Como educar na adversidade?

Educadora Ivone Boechat – Foto: Arquivo Pessoal

Educadora Ivone Boechat – Foto: Arquivo Pessoal

A criança vê no celular, no tablet, no smartphone, no whatsapp, no twitter, na TV, no jornal, que o político tal foi preso por crimes os mais diversos, que o padre está sendo investigado, que o pastor está foragido, que o professor cometeu um ato abominável, que o pai ou a mãe estão na mira da polícia por isto ou por aquilo… E lá vai o resoluto professor para a sala de aula, cansado de guerra, com os ouvidos atulhados de promessas centenárias de melhoria de vida ou de mais recursos para fazer sua grande obra… e mesmo assim insiste em concorrer com todo tipo de informação do mal, para ensinar que o mundo vai melhorar, que a vida é linda, que o Brasil tem jeito.

Mal pago, nada reconhecido, o professor sabe muitíssimo bem que o sucesso da aprendizagem depende muito dele; e como se esforça! A maioria aprendeu a fazer milagre! Se depender de alguns livros que se adotam por aí o aluno vai sair da Escola falando errado a própria língua, mais incrédulo, menos crítico, com paupérrima “cultura”. Um eleitor pronto pra uso. Aí, se ele vir alguns políticos na comissão de ética ou algum palhaço de circo na comissão de educação, vai aplaudir pela inclusão. Inclusão do que? Inclusão criminal; humorística; ignorância; incompetência; corruptora? O eleitor produzido numa escola de 5ª categoria vai aplaudir tudo.

O educador não é um elefante; ele sabe a força que tem. E se nesse país ainda há alguma resistência na guerra de foice no escuro para não nivelar o Brasil, abaixo da crítica internacional, é resultado do trabalho dos soldados de ferro que resistem, educam, ensinam corretamente. Alguém, além do educador, está preocupado? É muito triste ver um país administrado e avaliado só pelo saldo de cifrões arrecadados do suor de professores, médicos, garis, taxistas, enfim, profissionais que contribuem com o imposto-salário. Todo mundo sabe que o saldo da balança comercial e o investimento na área social não falam a mesma língua. Nem se conhecem. O Brasil só é comparado ao primeiro mundo pela riqueza que acumula nos bancos.

Que o educador continue a se dedicar, noite e dia, sem se deixar abater pelo resultado da política econômica, onde as pessoas são tratadas estatisticamente como moscas mortas no papel pegajoso das promessas de palanque. Parece até que não é preciso governar, mas sim não deixar o comboio do partido se atolar e perecer nos incrementos que forram o curral eleitoral. É uma festa!

A juventude está atônita à procura de valores que respondam às ansiedades deste início de século. Há uma política pública e privada de vida muito mal estruturada, porque se dá muito mais realce às coisas negativas. A mentira está de sapato alto, com batom da marca “boato”, espalhando o pó de mico da desconfiança pra todo lado. É evidente que o desânimo se instale e pode corroer as expectativas de esperança das pessoas, de qualquer idade. Mãos à obra, educador!

Imerso nas comunicações e nas contaminações das poeiras abomináveis de um mundo armado até às estrelas, a educação dada pelo pessimista não pode invadir o território do sonho infantil com idéias apocalípticas.

Oxalá que se possa trabalhar com mais sensibilidade na educação, respeitando sonhos, implantando valores para que os bebês que estão indo de fraldas para essas escolas, cheios de fantasias, tenham o direito de descobrir este Brasil, tão lindo.

Professor, não espere reconhecimento pelo seu trabalho! Faça o melhor para você se reconhecer como educador na sua obra! “Então abre os ouvidos dos homens, e lhes sela a sua instrução…” Jó 33:16

* Ivone Boechat é consultora em educação

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