da casa que recebem mais sol ao longo do dia e são mais ventilados concentram menos ar úmido e são naturalmente mais secos.
Outro lugar que pode concentrar muito umidade são os armários! Então, lembre-se de deixar as portas abertas um pouco para renovar o ar deste ambiente que fica quase sempre fechado.
Em um dia frio ou com chuva, a tendência natural é deixar a casa toda fechada por muitas horas. Isto faz com que a umidade aumente dentro de casa. Imagine como o ar dentro de casa fica mais úmido num dia frio, quando as pessoas tomam banho, quando estamos cozinhando!
Manter algumas janelas abertas ou semi-abertas, por um certo tempo para criar a corrente de circulação de ar dentro de casa, para ventilar, é importante para ajudar eliminação do excesso de umidade nos cômodos da casa.
Maior ventilação
Também é interessante aumentar a ventilação dos ambientes fechados, para dificultar a transmissão de patógenos por via aérea. Há aparelhos umidificadores de ar, que se usados adequadamente, conforme as instruções de fábrica, também deixam um ambiente fechado mais confortável e relativamente mais “seguro”.
No entanto, é bom evitar a disposição de recipientes com água pela casa, especialmente próximo a tecidos e espumas (como colchões e travesseiros), porque conforme ocorre o entardecer e a noite avança, as temperaturas frequentemente declinam rapidamente e, então, a umidade do ar se eleva.
Com fontes de água líquida por perto, em ambientes fechados, rapidamente a umidade relativa do ar naquele local fica próxima ao ponto de saturação, o que favorece a dispersão de fungos e bolores, cujos prejuízos à saúde são tão ou mais severos do que os causados pelo ar mais seco.
Em casos de desidratação mais severos, auxílio médico pode ser necessário.
Com colaboração de Leandro Bellato, meteorologista