Como podemos de fato prevenir o câncer?

Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica traz dicas de prevenção considerando hábitos regionais.

O câncer é uma doença causada por mutações genéticas. Por muito tempo, acreditou-se que essas mutações tinham origem em falhas congênitas e que, por isso, não seria possível interferir ou evitá-las. Hoje, com os avanços das pesquisas, sabemos que 30 a 50% dos casos de câncer podem ser prevenidos a partir de mudanças no estilo vida, como não fumar, preferir alimentos naturais, manter uma dieta equilibrada, se vacinar, reduzir o consumo de bebidas alcoólicas e praticar atividade física.

Apesar dos cuidados serem conhecidos, o medo ainda não é suficiente para a mudança de hábito. Pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, com 1.500 pessoas em todo o país, em 2017, apontou que metade das pessoas ouvidas não fazem exercício físico e uma em cada quatro não vê a obesidade como problema relacionado ao câncer.

Segundo o Dr. Duílio Rocha Filho, oncologista da SBOC, ao contrário do caso do cigarro em que a relação com câncer de pulmão é direta, os impactos do estilo de vida na saúde são pouco palpáveis para a maioria das pessoas, pois é muito difícil dizer com precisão o que originou o tumor; se foi o consumo de álcool ou de carnes processadas, por exemplo. “Estamos falando de uma doença com causas multifatoriais. Por isso, é extremamente importante investir em prevenção e campanhas de conscientização, além de ajudar a população a buscar soluções mais saudáveis no dia a dia, de acordo com a necessidade e perfil de cada região”, explica.

O câncer de estômago é o segundo tipo mais comuns em homens nas regiões Norte e Nordeste. Em parte, esse aumento é causado pela subnotificação histórica da doença em alguns estados, mas o comparativo nacional ainda é significativo. Enquanto a mortalidade nacional caiu 50% entre 1979 e 2017, acompanhando a tendência mundial, na região Nordeste o índice aumentou 64% no mesmo período. “Tradicionalmente são regiões em que os pratos típicos costumam ser compostos por alimentos conservado em sal ou muito condimentado, com presença constante de carne, mas pouco espaço para vegetais. Em excesso, são fatores de risco, mas é sim possível encontrar um equilíbrio sem desconectar as pessoas da cultura e dos hábitos locais”, argumenta o especialista.

Com o objetivo de disseminar informações confiáveis para a população, a SBOC produziu um guia de prevenção do câncer. Veja abaixo algumas dicas para facilitar a incorporação de hábitos mais saudáveis no dia a dia e explicações que tornam os riscos mais palpáveis:

Se você fuma, sempre é tempo de parar

De acordo com o Dr. Duílio, o consumo de tabaco, especialmente inalado, é responsável por até 90% dos casos de câncer de pulmão, além de responder pela grande maioria dos casos de câncer de cabeça e pescoço, esôfago e bexiga. Formas alternativas, como cigarro eletrônico e narguilé, não reduzem os riscos. Os benefícios são inúmeros e podem ser reconhecidos já algumas horas após o último cigarro. Se encontrar dificuldade para abandonar o hábito, o que é muito comum, não hesite em procurar ajuda profissional.

20 minutos de caminhada por dia já faz diferença na prevenção de câncer

A OMS recomenda a prática de 150 minutos semanais de atividade física moderada, como uma caminhada até o mercado ou restaurante, ou 75 minutos de atividade vigorosa, como partidas de futebol, corrida e aulas de dança.

“A prática de atividade física melhora a imunidade do corpo e reduz a produção de mediadores inflamatórios, fenômenos que minimizam as mudanças celulares e, consequentemente, os riscos de desenvolvimento do câncer. Estudos apontam que a atividade física regular reduz de fato o risco de desenvolvimento de câncer de mama, cólon e endométrio”, explica o oncologista.

Em vez de mudanças drásticas, faça pequenas substituições no mercado e em casa

“Além de evitar alimentos processados, entendemos que uma alimentação balanceada envolve o consumo de alimentos ricos em fibras, porções diárias de vegetais e frutas (cinco ou 400g por dia) e redução do consumo de carne vermelha (três porções ou 500g por semana). No caso das cidades litorâneas do Nordeste, por exemplo, é mais fácil trocar carnes salgadas por peixes da sazonalidade, que são mais baratos e abundantes”, argumenta o Dr. Duílio.

A dica da sazonalidade também vale para o consumo de vegetais e frutas, pois são alimentos que necessitam uma carga menor de agrotóxicos. Ao chegar em casa, a orientação geral é lavar os produtos por um minuto com esponja e detergente neutro, podendo também tirar as folhas externas das verduras e descascar frutas de casca fina.

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